30 novembro 2006

Bolsa-Oposição

O Presidente Lula continua inovando. O auto-declarado maior governo da história do Brasil, que aperfeiçoou e legitimou a esmola pública, auto-denominado maior programa mundial de distribuição de renda (o que é a falta de vergonha e auto-crítica!), agora cria o Bolsa-Oposição, projeto de cooptação dos partidos de oposição (que oposição? faz-me rir!), sob a retórica de um governo de coalizão política.
O ineditismo lulista é que não há um mísero projeto nacional que justifique tal iniciativa. Ademais, é público e notório que trata-se de distribuição grosseira de ministérios e cargos públicos com o único fim de neutralizar as críticas ao marasmo governamental e anular quaisquer tentativas de continuidade nos esclarecimentos dos escândalos e na malservação do dinheiro público. E no esclarecimento dos escândalos que ainda estão na fila(ongs, fundos de pensão, a empresa do lulinha, etc).
Por mais que os amigos do rei argumentem em contrário (mais pelo fato de serem amigos do rei do que pelos fatos), a economia real não aponta para o crescimento ou possibilidade de crescimento. Para a criação de novos postos de trabalho e, muito menos, para o aumento da massa salarial.
De outra parte, enquanto que os trabalhadores aceitam qualquer coisa para não sofrerem a marginalização e/ou desemprego, o sistema financeiro privado e estatal produz lucros ininterruptos e abundantes, mas, sobretudo, concentrando a riqueza e o poder nas mãos de pouquíssimas pessoas e empresas, notadamente rentistas.
Afinal, a política ortodoxa e conservadora do Banco Central garante o retorno das aplicações nos papéis da dívida pública do governo. Retorno garantido e bem superior a qualquer investimento produtivo. É o que denominam de "governabilidade"!
Enquanto atende a banca internacional e nacional, submetendo toda a nação ao assalto sistemático e renunciando às políticas públicas (sérias e honestas!) de distribuição de renda, o rei prega em campos alheios, qual mendigo, uma "globalização econômica solidária". Melhor seria começar pela própria casa!
Sumiram todos os “revolucionários” de ontem. Queimaram seus discursos. Sepultaram a coerência. Cooptados, agora tratam de cooptar a própria democracia. Ou melhor, o que resta dela.




A socialização da ignorância e da miséria

A verdade, porém, tem apenas um vestido de cada vez e
só um caminho, e está sempre em desvantagem" Robert Musil em "O Homem sem Qualidades"

A razão de existir de um sistema político está diretamente relacionada com sua função de criar e melhorar a vida dos cidadãos. Pela mesma razão, há eleições livres, diretas e periódicas, com o voto do povo, de modo a verificar e julgar se realmente ocorre a melhoria da vida das pessoas.
Para que este sistema funcione bem é necessário que o cidadão saiba o que o governo tem feito para cumprir suas obrigações. Do mesmo modo, o eleitor/cidadão precisa saber o que o governo e a oposição defendem e objetivam. E muito mais: precisa conseguir analisar essas informações para poder julgar qual sua adequação, viabilização, consequência social e oneração financeira.
Mas há um problema grave para a realização deste ideal: a maioria da população brasileira não tem capacidade para entender e analisar estas informações. Isto quando as informações chegam até o cidadão. Normalmente, não chegam.
Consequentemente, os detentores do poder (de ocasião), aqui nominados governantes, tendem a corromper o sistema idealizado. Na recente eleição, por exemplo, a esmola (o governamental programa Bolsa Família) distribuída ao povo cumpriu um papel eleitoral fundamental pró-governo. A tal ponto que os escândalos e crimes contra a economia, o dinheiro público e a normalidade institucional não repercutirem, objetiva e eleitoralmente, no processo eleitoral.
Aliás, quem questionasse esses métodos – distribuição da esmola - era rotulado como elitista e inimigo do povo. Quem questionasse a eficácia da gestão pública era rotulado como pró-privatizações e entreguista. Ainda que o respectivo questionamento não fosse de ambição eleitoral, mas, sim, de teor técnico, econômico, sócio-educativo, jornalístico, ético, moral, entre outras abordagens possíveis.
Ultimamente, com as pesquisas indicando a vitória governamental, como de fato ocorreu, aqueles que queriam, querem e exigem o respeito às leis e às instituições – relativamente ao esclarecimentos dos sucessivos escândalos - eram e são nominados de golpistas, ansiosos pelo “terceiro turno”.
Com a (in)consciência política dos pobres sendo comprada em troca de moedas e a corrupção financiando a perpetuação no poder, caminhamos a passos largos e rápidos à absoluta mediocrização do debate político e da ação governamental responsável. Aliás, como consequência, não há mais nem oposição ideológica e institucional. O princípio da cooptação venceu.
Diante da legitimação do (mau)exemplo e do respectivo sucesso eleitoral, prevejo que será disseminado em todo território nacional a esmola como política pública. E sem os riscos de imputação de ação ilegal/imoral/cooptativa ou de exercício da demagogia. Para alegria dos governantes. Só não se reelege quem não quer. Bem, e quanto à ética e a moral, como valores públicos, já haviam ido ao brejo antes!
Em síntese, trata-se da desqualificação absoluta da política e da administração pública. Mas há quem goste da socialização da ignorância e da miséria!

