30 janeiro 2006

A nova (des)ordem mundial
(ou a nova ordem norte-americana)

Mas há problemas: a vocação de tutor do universo, ou xerife da paz universal, estabelece uma contradição com o processo de globalização!

O pós-guerra fria legou/determinou à humanidade a convivência com uma superpotência remanescente, qual seja, os Estados Unidos, desde já auto-intitulada a “polícia do mundo e guardiã/responsável pela ampliação do regime democrático e modernização dos países do 3º Mundo” (interprete-se como quiser, mas preferencialmente tudo que for pró América do Norte!)
Esta hegemonia está assentada sobre tres pré-requisitos/princípios, quais sejam: mercados livres, que devem se unificar gradativamente e sob regência legal de organismos internacionais; eleições livres, que elegem a democracia como modelo universal; e direitos humanos, que confirmam o direito natural moderno e consagram os princípios iluministas e indicam a hipótese d’o cidadão universal.
Como a ONU - Organização das Nações Unidas têm-se mostrado incapaz e incompetente para gerenciar os conflitos e compreender certos desígnios atuais e universais(leia-se, novamente, interesses norte-americanos), e, igualmente, a União Européia é uma incógnita, haja vista suas diferenças internas e seculares, resta aos EUA a tal gerência universal.
Mas há problemas: a vocação de tutor do universo, ou xerife da paz universal, estabelece uma contradição com o processo de globalização! Como conciliar um discurso pretensamente pacifista e universalista, utopicamente distribuidor de progresso e renda, com as diárias práticas intervencionistas de natureza econômica e militar, com visíveis interesses no controle dos recursos naturais e tutela política de países periféricos, a exemplo do Oriente Médio?
Esta é uma equação sem solução. Não é à toa que o terrorrismo cresce, aliás, na proporção das intervenções ou dominações incompatíveis com a atualidade/discurso.
As leis da selva
(Bombas em Londres)
“(...) precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário (...) entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva”.
Robert Cooper, diplomata ingles

Faz dois ou três anos, o diplomata inglês Robert Cooper, guru da política externa inglesa, afirmou que “(...) precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário (...) entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva”.
Voltando no tempo: sabem todos - o jornalismo investigativo confirmou - que Tony Blair e George Bush utilizaram-se de argumentos fraudados para garantir a aprovação legislativa e justificativa popular para atacar o Iraque e o Afeganistão.
Rescaldo final: não somente pela tragédia da situação atual no Iraque, como também pelo conjunto do pós colapso das torres gêmeas novaiorquinas (WTC), as bombas em Madrid, e agora as bombas londrinas, a verdade é que ambos – Bush e Blair – ainda não convenceram seus súditos sobre a natureza daquelas operações militares e suas conseqüências, presentes e futuras.
Ou então, dito de outro modo, avocada a “filosofia” do autor supracitado, o povo americano e britânico – o espanhol já mandou José Maria Aznar para casa – quer saber mais detalhes e fundamentos sobre como é uma lei e uma ética para os outros. E de como o povo da selva poderá reagir.

Deu pra ti, Fidel !

“O que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno na terra foram precisamente as tentativas para transformá-lo num paraíso.”

Friedrich Hoelderlin

Uma das passagens mais comovedoras da história mundial recente, foi, sem dúvida, a derrubada da ditadura cubana de Fulgêncio Batista, perpetrada por um grupo de jovens idealistas, liderados por Fidel Castro (1959).

Fraudadas as expectativas de justiça e igualdade pelos tiranos europeus, o sonho do socialismo renovava-se na pequena ilha, até então lugar de veraneio e exploração comercial norte-americana.

Rapidamente, Fidel e Guevara, companheiros de primeira hora, transformaram-se em ícones mundiais da juventude e das elites intelectuais, ainda traumatizadas pelos efeitos das guerras recentes e desejantes de um período de paz e justiça social.

Correu o tempo, mais de 40 anos, o mundo experimentou diversas mudanças, sociais, políticas, econômicas e culturais, principalmente. Entre estas mudanças, as mais significativas foram a desconstituição da União Soviética e a queda do Muro de Berlim, sepultando, definitivamente, a idéia do partido único e o dirigismo estatal; do comunismo, enfim.

Mas o tempo parara em Cuba. Apesar das inúmeras desculpas, tipo “embargo econômico, extinção do “padrinho” soviético, o perigo norte-americano”, perpetrou-se uma ditadura personalista e reacionária, a exemplo dos decadentes/decaídos modelos europeus, embora mantido o discurso juvenil e a pretensão socializante.

Descontado o regime e o estilo jurássico, ainda assim persistia/persiste em alguns meios políticos e intelectuais uma tolerância com Fidel, por conta de indicadores de educação e saúde do país; no entanto, a realidade é que faz muito tempo, mais de 20 anos, que as ilusões perderam-se em meio às atrocidades e abusos cometidos em nome do regime político.

Agora, haja vista a notícia do fuzilamento de três dissidentes/fugitivos do regime, Cuba e Fidel voltam às manchetes, perdendo seus últimos simpatizantes/sonhadores.

Como ensina o poeta alemão Friedrich Hoelderlin(1770-1843), escolado nas experiências de antanho: “o que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno na terra foram precisamente as tentativas de transformá-lo num paraíso”.

EUA: um país fora-da-lei

“...haja vista a sofisticação tecnológica e a natureza global das relações sócio-econômicas, nada se compara, em todos os tempos, ao atual estágio do poder norte-americano. Para o bem e para o mal.”

