27 novembro 2007

Escravos da Moeda

Vamos às notícias dos jornais: “Bradesco tem maior lucro já registrado por bancos no país”. No dia seguinte: “Lucro do Itaú ultrapassa o do Bradesco”.

Uma semana depois: “Banrisul tem maior lucro de sua história”. E assim, nos últimos dias, sucederam-se as manchetes da imprensa acerca dos balanços do setor financeiro.

Um dos principais fatores na extraordinária lucratividade dos bancos está na prestação de serviços, cuja arrecadação se dá através de tarifas bancárias, taxas de cartões de crédito e administração de fundos, entre outros.

Claro que os lucros mais abundantes ainda vêm das operações de crédito, anabolizadas com os maiores juros do planeta. Mas os juros só são os maiores do planeta por causa das dívidas dos governos federal, estaduais e municipais.

Dito de outro modo, somos um povo, uma nação completamente endividada. Como os governos representam a sociedade, significa que as contas só têm um pagador. Você!

Agora emenda a notícia do dia 21 de novembro: ”A Receita Federal bateu novo recorde de arrecadação de tributos e impostos em outubro. O resultado representa uma alta de 12% em relação a outubro de 2006.” Entendeu? Uma coisa leva à outra!

Faz alguns anos, tive oportunidade de conhecer e conversar com Rui Nogueira, médico e escritor, natural de Blumenau, autor do livro “Servos da Moeda”, bem como das obras “Nação do Sol” e “Amazônia, império das águas”.

O autor é um daqueles brasileiros inconformados com nossa passividade diante das inúmeras formas de intervenção e dominação do capital (e interesse estrangeiro na economia e soberania nacional).

Sua narrativa e intervenção é no estilo de Bautista Vidal, outro brasileiro ilustre que prega a absoluta utilização das riquezas nacionais em prol do desenvolvimento das condições de vida dos brasileiros.

Servos da Moeda é um livro sobre a utilização e aplicação do dinheiro. Sobre a enormidade de juros e financiamentos que pagamos a vida inteira.

Não é um livro de doutores e de economistas. Como diz o autor, “é um livro do pensar, do bom-senso, da observação do dia-a-dia da vida, da compreensão da situação das pessoas. É o livro firmado no mais profundo sentimento humanista: o mundo tem que ser um lugar bom para todos viverem.”

E continua: “como acreditar na existência de uma “mão invisível” autônoma, que equilibra os mercados e os preços das mercadorias numa auto-regulação? Ainda mais nesta época da existência de redes internacionais de comunicação, com informações percorrendo distâncias à velocidade da luz e de corporações cada vez mais agigantadas e concentradas. Como pode haver mercado e concorrência com pouquíssimas empresas controlando as produções e as atividades mais essenciais à vida humana?”.

Quando travamos estes encontros com os sonhadores, com os inconformados, renova-se a esperança de que virá o dia em que todos os brasileiros terão vida digna e acesso aos bens da nação.

Renova-se a esperança de superação deste estado de mesmice e de passividade cívica.

18 novembro 2007

Factóide. Você sabe o que é?

Segundo a Wikipédia (a enciclopédia livre da internet), factóide é um fato divulgado com sensacionalismo pela imprensa. Pode ser verdadeiro ou não.

O propósito de um factóide é gerar deliberadamente um impacto diante da opinião pública de forma a manipulá-la de acordo com as aspirações de pessoas, empresas e/ou governos que se utilizam de sua influência na mídia.

Os responsáveis são pessoas que aspiram ao poder, fama e celebridade. Mas pode ser gerada também por alguém que queira destruir o poder, celebridade e fama de alguém.

Pessoas do meio artístico, principalmente, em busca de notoriedade, utilizam-se muito dos factóides. Mas empresas também podem construir cenários artificiais. Mas ninguém ganha dos políticos e dos governos.

Os factóides foram muito utilizados na época da guerra fria. No Brasil, seu uso foi iniciado nos anos sessenta para derrubar o governo do Presidente João Goulart.

Apesar de grande parte das pessoas perceberem as segundas intenções, ainda é uma técnica muito utilizada para a manipulação da população menos esclarecida culturalmente.

Diariamente, podem surgir na imprensa – rádio, televisão e jornais, e agora também na internet, através dos “blogs”, notícias que tem o objetivo de denegrir ou elevar alguém.

Por exemplo, agora e entre nós, no campo político governamental estão digladiando-se em produção diária de factóides os ministros Tarso Genro e Nelson Jobim.

No afã de não perder espaço na imprensa e manter um elevado índice de exposição, suficiente para ser lembrado como candidato a sucessão de Lula, ambos desdobram-se na produção de notícias e fotos.

Para apressar a extradição do ex-banqueiro Salvatore Cacciola, Tarso Genro, por exemplo, tratou de “enviar a si mesmo” à maravilhosa cidade-estado de Mônaco,

Além de diplomaticamente desastrada, pois o assunto é tratado entre Estados por cartas rogatórias, a documentação que levava estava incompleta. Faltava o mandado de prisão, traduzido para o francês.

Já o Ministro Nelson Jobim, desde que assumiu o Ministério da Defesa produziu uma interminável sucessão de factóides.

Em sua empáfia e estilo autoritário anunciou a demissão de diretores da ANAC (o que não é de sua competência).