16 novembro 2006

Lapsos de Memória

“Estes discursos têm em comum
a intenção de despolitização.”

Definitivamente, o poder (e a perspectiva de prorrogar o exercício do poder) transforma as pessoas, independentemente do seu grau de inteligência, erudição e consciência política.
Infelizmente, transforma para pior. Costumam esquecer o que prometeram. Sacrificar a coerência. Ignorar as lições da história. E, mais grave, subestimar a inteligência e a memória do cidadão.
Encerradas as eleições, mas sobrevivos os escândalos e esgotadas as desculpas (de colete), membros do governo e o próprio presidente Lula falam em desestabilização e “terceiro turno”, diante dos prováveis e continuados atos de oposição político-partidária.
Esquecem tudo o quanto a oposição sofrera no período militar e em sucessivas campanhas eleitorais – ou mesmo na falta de eleições. Naquelas ocasiões, militares e seus amigos civis argumentavam exatamente sob a mesma ótica, isto é, que as eleições – ou a vitória da oposição - iriam atrapalhar a paz nacional, a abertura política, a atração de investimentos financeiros, perturbar a estabilidade econômica, etc...
Estes discursos têm em comum a intenção de despolitização. Dão a entender que o melhor mesmo é não haver debates e contestações. E que tudo isto é para o bem do povo e a felicidade geral da nação.
É evidente que o processo democrático, em seu ápice, pode trazer perturbações de ordem social ou imprevistos de natureza econômico-financeira, haja vista a hegemonia da economia de mercado. Mas seu mérito incontestável está na regularidade do processo, na sua previsibilidade institucional, independentemente de quem seja o eventual detentor do poder.
Em qualquer momento, é legítimo às oposições desfraldarem as bandeiras que quiserem, sejam de contestação ou não ao poder instalado, sejam de desafio ou não à normalidade das coisas, submetendo-se, é lógico, à avaliação e julgamento popular.
Quem sempre fez o discurso da hierarquia dos princípios(sic) e a defesa do processo, não deve deixar-se levar por esta demagogia. Fosse o discurso de um general ou de um ditador de plantão, ou alguém à semelhança e arrogância de Collor (lembram o que dizia em 1989 do perigo Lula?), seria natural e previsível.