O comentarista internacional Newton Carlos relacionou no semanário Pasquim(09-04-2002), uma vasta relação de ações e reações norte-americanas contrárias aos movimentos e interesses das demais nações, relacionados a tratados, acordos, convenções e pactos de interesse mundial. Vejamos alguns pontos importantes:
- Tratado de proibição de desenvolvimento e fabricação de foguetes anti-foguetes(1972): EUA abandonam o tratado que previa o controle desarmamentista;
- Protocolo de Kyoto-contenção de emissão de gases e aquecimento planetário(1997): EUA ignoram as metas e fixam índices e metas por sua conta, à luz de seus interesses econômicos;
- Convenção sobre armas químicas e biológicas(1972): EUA não abrem as suas instalações e limita-se a acusar um conjunto de países, o tido “eixo do mal”;
- Tratado para acabar com o tráfico ilegal de armas leves e banimento das minas terrestres(1997): EUA renegam-no desde o primeiro momento;
- Tratado de banimento total dos testes nucleares: EUA não assinam.
- Resolução da ONU que determina o acesso - a custos reduzidos – a remédios anti-AIDS: EUA são contrários em apoio às multinacionais de medicamentos
- Espionagem econômica e vigilância eletrônica: EUA se recusam a discutir as denúncias do Parlamento Europeu sobre um denominado “sistema Echelón – rede planetária de “mil olhos” fixados em telefones, faxes e e-mails”;
- Conferência da ONU sobre racismo na África do Sul: EUA não comparecem;
- Programa Internacional de Energia Limpa: EUA ignoram, inclusive contrariamente a posição dos demais países do G7;
- Fim do Embargo contra Cuba: EUA ignoram a 10ª Resolução da ONU.

O comportamento norte-americano, sua arrogância, sua soberba, são típicos dos impérios, nações ou povos que em determinado momento histórico sobrepõem-se aos demais pela força de sua economia ou de suas armas, “perpetuando” seu poder, sua influência, até limites insuportáveis.
Logo após o ataque ao World Trade Center-WTC, tratei diversas vezes desta temática atualíssima que é a questão do imperialismo. Surge, naturalmente, o debate sobre a dimensão comparativa dos impérios de hoje(EUA) e os de outrora(japonês-russo-romano). Haja vista a sofisticação tecnológica e a natureza global das relações sócio-econômicas, nada se compara, em todos os tempos, ao atual estágio do poder norte-americano. Para o bem e para o mal.
EUA: um país fora-da-lei - II
“...haja vista a sofisticação tecnológica e a natureza global das relações sócio-econômicas, nada se compara, em todos os tempos, ao atual estágio do poder norte-americano. Para o bem e para o mal.”

Há exatamente um ano, nesta mesma coluna, publiquei uma relação de ações e reações norte-americanas contrárias aos movimentos e interesses das demais nações, relacionadas a tratados, acordos, convenções e pactos de interesse mundial. Vejamos novamemente:
1-Tratado de proibição de desenvolvimento e fabricação de foguetes anti-foguetes(1972): EUA abandonam o tratado que previa o controle desarmamentista;
2-Protocolo de Kyoto-contenção de emissão de gases e aquecimento planetário(1997): EUA ignoram as metas e fixam índices e metas por sua conta, à luz de seus interesses econômicos;
3-Convenção sobre armas químicas e biológicas(1972): EUA não abrem as suas instalações e limita-se a acusar um conjunto de países, o tido “eixo do mal”;
4-Tratado para acabar com o tráfico ilegal de armas leves e banimento das minas terrestres(1997): EUA renegam-no desde o primeiro momento;
5-Tratado de banimento total dos testes nucleares: EUA não assinam.
6-Resolução da ONU que determina o acesso - a custos reduzidos – a remédios anti-AIDS: EUA são contrários em apoio às multinacionais de medicamentos
7-Espionagem econômica e vigilância eletrônica: EUA se recusam a discutir as denúncias do Parlamento Europeu sobre um denominado “sistema Echelón – rede planetária de “mil olhos” fixados em telefones, faxes e e-mails”;
8-Conferência da ONU sobre racismo na África do Sul: EUA não comparecem;
9-Programa Internacional de Energia Limpa: EUA ignoram, inclusive contrariamente a posição dos demais países do G7;
10-Fim do Embargo contra Cuba: EUA ignoram a 10ª Resolução da ONU.
Não foi surpresa, agora, pois, a impaciência norte-americana com os representantes da ONU, encarregados de fiscalizar o armamento iraquiano, resultando, novamente, em desrespeito às convenções internacionais. Ficam claras, também, as razões da saída do embaixador brasileiro, José Maurício Bustani – Diretor Geral da Organização para Proibição de Armas Químicas, pressionado a pedir demissão pelos EUA.
O comportamento norte-americano, sua arrogância, sua soberba, são típicos dos impérios, nações ou povos que em determinado momento histórico sobrepõem-se aos demais pela força de sua economia ou de suas armas, “perpetuando” seu poder, sua influência, até limites insuportáveis.
Haja vista a sofisticação tecnológica e a natureza global das relações sócio-econômicas, nada se compara, em todos os tempos, ao atual estágio do poder norte-americano. Para o bem e para o mal.
EUA: um país fora-da-lei – III

“toda esta luta e porfia para tornar o mundo melhor constitui um grande engano, não porque não seja uma boa coisa melhorar o mundo, se soubermos como fazê-lo, mas porque porfiar e lutar é a pior maneira que poderíamos escolher para fazer alguma coisa.” - Bernard Shaw