Antes, na visita ao aeroporto de Congonhas, pós acidente da TAM, reclamou do tamanho das poltronas dos aviões. Depois, peregrinou pelo Haiti e pela selva amazônica em trajes militares. Segurou até macaco e uma cobra sucuri! Com direito a foto em todos os jornais.

Objetivamente, só não resolve os assuntos para os quais foi nomeado.

Mas factóides são uma praga geral. Em Porto Alegre, por exemplo, à véspera de cada eleição municipal os possíveis candidatos começam a falar sobre a expansão da linha do metrô. Conversa para enrolar o cidadão e eleitor. Mas com pose de seriedade!

A última foi a “descoberta” da Petrobrás. Bem em meio à crise de fornecimento de gás. Depois de haver induzido milhares de pessoas para converterem seus carros. Pois bem, esta notícia da Petrobrás tem dois anos. Do mesmo modo que outra, de 2003, relacionada ao campo de “Mexilhão”. Pode até existir o petróleo. Mas a notícia é velha!

Mas deu resultado. Muita gente ganhou dinheiro com a valorização das ações da Petrobrás na Bolsa de Valores. Alguns ganharam mais!

14 novembro 2007

Por que não te calas?

A força moral de um gesto

O bate-boca entre o polêmico e falastrão Hugo Chavez, "candidato" a presidente eterno da República da Venezuela, e o primeiro-ministro da Espanha, e que demandou a surpreendente intervenção do Rei de Espanha(veja o vídeo), deixa uma lição ao nosso Presidente e ao nosso Congresso, haja vista que aceitaram passivamente a expropriação de patrimônio nacional e o desrespeito aos contratos internacionais. Se falta não faz a alguns o orgulho e a dignidade pessoal, muita falta faz, ao contrário, à nação

08 novembro 2007

A Cor do Camaleão

“É muito difícil, talvez impossível, definir os limites da nova classe e identificar seus membros. Pode-se dizer que ela é constituída daqueles que gozam privilégios especiais e favoritismo econômico devido ao monopólio administrativo que detém.”

Do livro “A Nova Classe”(1957), de Milovan Djilas.

Já dizia o iugoslavo Milovan Djilas, ex-ministro, vice-presidente, dissidente e contestador do regime comunista, ao tempo de Josip Broz Tito: “É muito difícil, talvez impossível, definir os limites da nova classe e identificar seus membros. Pode-se dizer que ela é constituída daqueles que gozam privilégios especiais e favoritismo econômico devido ao monopólio administrativo que detém.”.

Não há nada de novo no front! O Politburo desdobra-se em procedimentos de contenção do dique comportamental rompido. Operações de mascaramento das relações noturnas dos companheiros da hora.

São waldomiros, delúbios, pereiras, valérios, jeffersons, jucás, meirelles, severinos, fundos de pensões, assistencialismos, aviões. São os substantivos e adjetivos novos que desafiam os dicionaristas de plantão. Quando pensamos que descobrimos seu significado/dimensão, surge nova significação/significante. É como querer descobrir a cor do camaleão.

Silêncio e distância agora são os novos papéis do mercado político. Ações/inações nem tão virtuais compradas com dinheiro real. É a repaginação, a releitura (diriam teatrólogos e decoradores) – da política!

01 novembro 2007

A Ditadura Parlamentar


A contínua incapacidade do setor público de realizar melhorias expressivas na oferta de bens e serviços públicos, notadamente nas áreas de saúde, educação e segurança, associada à crescente concentração e elevação tributária, têm aumentado o nível de repúdio, queixas e pressões da sociedade.

Objetivamente, trata-se da constatação de que a sociedade está desamparada e abandonada à própria sorte e às eventuais soluções tópicas e passageiras de livre contratação e oneração. Como afirmam os cidadãos:”paga-se tudo em dobro: para o Estado que não presta o serviço e para terceiros pelo serviço necessário propriamente dito!”

O exposto não é uma novidade. O que ora proponho é uma reflexão acerca da natureza do comportamento e da omissão dos parlamentares, depósitários naturais e legais da esperança popular. Principal e relativamente às áreas mencionadas, há um discurso de defesa “em tese e generalizado”, isto é, a rigor todos parlamentares defendem e são favoráveis a investimentos nas áreas de saúde, educação e segurança, bem como à redução da carga tributária. Entretanto, é um discurso para “manutenção de imagem”, tipo “todos defendem, logo preciso defender também”, haja vista que não há repercussões e soluções objetivas, nem comprometimentos sérios com estas transformações.

Esta não solução e inércia está relacionada ao permanente empenho de parlamentares e determinados setores empresariais – que poderiam incidir aguda e positivamente em movimentos de transformação – em “ficar de bem com o Governo” visando a obtenção e liberação de favores e verbas oficiais, ou evitar a hostilização política. Não lhes é “conveniente e oportuno” causar constrangimentos ao governo. Leia-se aqui “constrangimentos” como todos os movimentos políticos e econômicos relacionados a projetos e idéias que objetivam a solução/redução dos problemas apontados.

Importa relacionar também como elemento que contribui para o estado de inércia parlamentar o fato de que estes assuntos e temas não têm apelo eleitoral – embora devessem ter!, determinando a hegemonia retórica, política e eleitoral de assuntos pontuais e locais.

Nestes termos, combinada a natureza da omissão e as razões de conveniência pessoal, resulta que encontra-se escravizada a sociedade por uma ditadura parlamentar, em todos os níveis da organização do Estado brasileiro, seja no âmbito dos Municípios, dos Estados e da União.