07 novembro 2006

Privatizações e a demagogia eleitoral

Nos últimos dias, no horário político-eleitoral, tanto na disputa presidencial quanto estadual, intensificaram-se as abordagens em torno das (voc)ações privatizantes e estatizantes dos candidatos e partidos em disputa.
Tanto Lula quanto Olívio atribuíram aos adversários, intensa e insistentemente, a vontade de levar adiante as privatizações. De imediato, no mesmo tom e repetição, tanto Alckmin quanto Yeda negaram tal hipótese,.
Lamentavelmente, a exploração eleitoreira deste tema e o nível de comprometimento das lideranças e dos partidos, em torno da manutenção das empresas públicas, é um sério e grave desserviço à nação.
A rigor, o debate deveria propiciar uma análise política, econômica e financeira séria e transparente sobre os custos da nação na manutenção destas empresas e seus níveis objetivos de contribuição ao desenvolvimento.
Em minha opinião, estamos atrasados no processo de privatização. Pagamos um preço imenso para manter estes feudos de privilégios, competitividade, produtos, preços e serviços discutíveis. Isto sem falar na notória e desavergonhada utilização e exploração político-partidária.
Várias empresas públicas atuam em setores em que a iniciativa privada faz mais e melhor e a custos menores. Empresas que hoje se pautuam pela eficiência e modernidade. Regra geral, as privatizações têm gerado resultados positivos para a sociedade e o governo. Seja na arrecadação de mais impostos, seja nos resultados para seus acionistas, seja na competitividade comercial no ambiente nacional e global.
Objetivamente, as privatizações ajudam a diminuir o tamanho do estado, reduzir o ônus contributivo do cidadão, mas, principalmente, liberam o setor público para realizar suas ações principais e necessárias, notadamente nas áreas de educação, saúde, segurança e infra-estrutura, as mais reclamadas pela sociedade.
A sempre lembrada preservação de interesses estratégicos não depende de exploração estatal. São interesses que podem e devem ser operados em termos de mercado privado e competitivo, nacional e mundial.
Este assunto estatização versus privatização não deveria mais nem constar da pauta. É uma pauta dos anos 50. Superada pela decadência dos modelos, pela aceleração do sistema mundial de trocas, pela globalização econômica e financeira, enfim, pela competitividade e abertura comercial mundial.
É lastimável que em pleno processo eleitoral presidencial e estadual estas idéias ultrapassadas e retrógradas antiprivatizantes adquiram força de voto.
Não bastasse nosso atraso no concerto mundial das principais nações do mundo, perdendo, sucessivamente, as grandes ondas de desenvolvimento, conclui-se que, a continuarmos neste impasse/passo e nestes níveis de idéias e debates, nossas dificuldades não diminuirão. Ao contrário, aumentarão.
Que rei sou eu?

Novamente, o Presidente Lula não sabia de nada. Neste ultimo escândalo, tão grave quanto os demais, os diretamente envolvidos são amigos pessoais do Presidente. Amigos de mais de 30 anos.
Ao dizer que não sabia de nada, de novo!!!, claro que o Presidente está nos tirando para bobos. Brincadeiras à parte, Presidente Lula, não quer que a gente acredite nisto, certo?
O mais incrível nesta cara-dura presidencial, é a sucessão de fatos relacionados à sua gente e seus amigos. Seu filho enriqueceu, seu irmão é lobista, seus ministros mais próximos dispensados e/ou arrolados como réus pelo Ministério Público. Mas o Presidente continua dizendo não saber de nada!
Agora, neste último episódio, além da Polícia Federal e do Ministério Público, também Lula quer saber de onde veio o dinheiro. Mas isto não é problema. É simples. Basta chamar seus companheiros de churrasco/ futebol e perguntar. Nem precisa mandar a Polícia Federal investigar. Pouparia tempo e dinheiro público. Afinal, são todos do PT. Basta convocar os companheiros e fazer as perguntas.
Poderia começar com o Presidente do Partido, Ricardo Berzoini. Depois o Freud Godoy, seu amigo de mais de 20 anos. Depois o Jorge Lorenzetti, grande amigo e churrasqueiro da família. Depois o Osvaldo Bargas, o marido da secretária particular do Presidente. Depois o diretor do Banco do Brasil Expedito Veloso(Coitado do Banco do Brasil Não merece. Antes já fora aquele diretor de marketing).
Também pode chamar o Ministro da Justiça, Thomaz Bastos, e perguntar porque trocou os delegados da Policia Federal encarregados do caso e porque não deixou fotografar os R$1.700.000,00(hum milhão e setecentos mil reais) sobre a mesa.
Depois de um sincero bate-papo, afinal, repito, são todos amigos e companheiros, não haveria mais dúvidas. Faria-se justiça. O Presidente, finalmente, saberia de tudo. E todos dormiriam em paz. Alguns menos, óbvio!
Possivelmente, alguns chinelões dormiriam na cadeia. Outros, com certeza, mais espertos, em Miami ou alguma ilha do Caribe. E outros, no Congresso Nacional, “blindados” com suas prerrogativas e imunidade parlamentar.
Porque Rigotto perdeu