As periódicas e catastróficas incursões norte-americanas por territórios estrangeiros, a pretexto de “ensinar democracia e proteger a galáxia do mal”, têm causado milhares de mortes, mas sobretudo a morte de inocentes, notadamente crianças e mulheres.
“Todo mundo” com mínimo de lucidez e perspicácia sabia no que ia dar a dita invasão do Iraque. Ou alguém pensou que não haveria reação? Evidentemente que qualquer país, qualquer população, ainda que dividida por facções internas, mesmo fratricidas, não tolerará a invasão estrangeira.
A ONU, que fez corpo mole e jogo de cena em relação a decisão e invasão dos EUA, seu principal acionista, trata de envolver-se no pós-guerra e levar à imolação seus funcionários, a exemplo da morte do diplomata brasileiro Sérgio Vieira de Mello.
O historiador Voltaire Schlling registrou em ZH: “aos ser recebido publicamente, com toda a cordialidadade, por Paul Brenner, o proconsul americano do Iraque, o brasileiro Sérgio Vieira de Mello assinou sua sentença de morte. Para a resistência iraquiana aquela imagem de quase confraternização entre os dois diplomatas indicou que a ONU estava presente em Bagdá para dar o aval à ocupação anglo-saxã.”
A suspeita relação e subordinação da ONU aos interesses norte-americanos legitima a ação e reação dos iraquianos. Não importa se seguidores de Saddan. Não importa sua facção. Do mesmo modo que é secundário examinar-se a forma dos incidentes. Se guerra aberta ou de terror. Guerra é guerra.
É uma tradição do direito internacional que cada país resolva seus problemas internos, suas contradições políticas, a permanência ou o fim de suas ditaduras, suas opções sócio-econômicas, etc...etc..., assim como o direito de reação está inscrito na história da humanidade.
Nestas horas, é bom lembrar dos poetas. George Bernard Shaw, Prêmio Nobel de Literatura (l925), disse: “toda esta luta e porfia para tornar o mundo melhor constitui um grande engano, não porque não seja uma boa coisa melhorar o mundo, se soubermos como fazê-lo, mas porque porfiar e lutar é a pior maneira que poderíamos escolher para fazer alguma coisa.”(1886).
Imperator - II

“Lupus pilos, nom ánimum, mutat.”
(O lobo muda o pêlo, e não a índole.)

A impressionante vitória de George Bush, que repercutiu inclusive nas demais eleições americanas, a exemplo de governadores, deputados e senadores, constituindo uma maioria absoluta, confirma a gravidade deste momento histórico da humanidade.
Descontada a influência de outras decisões contidas na cédula eleitoral de vários estados – como o casamento de gays e o aborto, bem como a histórica e fundamental diferença entre democratas e republicanos (na prática econômica e tributária democratas são intervencionistas e pró-programas sociais(aumento de impostos); republicanos são liberais em economia e contrários a aumentos de impostos), reafirma-se a natureza conservadora, prepotente e neurótica dos EUA.
O Grande Xerife Universal recebeu carta-branca de seu povo. Conseqüentemente, permanece na ordem do dia o debate em torno da natureza do imperialismo. Alguns pensadores julga(va)m superado o debate em torno do imperialismo e sua significação dado o moderno caráter da globalização e seus efeitos gerais e colaterais.
Infelizmente, para a paz mundial, por motivações geopolíticas e econômicas o ocidente impõe, periodicamente, conceitos culturais, práticas civilizatórias e regimes políticos aos demais povos, através de ações prepotentes e arbitrárias; militares, quase sempre! Os Estados Unidos, mais sofisticado, sucessor dos impérios decadentes, promove, inclusive, a ocupação cultural e financeira , sob o signo de seu aparato bélico.
Basicamente, o imperialismo é indiferente às variações de forma ou força. Suas razões e objetivos podem ser econômicos, como podem ser de natureza estratégica quanto à manutenção de poder; e também podem ser para a preservação de áreas de influência.
Repetindo um refrão que utilizei em artigo de setembro de 2001, após a queda do WTC: “como pedir para o leão deixar de ser leão e respeitar os interesses dos antílopes?”
Imperialismo e conflitos mundiais

Renovam-se os episódios, repetem-se os fatos históricos, reincidem os povos –e os governantes - nos mesmos erros.
Rezemos, pois!

O atual conflito, a exemplo dos anteriores – lembra o Golfo Pérsico? -, recoloca na ordem do dia o tema do imperialismo, quer por suas motivações geopolíticas ou econômicas. O ocidente, periodicamente, através de ações prepotentes, arbitrárias, militares, quase sempre, impõe conceitos culturais, práticas civilizatórias e regimes políticos aos demais povos.
Nada mais bárbaro, nada mais medieval que impor lições aos povos. Vejam no que deu a África. Sua divisão territorial, patrocinada pelo ocidente, ignorou as seculares divisões tribais, transformando-a em cenário permanente de conflitos. A questão palestina, o melhor e mais grave exemplo, é o termômetro mundial.
Inglaterra, Estados Unidos e Rússia(ex-URSS), principalmente, destacam-se por esta prática. A Rússia ocidental impusera-se aos demais povos da comunidade soviética. Não é a toa que desintegrou-se em semanas. A Inglaterra, todos lembram, era “o reino onde o sol nunca se punha”, tantos eram os territórios sob seu controle. Os Estados Unidos, mais esperto, sucessor dos impérios decadentes, promove a ocupação cultural e financeira , sob o signo de seu aparato bélico.
O diabo do problema é que o mundo atual não comporta mais conflitos bélicos, amplos ou restritos. Qualquer ação de beligerância provoca, imediatamente, reflexos em todas as economias periféricas, com consequências gravíssimas, notadamente entre os países mais pobres.
Renovam-se os episódios, repetem-se os fatos históricos, reincidem os povos –e os governantes - nos mesmos erros.
Rezemos, pois!
Imperialismo e O Estado Espetáculo

