Em eleições recentes, tanto na Europa quanto na América do Norte, a questão dos valores ético-morais ocupou uma parcela expressiva das campanhas políticas. Os ditos valores são aqueles tradicionalmente lembrados, a exemplo de mérito, autoridade, ordem, segurança, pátria e família.
Por sua natureza não conservadora, também são lembrados em discursos opostos as questões relacionadas à solidariedade, responsabilidade, universalidade e serviço público. Não menos importantes!
A oportunidade do presente artigo, convém observar, não implica defender uma perspectiva moralizadora de viés tipicamente conservador.
A pertinência do debate se constitui a partir da óbvia constatação de que a política virou caso de polícia e justiça.
Não é a toa que assistimos à plenitude da judicialização da política nacional. Aliás, essa judicialização não se dá em torno de questões de direito e liberdade, como seria normal, mas em torno da proteção de valores sociais, éticos e morais.
Na semana em que nossa comunidade foi “homenageada” com uma reportagem de repercussão nacional, e também face às eleições que se avizinham, é oportuno tecermos alguns comentários, mais precisamente sobre o relativismo ético-moral e a resignação do cidadão!
Inicialmente, importa observar que o rigor crítico da maioria das pessoas é relativo e, normalmente, opera-se conceitualmente da proporção da distância física da pessoa e do comportamento sob exame e crítica.
Dizendo de outro modo, é fácil criticar (embora com razão!) aqueles que estão longe (em Brasília, Rio, São Paulo), como deputados, senadores e empresários.
Ou criticando (também com razão!) o próprio Presidente da República, que continua nada vendo e sabendo sobre roubos e escândalos, inclusive no próprio andar de seu gabinete, e, pior, repetindo a ladainha “do nada sei!” como se nela acreditássemos. Embora alguns realmente acreditem!
Sempre se disse que o brasileiro é um sujeito pacato e passivo, acostumado a aceitar todas as adversidades pessoais e as causadas por terceiros (especialmente os políticos!).
Senão, como explicar a aceitação popular de tantos políticos com ficha policial e que acabam socialmente absolvidos e reeleitos pela própria população?
Estudiosos do comportamento humano afirmam que o homem resignado tem ambições concretas e pensa no futuro imediato, no necessário e no essencial. Regra geral de baixa escolaridade, não domina o pensamento subjetivo e nem de longo prazo.
Além de aplicar um relativismo moral e ético, o resignado eleitor suporta a tudo isso sem se revoltar e sem esboçar reação.
A tolerância do eleitor acaba por contaminar os partidos, que não só abdicam dessa crítica, como inclusive apresentam candidatos com perfis pessoais discutíveis e duvidosos.
Mas há algo errado se “todos” continuam falando de uma perda geral de valores, criticando o relativismo social, a falta de solidariedade, a deslealdade, enfim, as tradições abandonadas, a exemplo de moral e ética!
Então, como explicar, no âmbito familiar e comunitário, esse relativismo moral e esta resignação?
O relativismo ético-moral e a resignação evidenciam que “outros níveis de realidade” são muito importantes, como os negócios, os interesses, a “velha política e o velho direito”.
De modo que o discurso da moralização da vida pública está restrito aos ambientes internos, cínica e hipocritamente. À voz pequena, sem convicção!