Necessário dizer, de antemão, que, invariavelmente, depois que os votos foram contados surgem e cabem todas as explicações possíveis para demonstrar e comprovar determinados resultados, eventualmente surpreendentes.
Especificamente, a surpresa(será que foi surpresa?) eleitoral foi a não passagem do Governador Germano Rigotto para o segundo turno das eleições para governador, apesar de todas as pesquisas que indicavam exatamente o contrário, isto é, que seria o primeiro dos dois habilitados.
Então, o que teria acontecido? Surgem hipóteses criativas, a exemplo daquela que cogita que eleitores de Rigotto teriam optado por Yeda para afastar Olívio, de modo a viabilizar um confronto entre Rigotto e Yeda, e o conseqüente apoio dos petistas à Rigotto. Não acredito.
Particularmente, eu prefiro acreditar que Rigotto foi castigado por sua omissão na opção presidencial. Rigotto preferiu ficar em cima do muro entre Lula e Alckmin, possivelmente convencido de que seria o governador reeleito e precisaria do eventual Presidente da República para encaminhar soluções para a grave crise gaúcha. A gauchada não costuma apoiar o “murismo”!
Rigotto não percebeu que esta eleição transfomara-se num debate ético, a rigor, um julgamento dos escândalos de Brasília. Mesmo não optando por ou outro presidenciável, o mais grave foi silenciar sobre os escândalos.
Rigotto ignorou o crescimento de Alckmin. Yeda não ignorou e atrelou sua imagem à de Alckmin. A associação entre as candidaturas de governador e presidente pode ser a explicação para a ascensão de Yeda. Nas últimas semanas de horário eleitoral gratuito, Yeda associou fortemente sua imagem a de Alckmin, ambos em crescimento, pequeno, suave, mas em crescimento constante nas pesquisas.
Claro que estes votos de Yeda não saíram só de Rigotto. Saíram, também, e muito, de Turra e Collares, ambos com desempenho muito aquém de seus currículos e partidos.
Finalmente, devemos admitir que, gostando ou não de Yeda, ela representa o novo nesta eleição. Sim, porque Collares, Olívio e Rigotto, ex-governadores, já tiveram sua oportunidade. E o partido de Turra já teve vários governadores. Além disto, Yeda distinguiu-se por um discurso mais objetivo que os demais. Mais consistente e menos adjetivado.
Ah, e nem falei na questão feminina. Nunca tivemos uma governadora!
Mofo Político

(...)enfim, governantes incapazes de empolgar o povo e renovar as esperanças. Em verdade, estão aquém das necessidades da nação.