“Nosso tempo (...) prefere a imagem à coisa, a cópia ao original, a representação à realidade, a aparência ao ser (...) O que para ele é sagrado é pura ilusão”
Feuerbach

Mencionei, outro dia, a propósito dos trágicos episódios ocorridos em território norte-americano, e como esclarecimento da previsibilidade do evento, o autor Samuel Huntington, autor da obra “Choque de Civilizações”, igualmente autor de outra obra importante, qual seja, “A ordem política nas sociedades em mudança”(1968).
Hoje faço menção – com recomendação de leitura - à outra obra de extrema atualidade, face os desdobramentos políticos que advirão, denominada “O Estado Espetáculo”(1977), de Roger-Gerard Schwartzenberg. Recomenda-se, também, olhar de novo, com atenção redobrada, o filme “Mera Coincidência”.
Alguns pensadores julgam superado o debate em torno do imperialismo e sua significação dado o moderno caráter da globalização e seus efeitos gerais e colaterais. Talvez seja oportuno reproduzir-se alguns conceitos relativos a significação de “imperialismo”.
Sem dúvida, caracteriza-a, principalmente, uma exagerada valoração emotiva, patrocinada pela propaganda político-ideológico e partidária, a cargo de “slogans” e lemas. Difícil, pois, prestar-lhe uma exatidão, uma objetividade, uma neutralidade.
Sua origem, o nome já diz, vem do latim “imperator”. Surge, modernamente, em 1830, relacionado ao “império napoleônico”. O sentido pejorativo, comum nos dias de hoje, surge em 1848, graças à política “cesarista de Napoleão III”. Em 1870, a política de fortalecimento e expansão do império colonial britânico, na administração do Primeiro-Ministro Disraeli, recebe, igualmente, a denominação de imperialismo.
Com o tempo, sobretudo em função da política externa e expansão inglesa, o significado ficou, definitivamente, claro: imperialismo é estabelecimento da soberania política de uma nação sobre povos e territórios estrangeiros.
Evidentemente, há inúmeros modelos diferenciados de imperialismo. Manifesta-se, pois, por várias formas e meios. Mas, basicamente, o imperialismo é indiferente às variações de forma ou força. Ora suas razões e objetivos podem ser econômicos, ora podem ser de natureza estratégica quanto a manutenção de poder; como podem ser para a preservação de áreas de influência.
Oportunamente, falaremos sobre o estado-espetáculo. Não esqueça de olhar o filme.
Lições da América

Como pedir para o leão deixar de ser leão e respeitar os interesses do antílopes?”

Muitas pessoas tem uma expectativa otimista relativamente às consequências políticas que advirão após a trágica terça-feira nova-iorquina. Reportam-se, objetivamente, a influência de uma parcela da opinião pública americana capaz de compreender os exageros intervencionistas de seu país, deflagradores sistemáticos da antipatia ao império norte-americano, e agir, em contenção, a exemplo do episódio da retirada de tropas do Vietnã.
Evidentemente, o nível e a intensidade da ação e participação americana nos negócios mundiais, com repercussões econômicas e sócio-culturais, não permite imaginar-se a viabilidade desta esperança. Ocorre que os comprometimentos são profundos, muito profundos, não havendo margem para um recuo. Não bastasse o fato de que a moeda americana circula, atualmente, sem lastro, pelo mundo, exportando expressiva parcela do déficit americano e sua inflação(?), centenas de empresas tem interesses e negócios espalhados pelo universo.
Os EUA constituem-se, hoje, e mais do que nunca, no grande império econômico-bélico, sem precedentes na história do mundo, e não haverá de sensibilizar-se com crises de identidades de outros povos, notadamente àqueles subordinados e dependentes. Isto significa que dispõe-se a pagar o preço e o custo da hegemonia, inclusive com vidas humanas, próprias ou de outras nações.
Ao contrário do que imaginam os otimistas, tudo indica que ocorrerão graves retaliações, indiscriminadas, se for necessário, exemplares, com certeza, e suficientes para que nenhum país tenha dúvidas sobre quem manda “nesta galáxia”; e, como diz o próprio presidente americano, “assegurar o triunfo do bem sobre o mal”, sentenciando, inequivocamente, suas indelegáveis tarefas divinas sobre nossos destinos.
Esta postura, tipicamente norte-americana, mantendo a prática e o alcance do “big stick”, o grande porrete, braço que a todos alcança e pune, alimenta a antipatia pelo “american way of life”, agravada pela globalização dos negócios e da cultura e assegurada pelos círculos de dependência financeira.
Como pedir para o leão deixar de ser leão e respeitar os interesses do antílopes?
Lições da América – II

“A indústria bélica norte-americana está a pleno vapor. O orçamento público prevê bilhões de dólares em gastos militares. "
No ano passado, por ocasião do ataque ao World Trade Center, escrevi alguns artigos sobre o tema e suas amplas repercussões. Um dos artigos, “Lições da América”, antecipava uma perspectiva e reação bélica dos EUA, ao contrário das teses otimistas. Agora, passado mais de um ano, e face às movimentações americanas no mundo, e particularmente no Oriente Médio, acho que vale a pena reler alguns trechos.
“...muitas pessoas tem uma expectativa otimista relativamente às consequências políticas que advirão após a trágica terça-feira nova-iorquina. Reportam-se, objetivamente, à influência de uma parcela da opinião pública americana capaz de compreender os exageros intervencionistas de seu país, deflagradores sistemáticos da antipatia ao império norte-americano, e agir, em contenção, a exemplo do episódio da retirada de tropas do Vietnã.”
“...a intensidade da ação e participação americana nos negócios mundiais, ...não permite imaginar-se a viabilidade desta esperança(da paz). (...) Os EUA constituem-se...no grande império econômico-bélico, sem precedentes na história do mundo, e não haverá de sensibilizar-se com crises de identidade de outros povos, notadamente aqueles subordinados e dependentes. Isto significa que dispõe-se a pagar o preço...da hegemonia, inclusive com vidas humanas, próprias ou de outras nações.”
“...tudo indica que ocorrerão graves retaliações...suficientes para que nenhum país tenha dúvidas sobre quem manda “nesta galáxia”; e, como diz o próprio presidente americano, “assegurar o triunfo do bem sobre o mal”....”
“Esta postura, tipicamente norte-americana, mantendo a prática e o alcance do “big stick”, o grande porrete, braço que a todos alcança e pune, alimenta a antipatia pelo “american way of life”...”.
Apenas para lembrar: a indústria bélica norte-americana está a pleno vapor. O orçamento público prevê bilhões de dólares em gastos militares.
Vem chumbo aí, gente!
Lições da América – II

