30 novembro 2011

Crise e Mutação

Os anos recentes foram pródigos em crises nacionais e internacionais. Crises financeiras, econômicas, políticas e sociais. É o caldeirão universal fervendo em fogo alto.
Faz algum tempo os Estados Unidos e o Japão continuam em crise. E agora a Europa e os países árabes. E o próximo inquieto será a China. Que já tirou o pé do acelerador econômico-financeiro. Claro que tocante o político-social não tem papo, nem discussão pública. Reclamou, o “pau comeu!”
São fatos de natureza geopolítica com grande poder de propagação e influências (positivas e negativas) mundiais. Resumida e teoricamente, apontam para quatro conclusões, dizem os estudiosos em relações internacionais.
Conclusões, ou direções, se quiser, quais sejam: o declínio do poder norte-americano, um retorno ao militarismo, a intensificação das transformações periféricas e uma insurreição global.
Primeiramente, é evidente que há uma degradação das elites dominantes e conservadoras em todos os quadrantes de suas ações e reações. Todas as formas de dominação impostas ou consentidas que concentrem e usurpem poderes estão em crise. Mesmo as com origem democrática.
Quanto aos EUA, porém, não creio que haverá uma perda de poder. Poderá haver, quando muito, uma repartição ou equalização com outras potências atuais ou emergentes.
Bem, “retorno” ao militarismo é uma contradição, um paradoxo, quase uma piada. Afinal, as guerras de influência e ocupação nunca diminuíram, nem acabaram. Apenas trocaram de lugar. E tudo indica que o próximo lugar se chama Irã. Falsos ou verdadeiros, motivos não faltam. Os senhores da guerra nunca se preocuparam com as razões.
Aliás, os senhores da guerra bem sabem como começar suas guerras. A dificuldade, o problema, é como sair delas, é como acabar com as guerras. Mas esse é um problema dos patrocinadores, dos cofres públicos e das famílias dos sequelados e mortos de guerra.
O subproduto positivo (se é que podemos usar a palavra positivo em meio a tanta injustiça, mortes e destruição) é que os povos oprimidos despertam e determinam novos espaços e alternativas de rebelião e constituição de sua autonomia. E na medida em que um povo desperta de sua letargia e o outro não consegue “resolver sua guerra” temos uma nova relação de poder.
Então, sejam ou não especificamente os conflitos militares e as crises econômico-financeiras os estopins da – repito - intensificação das transformações periféricas e uma insurreição global, a verdade é que são bem-vindas e inadiáveis. Ainda que dolorosas.
As crises têm o mérito de obrigar a reflexão e a reação. Nos piores momentos recupera-se o sentido da solidariedade, da paz, da preservação ambiental e da natureza e fim do trabalho humano. As dores do presente dão lugar a surpreendentes forças naturais e positivas voltadas ao futuro.