A política sempre provoca a repetição e a renovação de algumas idealizações que não resistem a um exame e confrontação com a realidade. Por exemplo, confunde-se, regra geral, a democracia com o direito de votar, com a liberdade de ir e vir, com o direito de opinião. Embora fundamentais, tais direitos não são maiores, nem mais importantes, que o direito à saúde, educação, habitação, trabalho e segurança.
O Estado brasileiro, sob controle político e econômico de grupos não comprometidos com o destino do povo, opera arbitrariamente e com violência. Consequentemente, os marginalizados, pobres principalmente, resolvem seus conflitos do cotidiano fora do espaço público, sem direito e proteção do Estado. A violência, sistemática e crescente, fora dos limites e controles da lei, rege a tudo e a todos.
A pré-condição para a superação destas diferenças, notadamente as econômicas e sociais, é a democratização do Estado, a socialização da coisa pública, a popularização da justiça, de modo a reconhecer e concretizar em cada pessoa um cidadão.
Mas a realidade é outra: há falta de entusiasmo, falta de convicções, apatia política, enfim, governantes incapazes de empolgar o povo e renovar as esperanças. Em verdade, estão aquém das necessidades da nação.
Concorre para a desconfiança e apatia popular o fato de que o Estado já não responde pela sociedade como um todo. Mas o esvaziamento do Estado não significa que suas atribuições tenham-se esgotado, ou que suas responsabilidades sejam menores. Significa, objetivamente, a necessidade de uma reconceituação de competências, assentadas sobre novos modelos de gestão, eficácia e qualidade. Nada a ver com este Estado gigante, ineficiente, expropriador, corrupto e corruptor.
Creio que este é um ponto que os políticos ainda não entenderam. Daí este cheiro de mofo.



Lapsos de Memória

“Estes discursos têm em comum
a intenção de despolitização.”

Definitivamente, o poder (e a perspectiva de prorrogar o exercício do poder) transforma as pessoas, independentemente do seu grau de inteligência, erudição e consciência política.
Infelizmente, transforma para pior. Costumam esquecer o que prometeram. Sacrificar a coerência. Ignorar as lições da história. E, mais grave, subestimar a inteligência e a memória do cidadão.
Encerradas as eleições, mas sobrevivos os escândalos e esgotadas as desculpas (de colete), membros do governo e o próprio presidente Lula falam em desestabilização e “terceiro turno”, diante dos prováveis e continuados atos de oposição político-partidária.
Esquecem tudo o quanto a oposição sofrera no período militar e em sucessivas campanhas eleitorais – ou mesmo na falta de eleições. Naquelas ocasiões, militares e seus amigos civis argumentavam exatamente sob a mesma ótica, isto é, que as eleições – ou a vitória da oposição - iriam atrapalhar a paz nacional, a abertura política, a atração de investimentos financeiros, perturbar a estabilidade econômica, etc...
Estes discursos têm em comum a intenção de despolitização. Dão a entender que o melhor mesmo é não haver debates e contestações. E que tudo isto é para o bem do povo e a felicidade geral da nação.
É evidente que o processo democrático, em seu ápice, pode trazer perturbações de ordem social ou imprevistos de natureza econômico-financeira, haja vista a hegemonia da economia de mercado. Mas seu mérito incontestável está na regularidade do processo, na sua previsibilidade institucional, independentemente de quem seja o eventual detentor do poder.
Em qualquer momento, é legítimo às oposições desfraldarem as bandeiras que quiserem, sejam de contestação ou não ao poder instalado, sejam de desafio ou não à normalidade das coisas, submetendo-se, é lógico, à avaliação e julgamento popular.
Quem sempre fez o discurso da hierarquia dos princípios(sic) e a defesa do processo, não deve deixar-se levar por esta demagogia. Fosse o discurso de um general ou de um ditador de plantão, ou alguém à semelhança e arrogância de Collor (lembram o que dizia em 1989 do perigo Lula?), seria natural e previsível.
Estado e Sociedade

“O Estado existe e é organizado unicamente para servir a sociedade. Não o contrário!”