“...precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário...entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva”.

Examinei nesta coluna, mais precisamente em setembro de 2001, logo após, o ataque ao WTC, uma hipótese de cogitação: de que “muitas pessoas têm uma expectativa otimista relativamente às consequências políticas que advirão após a trágica terça-feira nova-iorquina. Reportam-se, objetivamente, a influência de uma parcela da opinião pública americana capaz de compreender os exageros intervencionistas de seu país, deflagradores sistemáticos da antipatia ao império norte-americano, e agir, em contenção, a exemplo do episódio da retirada de tropas do Vietnã.”
Em oposição a este sentimento e esperança, disse, então, que “o nível e a intensidade da ação e participação americana nos negócios mundiais, com repercussões econômicas e sócio-culturais, não permite imaginar-se a viabilidade desta esperança.”
Repetindo meu artigo, textualmente: “os EUA constituem-se...no grande império econômico-bélico, sem precedentes na história do mundo, e não haverá de sensibilizar-se com crises de identidades de outros povos, notadamente àqueles subordinados e dependentes. Isto significa que dispõe-se a pagar o preço e o custo da hegemonia, inclusive com vidas humanas, próprias ou de outras nações.”
Enfatizei que “tudo indica que ocorrerão graves retaliações...suficientes para que nenhum país tenha dúvidas sobre quem manda “nesta galáxia”... e...“assegurar o triunfo do bem sobre o mal”, sentenciando, inequivocamente, suas indelegáveis tarefas divinas sobre nossos destinos.”
Confirmando a linha do meu pensamento, Luiz Fernando Veríssimo divulga e comenta, na edição de Zero Hora, 17 de julho de 2003, o artigo do diplomata inglês Robert Cooper, guru da política externa inglesa, que afirma, entre outras expressões, o seguinte: “...precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário...entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva”.
Diz Veríssimo: “Blair e Bush recorreram à fraude para justificar o ataque ao Iraque...estão tendo que explicar agora porque nem todo mundo se acostumou ainda, como quer Cooper, com a idéia de que há uma lei e uma ética para os membros do clube e outras para os outros.”
De minha parte, mesmo considerada a reação pública(tímida e modestíssima) às explicações de Blair e Bush, renovo minha convicção e não esperança na conversão das feras. Ou, repetindo o refrão do mencionado artigo de setembro de 2001: “como pedir para o leão deixar de ser leão e respeitar os interesses dos antílopes? “
Mumbai - a globalização da luta e da esperança

“...emergiram novos ideais de (re)construção de um mundo diferente, uma cultura universalista, uma vontade política de natureza cosmopolita, cujo principal referencial é “direitos humanos para todos os seres humanos”.

O recente Fórum Social Mundial, realizado em Mumbai, na Índia, teve dimensões e repercusões universais, promovendo a mais extraordinária mobilização e reunião de cidadãos de todo o planeta. Estima-se que acorreram 75 mil delegados (20 mil de fora da Índia), 2.600 organizações de 132 países, 2 mil jornalistas de mais de 45 países.
Durante as mais de 1.200 atividades, evidenciou-se o desejo e a esperança no fortalecimento dos movimentos pela paz, a resistência contra o militarismo, contra o unilateralismo econômico e às guerras. Houve consenso, também, na crítica à ordem dominante e exclusiva do capital financeiro.
Mas a incursão pelas profundas contradições e desigualdades da comunidade indiana, e asiática, proporcionou uma ampliação no caráter geográfico, social e universal do Fórum, resultando na visibilidade, diversidade e expressão de inúmeras identidades não reconhecidas e de direitos negados.
Conseqüentemente, emergiram novos ideais de (re)construção de um mundo diferente, uma cultura universalista, uma vontade política de natureza cosmopolita, cujo principal referencial é “direitos humanos para todos os seres humanos”.
Como era previsível, os Estados Unidos foram o principal alvo dos participantes. A opção e intensificação norte-americana por um “estado de guerra permanente” resultou em inúmeros manifestos. Entre tais, destacam-se as seguintes frases e slogans: “ a ocupação do Iraque demonstrou o vínculo existente entre o militarismo e a dominação econômica de parte das corporações transnacionais”. Ou então: “o capitalismo, em resposta a sua crise de legitimidade, recorre ao uso da força e da guerra para manter uma ordem econômica antipopular”. Finalmente: “é o imperialismo que estimula os conflitos religiosos, étnicos, raciais e tribais em seu próprio benefício, estimulando o ódio, a violência e o sofrimento dos povos.”
Mas os manifestantes e panfletários não estavam só em suas ações e conclusões anti-americanas. Ilustres convidados confirmaram o discurso predominante no Fórum. A escritora e ativista Arundhati Roy disse que "a linha entre democracia e imperialismo está se tornando cada vez mais frágil". Samir Amin, economista e diretor do Fórum do Terceiro Mundo(Dakar-Senegal) afirmou que "os EUA querem controlar o mercado global...estão com uma postura parasitária...para manter sua hegemonia precisam...se apossar do dinheiro do mundo. Isso não é mercado. Isso é roubo." O deputado trabalhista inglês Jeremy Corbyn declarou que “o Iraque está à venda para os interesses globais”. O sociólogo Cândido Grzybowski(Ibase) sustenta que “o unilateralismo de George Bush está alimentando a lógica de guerra e terror”.
No tocante às desigualdades sociais, destaque-se a preocupação de Josef Stiglitz (Prêmio Nobel de Economia de 2001): “ é fundamental discutir a questão da seguridade social como um dos aspectos mais relevantes da pobreza, já que todas as dimensões sociais estão ligadas à insegurança social, como a violência e a fome”. A dinamarquesa Helle Thorning-Schmidt, membro do Parlamento Europeu e do Partido Social Democrata, enfatizou a necessidade de “haver um Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social nas Nações Unidas com o mesmo poder do Conselho de Segurança. Precisamos também de um parlamento democrático na ONU, funcionando como um contrapeso à Assembléia Geral”.
É a globalização da luta, a globalização da esperança!
O império ataca