O presente processo eleitoral caracterizou-se ausência de um debate ideológico acerca da função atual do estado. Foram omitidas questões importantes da esfera da administração pública, notadamente relacionadas ao orçamento, sobretudo quanto à sua gestão e financiamento.
Uma característica comum aos candidatos, em geral, foi o desconhecimento/pouco caso sobre a natureza das receitas, seu custo social, a qualidade dos gastos públicos, o volume do desperdício, a composição e os custos do quadro de pessoal.
Se é verdade que temos que conviver com estas limitações pessoais e partidárias, verdade também é que não precisamos necessariamente nos conformar com esta desqualificação.
Para a viabilização/reconhecimento do Estado, são imprescindíveis as respostas para algumas perguntas, tipo: a sonegação fiscal é um ato de apropriação indébita ou um ato de defesa e sobrevivência comercial? Ou, ainda, um ato de defesa contra a expropriação de capital próprio pelo Estado? Não pedir nota fiscal, ou concordar com a extração de nota fiscal de menor valor, significa um ato ilegal ou uma prática de consenso social que rejeita os inúmeros e altos impostos?
Consequentemente, só há discursos sobre aumento de receita. E dos custos de manutenção e administração do aparelho de estado? Como pedir uma contrapartida da sociedade sem um amplo programa de enxugamento de custos? Refiro-me ao imediato fechamento de inúmeros órgãos, departamentos, setores estatais superados na atual e global estrutura social e econômica. O imediato desfazimento de milhares de imóveis que transformaram o estado em gigantesca incorporadora imobiliária. A imediata revisão e/ou rescisão de milhares de contratos de alugueis. Há dezenas e dezenas de áreas caóticas e superadas.
Ainda outro aspecto. E a questão das competências pessoais, das qualificações técnicas e de gestão, sempre ignoradas em favor da “feudalização partidária dos orgãos de estado”?
Válidas estas perguntas, renova-se uma questão: se não há uma contrapartida de bens e serviços públicos eficientes por que pagar os impostos?
Com o dinheiro público tomando rumos diversos ao interesses essenciais da população, para além da roubalheira – sim, isto aí que estamos vendo não é simples corrupção. O nome disto é roubalheira! - não é a toa que os brasileiros resolvam seus conflitos do cotidiano fora do espaço público. Também não é acaso que, paralela e conseqüentemente, a violência, sistemática e crescente, fora dos limites e controles da lei, rege a tudo e a todos.
Para convencer a opinião pública sobre a viabilidade e propósitos do estado, sobre suas novas(sic) atitudes, de modo a estabelecer uma relação de confiança com o cidadão, impõe-se uma honesta demonstração, principiando por não esquecer que o estado existe e é organizado unicamente para servir a sociedade. Não o contrário!
Assalto aos Depósitos Judiciais

“Acabou.
O último que sair apaga a luz!”

Por conta das dificuldades financeiras do Estado e a (re)novada incompetência administrativa dos governantes (que não têm coragem e ousadia para fechar Secretarias de Estado inúteis e estrategicamente defasadas, bem como extinguir cargos igualmente inúteis), a Assembléia Legislativa do Estado, em 29 de agosto, emendou a lei que autorizara o Poder Executivo a utilizar, emergencialmente(?), 70% dos recursos dos depósitos judiciais. Agora, poderá alocar 85% (cerca de R$728 milhões).
Os depósitos judiciais são valores recolhidos à conta da Justiça Estadual por uma das partes de um processo, enquanto se aguarda o debate e julgamento da causa (quem é o devedor, quem é o credor, qual o valor exato da demanda, etc...), ao final da qual o vencedor faz jus àquele depósito, no todo ou em parte.
Simplificando, trata-se de dinheiro que não é do Estado (nem do Poder Executivo, nem do Judiciário, nem do Legislativo), e talvez nunca venha a ser do Estado. Mas o Estado já se apropria(va) de parte da rentabilidade destes depósitos.
A um absurdo, a uma apropriação indébita menor, surge, agora, um absurdo maior, uma lei grotesca, com o unânime beneplácito parlamentar. O desfecho é previsível: no momento oportuno, o da reposição destes recursos ao fundo original, não haverá disponibilidade financeira.
Conseqüentemente, como de praxe, os credores ficarão a percorrer os (des)caminhos oficiais para buscar o que é seu. Desde sempre, é assim com os precatórios, as indenizações do DAER, com os descontos previdenciários indevidos, com as correções abaixo da lei, etc...etc...E o nome dos criadores do monstro, dos legisladores de soluções mágicas, será esquecido!
Sucedem-se, assim, os saques diários de uma estrutura pública (Estado e União) decadente, ensimesmada e socialmente injusta e inoperante. Cada vez mais criativos e variados, os alquimistas e gênios do assalto e suas gangues de apoio legal/legislativo aplicam suas mais recentes fórmulas de apropriação do alheio.
Acabou. O último que sair apaga a luz e fecha a porta!
Aerolula e o caixeiro-viajante


“(...) a internacionalização da economia, a necessidade de “fazer caixa”, (...) e, principalmente, o desemprego, determinaram que a agenda presidencial seja, essencialmente, comercial e internacional.”

No debate entre os candidatos a Presidente, surgiu novamente o assunto do super-avião, o comicamente denominado “aerolula”, adquirido às custas de milhões e milhões de dinheiro público.
É claro que Lula poderia ter encomendado um avião menor e mais barato à Embraer, a exemplo deste agora mais conhecido Legacy. Mas, enfim, são tantos amigos na fila de passageiros e a generosidade estatal deveras sensível, que umas poltronas a mais vêm bem!
Acerca de FHC se fazia muitas piadas, haja vista que permanecia mais em território estrangeiro que nacional. Aliás, o próprio Lula várias vezes utilizou-se, política e eleitoralmente, destes argumentos para criticar o então presidente. Mas, ultimamente, tem feito igual. Nada como o tempo, dizem os meteorologistas e os relojoeiros.
Provocações e piadas à parte, a verdade é que desde o fim do comunismo, simbolizado pela queda do Muro de Berlin e a definitiva ascensão das teorias do Consenso de Washington, os Presidentes dos ditos países em desenvolvimento, agora emergentes, entre os quais o brasileiro, viraram caixeiros-viajantes.
Explicando: a internacionalização da economia, a necessidade de “fazer caixa”, ampliar as exportações, vender estatais, privatizar serviços públicos, estabelecer parcerias, e, principalmente, a necessidade de enfrentar o desemprego, determinaram que a agenda presidencial seja, essencialmente, comercial e internacional. Esta é a realidade mundial desde 1989.
Outro aspecto, não necessariamente secundário, é que esta agenda comercial e internacional, dentro da aparente inevitabilidade histórica que vivenciamos, tem um papel fundamental no processo político e eleitoral interno. Afinal, ninguém perdoaria o Presidente nas omissões em torno dos esforços de captação de novos negócios.
É o ônus da ideologia dominante. Fazer o quê? Ou outro mundo será possível?
A enfermidade de Dona Esperança
(sobre a crise ético-política)

A esperança fraudulenta
é uma das maiores malfeitoras da humanidade."Ernst Bloch, em "O Princípio Esperança".