“...a razão fundamental para a expansão imperialista está na natureza do sistema capitalista”.(Lênin)

Logo após os atentados patrocinados por Bin Laden, escrevemos uma série de artigos sobre a natureza e a reação do império. Nada mais mais fácil de prever, pois, que a reação norte-americana. O conjunto das ações e a violência retrata bem sua política externa. Entretanto, a mídia prefere rotular o Presidente Bush como o grande mentor, como aquele que subjuga uma nação inteira à sua vontade bélica. Uma maneira oportunista de personalizar o mal, mantendo o espírito benigno da nação incólume.
Nem uma coisa, nem outra. Nem o Bush é perverso, nem a comunidade norte-americana é “boazinha”. Trata-se, simplesmente, da grande política, da estratégia de fundo, aquela que define papéis essenciais de dominação de uma nação sobre outras. É sabido por todos que a crise energética - esgotamento das reservas de combustíveis fósseis - é inadiável. Não bastasse esta razão, trata-se, também, de ratificar o papel israelense na região e sepultar qualquer pretensão de contestação ao modelo de dominação.
Assim caminha a humanidade. Cumprem-se os ciclos. A dúvida é: quanto tempo dura um império? Resposta: tem para todos os gostos. O III Reich, que se anunciara de 1000 anos, durou menos de 10 anos. Mas houve impérios seculares. Os mais recentes são representados pela Espanha, Portugal, Inglaterra, França, Bélgica, Itália, Holanda, Japão, Alemanha e Rússia.
Como já havíamos dito no artigo “imperialismo e o estado espetáculo”, o imperialismo é indiferente às variações de forma ou força. Suas razões e objetivos ora podem ser econômicos, ora podem ser de natureza estratégica quanto a manutenção de poder, bem como podem ser para preservação de áreas de influência.
Vade retro!
O que será amanhã?
(O terror nos EUA)
De outra parte, a cautela, ou recuo, dos demais países leva em conta, com certeza, a gravidade e a incerteza dos desdobramentos de uma guerra desta natureza, ou da natureza que se pretenda, ou melhor, da natureza da guerra que os EUA pretendem. O que significa isto?

O impulso inicial de inúmeros países no apoio incondicional à reação americana refluiu, nos últimos dias, para posições de reavaliação e ponderações. Deve-se, parcialmente, tal atitude, notadamente dos europeus, vacinados em guerra, às fanfarronices de Bush, que, precipitadamente, batizou a empreitada de “guerra santa”, “cruzada”, “bem contra o mal” e, mais recentemente, “quem não está com nós, está com os terroristas”. Uma tragédia diplomática!

De outra parte, a cautela, ou recuo, dos demais países leva em conta, com certeza, a gravidade e a incerteza dos desdobramentos de uma guerra desta natureza, ou da natureza que se pretenda, ou melhor, da natureza da guerra que os EUA pretendem. O que significa isto?

Significa dizer que é de pressupor-se que esta guerra não limitar-se-á às suas expostas razões de combate ao terror, mas prenunciará uma nova e forte redefinição dos papéis globais, dos territórios de dominação e da qualidade e natureza intervencionista.

Não se trata, é bom dizer logo, de uma visão catastrofista, ou pessimista, relativamente à qualidade da intervenção americana. Apenas, um choque de realismo geo-político.

A humanidade tem inúmeros exemplos sobre “as boas intenções” dos exportadores de revoluções e utopias, dos globalizadores da democracia e da economia de mercado, da purificação das raças, etc..., entre outros devaneios que custaram milhões de mortes.
O que será depois de amanhã?
(os senhores da guerra)

“(...) a cautela (...) dos demais países leva em conta (...) a gravidade e a incerteza dos desdobramentos de uma guerra desta natureza, ou da natureza que se pretenda, ou melhor, da natureza da guerra que os EUA pretendem.” (ementa de nosso artigo O Que Será Amanhã, publicado no Riovale, logo após o ataque ao WTC)