Incluo-me entre os cidadãos que estão desesperançados com a indiferença e a não indignação social ante o conjunto dos crimes praticados no decurso do presente governo.
Quanto ao cego comportamento coletivo, convèm lembrar que a história é farta nas demonstrações dos erros decorrentes na indevida proteção dos governantes flagrados em delito, em detrimento da hierarquia dos valores permanentes de uma nação.
Do mesmo modo, importa denunciar a idolatria. Líder nenhum é fiel e exclusivo depositário das lutas de um povo, de suas esperanças e desejos político-sociais.
Independentemente de nossas opções/opiniões políticas, ideológicas e partidárias - e mesmo que não tenhamos nenhuma, não podemos prescindir da crença num sistema de valores nacionais, regras constitucionais, dispositivos legais, conceitos éticos, entre outros de igual importância.
Estes valores são frutos do esforço coletivo, sofrimento e resignação, às vezes de várias gerações. Não podem ser contaminados pela fraqueza, incompetência e desonestidade de indivíduos que não estão, ou não estiveram, à altura de determinado cargo e/ou momento histórico da nação.
Quanto à militância e fidelidade partidária, o engajamento no processo eleitoral, enfim, a opção por um companheiro/candidato, não pode constituir-se em compromisso inalterável, uma vez confrontado com fatos graves e ilegais, imorais e anti-éticos, relevantes à nação.
Descontados os equívocos de nossas opções partidárias, que merecem revisão e repactuação, a exemplo dos - por nós atribuídos - defeitos de outras ideologias, aliás, todas em constante processo de mutação e transformação, não tolero a idéia, nem me conformo, em permitir que destruam o patrimônio de luta, resistência e esperança de várias gerações.
Em verdade, neste vai-vem da política, aprendemos a sentir o amargo sabor da verdade e da realidade. À medida que a utopia e a paixão dão lugar à compreensão acerca das fraquezas humanas e das vocações autoritárias dos grupelhos políticos, aprendemos a valorizar os instrumentos básicos de um Estado Democrático de Direito.
A aprender, também, é que na política, como no amor, por conta de nossa idealização, demoramos para ver os defeitos de nosso objeto amoroso.
Todavia, mantenhamos as esperanças. Com certeza, haveremos de encontrar e construir as soluções para nossa tragédia e seus impasses. A história ensina que cada geração tem uma experiência inédita. Não há repetição. Cada retrato da sociedade é próprio de sua época.

A crise e a (des) função do trabalho
(para uma reflexão e visão crítica das redes de proteção social)

O desesperançoso é que não têm utilidade para o sistema capitalista, nem para os defensores do socialismo.

Social, psicológica e historicamente, o trabalho é reconhecido como um elemento fundamental no processo de afirmação do ser humano. Sua relação com a vida e a sobrevivência vai muito além da questão da produção de bens e renda. A ocupação produtiva do indivíduo está diretamente relacionada a idéia de dar um sentido a própria existência.
Neste sentido, vivemos uma época de profunda contradição e depressão existencial, haja vista as alterações dos processos produtivos, das relações de comércio interno e externo, todas com graves repercussões no quadro das atividades laborais e de emprego.
Em contrapartida, crescem as redes de proteção social, oficiais e comunitárias. Governos e entidades assistenciais criam e apresentam os diversos programas de ajuda. A palavras chave são “bolsa, vale, programa, etc...”, a exemplo da bolsa alimentação, o vale-transporte, o vale-gás, a bolsa-escola, o programa de renda mínima, merenda e transporte escolar, entre outros, em todas as esferas da organização social e estatal. São formas indiretas de proteção e aumento da renda familiar.
Objetivamente, é tudo consequência de um processo de marginalização capitalista, sistema que vive uma crise de criatividade em sua capacidade de incorporação da força de trabalho. Consequentemente, milhares de famílias passam a viver e depender das redes de proteção social.
O que pode parecer como uma espécie de socialização forçada de benefícios, no pensar de outros parece um inquietante processo de (des) educação para o ócio, ou deseducação para o trabalho.
Ressalvado tratar-se de um ócio forçado, todos estes benefícios permitem às pessoas (sobre)viverem, claro que sem qualidade de vida, precária e resignadamente, e pior, por extensão, sem ver no trabalho uma necessidade.
As vítimas deste processo de exclusão e inutilização humana são, obviamente, os menos formal e profissionalmente educados e preparados para o trabalho. Este despreparo é gravíssimo por que impede/incapacita a mobilização destas massas populares para uma reação.
O desesperançoso é que não têm(estas massas populares) utilidade para o sistema capitalista, nem para os defensores do socialismo. Para uns não servem por que fora e inaptos no processo de criação de riquezas, e para outros por que incapazes de auto-crítica e construção de um projeto social reformador (ou revolucionário). Mais grave: em verdade, servem como massas de manobra, descompromissadas com quaisquer objetivos de um ou outro sistema político-econômico.