Sabia-se, de antemão e pela natureza das partes, que as intervenções bélicas preconizadas pelos norte-americanos, a pretexto da vingança ao ataque do Word Trade Center-WTC, eram o prenúncio de uma nova e forte onda de redefinições dos papéis globais, dos territórios de dominação e da qualidade e natureza intervencionista.
O acirramento dos conflitos na Palestina interessam à política externa americana, antecipando e preparando um cenário ideal para sua intervenção armada, com certeza a pretexto da paz (coitada daquela pomba-símbolo...deve estar cansada de tanto cinismo!).
Quem sonhava que o fim da Guerra Fria era a abertura de um novo tempo de paz, longe do espectro do cataclisma nuclear, esqueceu-se de que somos humanos, perversamente humanos.
Racismo, xenofobia, intolerância étnica, nacionalismo, são as palavras da moda, são os sinais midiáticos da nova ordem mundial, ou melhor, da desordem mundial, legado mortal das decadentes e velhas superpotências.
Em tempo: Revista Veja – 20 de março de 2002, pág.97, informa que foi “concedido pelo Serviço de Imigração e Naturalização dos Estados Unidos vistos de estudantes a Mohamed Atta e Marwan al-Shehhi, dois dos pilotos terroristas-suicidas que pilotavam aviões arremesados contra o WTC. O aviso foi enviado à escola da Flórida em que ambos fizeram cursos de aviação. As autoridades diplomáticas disseram que a decisão é anterior ao atentado e que os documentos foram enviados automaticamente. Em 11 de março, em Venice, Flórida”
Quem semeia ventos colhe tempestades

A humanidade tem inúmeros exemplos sobre “as boas intenções” dos exportadores de revoluções e utopias, dos globalizadores da democracia e da economia de mercado, da purificação das raças, etc..., entre outros devaneios que custaram, e continuam custando, a vida de milhões de pessoas.

Desde o ataque às torres gêmeas de Nova York, publicamos uma série de artigos sobre a natureza do imperialismo e as consequências gerais da pretensa superioridade ocidental, histórica e belicamente imposta. Os parágrafos seguintes foram extraídos de alguns destes artigos, de modo a configurar um novo e coerente texto..
Sabia-se, de antemão e pela natureza das partes, que as ações bélicas preconizadas pelos norte-americanos e seus aliados, a pretexto da vingança ao ataque do Word Trade Center-WTC, eram o prenúncio de uma nova e forte onda de redefinições dos papéis globais, dos territórios de dominação e da qualidade e natureza intervencionista.
O acirramento dos conflitos na Palestina interessam à política externa americana – e aos seus negócios, antecipando e preparando um cenário ideal para a intervenção armada, com certeza, e, como sempre, a pretexto da paz.
A tragédia diplomática consolidou-se com as fanfarronices de Bush, que, precipitadamente, batizou a empreitada de “guerra santa”, “cruzada”, “bem contra o mal” e, mais recentemente, “quem não está com nós, está com os terroristas”.
A humanidade tem inúmeros exemplos sobre “as boas intenções” dos exportadores de revoluções e utopias, dos globalizadores da democracia e da economia de mercado, da purificação das raças, etc..., entre outros devaneios que custaram, e continuam custando, a vida de milhões de pessoas.
Resulta, então, que o racismo, a xenofobia, a intolerância étnica, o nacionalismo, são as palavras da moda, são os sinais midiáticos da nova ordem mundial, ou melhor, da desordem mundial, legado mortal das decadentes e velhas superpotências.
Esta(s) guerra(s), que os americanos pretendiam rápida e cirúrgica (que ironia!), tinha, como de fato tem, todos os indicativos em sentido contrário. Seus efeitos repercutirão longa e danosamente. Não haverá mais paz.
Inspirada no obscurantismo das seitas religiosas, no ressentimento da nação ultrajada, na dor da perda do irmão, na brutalidade das infâncias roubadas, a longa mão da vingança alcançará todos os quadrantes terrenos. Em nome de Alá!
A historiadora norte-americana Bárbara Tuchman (falecida em 1989), premiada, consagrada e reconhecida mundialmente, escreveu, em sua obra “The March of Folly – from Troy to Vietnam”(1984), entre nós conhecida como “A Marcha da Insensatez – de Tróia ao Vietnã”, na edição brasileira José Olympio(1989), que “o paradoxo da condição humana é a sistemática procura – pelos governos – de políticas contrárias aos seus próprios interesses e a não consideração da existência de uma alternativa viável.”
São páginas que servem de alerta e inspiração para toda humanidade, e aos governantes, principalmente, numa época em que a marcha da insensatez parece acelerada no universo em que vivemos.
Um outro mundo é possível?

“Aventurar-se causa ansiedade,
Mas deixar de arriscar-se é perder a si mesmo.
Aventurar-se no sentido mais amplo é
precisamente tomar consciência de si próprio.”
Kierkegaard

Tardiamente compreendida a importância do Fórum Social Mundial pelos atuais governantes estaduais – embora o parcial auxílio financeiro, mas confirmada sua próxima realização na Índia, resta a renovação da utopia e o congraçamento universal.
A organização e realização de um evento de contraposição à inevitabilidade histórica, ou ao dito fim da história, é um delírio coletivo aos olhos e coração de um conservador, que acredita que “a vida é assim mesmo, que as pessoas são o que são, e que os governos são todos iguais, enfim, o mercado é que sabe.”
Mas um outro mundo é possível. Povos e Governos experimentam ao longo de suas existências diversas teorias políticas e econômicas, alternando sucessos e fracassos. Nos dois extremos das experiências recentes encontramos o capitalismo e o comunismo, teorias ainda em busca de uma síntese.
Esta síntese imaginava-se realizada no Estado de Bem-Estar Social tipo europeu, o famoso welfare-state. Infelizmente, as alterações geopolíticas na Europa modificaram dramaticamente aquela realidade, submetendo-a à graves distúrbios sócio-econômicos.
Sob protestos, reina o capitalismo com todos os seus defeitos. No núcleo de tudo, o egoísmo, isto que alguns denominam de inevitabilidade da condição e natureza humana.
A mundializacão da economia e a concentracão do capital afetam e comprometem a unidade e coesão social dos povos, enquanto que as desigualdades econômicas aprofundam-se na medida que aumenta a supremacia dos mercados.
A contestação do modelo dominante legitima a revolta e a agitacão popular. Configura-se um quadro de inúmeras contradições que demandarão um profundo esforço e exercício de mobilização, resistência, organização e construção de alternativas. No centro, o exercício da liberdade pressupõe a tolerância e a solidariedade.
Utopia um: as relações econômicas deverão estar a serviço do ser humano, da pessoa, e não a pessoa a serviço da economia. A economia é objeto da pessoa e esta seu sujeito, e não a economia sujeito da pessoa e esta seu objeto.
Utopia dois: a liberdade de auto-determinação não pode limitar-se a capacidade e autonomia de consumo, mas sobretudo alcançar a idéia de um sentido próprio a vida, de sua consagração, conferindo um sentido positivo.
Utopia três: encontros com os sonhadores e os inconformados renovam a esperança de que virá o dia em que todos terão vida digna e acesso aos bens de consumo. Renova-se a esperança de superação deste estado de passividade, de mesmice, de deslumbramentos e macaquices com os modelos de vida dos impérios da hora.
Utopia nuclear: a esperança na superação da razão sobre o instinto predador.
A nova (des)ordem mundial
(ou a nova ordem norte-americana)

“Mas há problemas: a vocação de tutor do universo, ou xerife da paz universal, estabelece uma contradição com o processo de globalização!”

O pós-guerra fria legou/determinou à humanidade a convivência com uma superpotência remanescente, qual seja, os Estados Unidos, desde já auto-intitulada a “polícia do mundo e guardiã/responsável pela ampliação do regime democrático e modernização dos países do 3º Mundo” (interprete-se como quiser, mas preferencialmente tudo que for pró América do Norte!)
Esta hegemonia está assentada sobre tres pré-requisitos/princípios, quais sejam: mercados livres, que devem se unificar gradativamente e sob regência legal de organismos internacionais; eleições livres, que elegem a democracia como modelo universal; e direitos humanos, que confirmam o direito natural moderno e consagram os princípios iluministas e indicam a hipótese d’o cidadão universal.
Como a ONU - Organização das Nações Unidas têm-se mostrado incapaz e incompetente para gerenciar os conflitos e compreender certos desígnios atuais e universais(leia-se, novamente, interesses norte-americanos), e, igualmente, a União Européia é uma incógnita, haja vista suas diferenças internas e seculares, resta aos EUA a tal gerência universal.
Mas há problemas: a vocação de tutor do universo, ou xerife da paz universal, estabelece uma contradição com o processo de globalização! Como conciliar um discurso pretensamente pacifista e universalista, utopicamente distribuidor de progresso e renda, com as diárias práticas intervencionistas de natureza econômica e militar, com visíveis interesses no controle dos recursos naturais e tutela política de países periféricos, a exemplo do Oriente Médio?
Esta é uma equação sem solução. Não é à toa que o terrorrismo cresce, aliás, na proporção das intervenções ou dominações incompatíveis com a atualidade/discurso.
A Marcha da Insensatez – II

“(...)precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário (...) entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva”
Robert Cooper, diplomata inglês.

Sob uma perspectiva mais atual, haja vista a reeleição de Bush, retomamos o teor de nosso artigo de março de 2003. A Marcha da Insensatez é uma obra da historiadora norte-americana Bárbara Tuchman (falecida em 1989), premiada, consagrada e reconhecida mundialmente, que nos conduz por diversos eventos bélicos, desde a Guerra de Tróia à Guerra do Vietnã.
A tese da autora é nominada como “o paradoxo da condição humana”, qual seja, a sistemática procura – pelos governos – de políticas contrárias aos seus próprios interesses e a não consideração da existência de uma alternativa viável.
Embora todas as razões que os norte-americanos possam utilizar em defesa de suas ações, marcadamente influenciadas pelo fatídico 11 de setembro – ocaso do World Trade Center, fica evidente que há e haveriam outras alternativas de enfrentamento do poder iraquiano e sua superação e/ou deposição.
Ocorre que as razões norte-americanas situam-se noutro patamar: a expansão imperialista. Trata-se, simplesmente, da grande política, da estratégia de fundo, aquela que define papéis essenciais de dominação de uma nação sobre outras.
É sabido por todos que a crise energética é inadiável. Não bastasse esta razão, trata-se, também, de ratificar o papel israelense na região e sepultar qualquer pretensão de contestação ao modelo de dominação.
Relembrando: o imperialismo é indiferente às variações de forma ou força. Suas razões e objetivos ora podem ser econômicos, ora podem ser de natureza estratégica quanto a manutenção de poder, bem como podem ser para preservação de áreas de influência.
Quanto a natureza bélica e as conseqüências desumanas da intervenção no Iraque, oportuno destacar as palavras do diplomata inglês Robert Cooper, guru de Tony Blair, que afirmara o seguinte: “...precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário (...) entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva também temos que usar as leis da selva” (lembrado por Luiz Fernando Veríssimo, em Zero Hora, edição de 17 de julho de 2003. Na internet há muito mais sobre as idéias do inglês.).
É de pressupor-se, pois, que esta guerra( e a reeleição de Bush) não se limitará às suas expostas razões de combate ao terror, mas prenunciará uma nova e forte redefinição dos papéis globais, dos territórios de dominação e da qualidade e natureza intervencionista.
Oportuno, conseqüentemente, lembrar as palavras de Lênin: “a razão fundamental para a expansão imperialista está na natureza do sistema capitalista”.