23 novembro 2011

Emancipações e História

A importante reportagem da Gazeta do Sul sobre o aniversário de vinte anos das emancipações me anima a registrar mais alguns pontos. Sem falsa modéstia, participei ativamente desse processo. Minha colaboração se dava com palestras, relatórios e, principalmente, uma ação na retaguarda político-parlamentar. Afinal, trabalhava na Assembléia Legislativa, centro da decisão.
E tocante a nossa região e as comissões emancipandas, obtivemos uma audiência com o governador Collares. Como cidadãos, sem interferência partidária e sem ambições pessoais. Ofertadas as explicações, números, mapas, detalhes e projeções, prometeu não vetar a consulta plebiscitária.
Na raiz da dedicação e entusiasmo sempre esteve a convicção de que quanto maiores as distâncias geográficas entre as sedes e seus distritos, igualmente distantes e inexpressivas são as decisões, os orçamentos e investimentos que lhes favoreçam.
A mesma convicção que mantenho até hoje quando critico o exagero centralista que domina e atrasa o desenvolvimento do Brasil. Estados e municípios com menos poder e dinheiro que a União não prosperarão. Não é à toa que predominam o autoritarismo (legal), o desperdício e a corrupção!
No caso dos municípios, com o agravamento do êxodo rural e o inchaço dos centros urbanos ocorreu outro fator desfavorável aos distritos, qual seja: a perda e/ou redução da representação nas Câmaras Municipais. Faz tempo há inúmeros bairros na cidade que tem o dobro dos eleitores dos distritos.
Enfim, sucediam e acumulavam-se inúmeras razões que determinavam a inadiável importância das emancipações. Mas, infelizmente, muitos líderes e “poderosos de então” não enxergavam o óbvio. Possivelmente, preocupados com sua sobrevivência política e na manutenção de seus “currais” eleitorais. Sinimbu, por exemplo, deveria estar emancipado há 30 anos. Mas as incompreensões de então não foram superadas de todo. Atualmente, resta o caso da sempre emancipanda Monte Alverne. Sem dúvida, um “crime histórico”!
Da esquerda para a direita na foto ao lado estão: Astor Wartchow, Augusto Trevisan (Monte Alverne), Rui Barbosa de Souza (PDT), Alceu Collares (governador 1991-1994), Ireno Finkler (Vale do Sol) e Orlando Backes (Sinimbu).

17 novembro 2011

República não é!

Vou direto ao ponto. Não é uma república um país que escraviza seu povo através de um sistema legal e tributário em que o governo federal concentra sessenta por cento dos recursos arrecadados.
Não é uma república uma nação cujo povo sofre e vê, dia após dia, a corrupção disseminada e seu dinheiro escorrendo pelo ralo governamental em centenas de focos de desperdício e a “cupinização” de suas estruturas burocráticas.
Não é uma república um país em que o Parlamento renuncia ao seu dever e tarefa essencial, a exemplo de fiscalização e mudanças legislativas, e em que vigora a inoperância e a omissão dos políticos e seus partidos.
Claro que não é uma república um país cujo povo pretende ser reconhecido como nação, mas que tolera a espoliação e o deboche. Fosse outra a nação já estaria em situação de desobediência civil, modesta e comportada alternativa de protesto entre outras mais radicais.
Óbvio que não é uma república um país em que centenas de governantes e parlamentares falam subordinadamente acerca de suas relações de amizade com o governo central como fator de facilitação e obtenção de recursos financeiros para suas comunidades. Um ridículo discurso de “submissão real” e tributária que nos transporta de volta no tempo uns 150 anos.
Pior ainda: sem vergonha e em bordões sucessivos, cantam em prosa e vídeo nos seus palanques midiáticos e eletrônicos os atos de benemerência e generosidade real, em loas sem fim ao governo central.
Com certeza não é uma república uma nação que se revela omissa, seja por incompetência ou “interesse”. Ou não é o interesse menor que explica a bajulação que legitima e inspira a endinheirada “realeza brasiliense e sua corte”?
Não é uma república um país em que seu povo se “entrega” e assiste à metódica e sistemática desconstrução da verdade, sob o predomínio da indiferença e da não indignação. Mas se não é uma república, o que é?
Canso e paro. Mas pergunto de novo: uma nação que já se uniu em torno das bandeiras nacionais da anistia, das diretas-já e da constituinte, não será capaz de erguer a última e urgente, a única e fundamental bandeira? Ou já não há motivos de esperança relativamente ao federalismo e a república?
Talvez não sejamos merecedores da liberdade!

09 novembro 2011

Subdesempenho Satisfatório

A expressão que dá nome ao presente artigo está relacionada a conceitos da teoria econômica e da administração pública e privada. Há diferentes definições e de alcance variado. A professora da PUC - Minas Gerais, Betânia Tanure, também consultora e conselheira de empresas, assim afirma:
“Subdesempenho satisfatório é a definição de um estado de auto-elogios, uma “doença” que internacionalmente ataca empresas e outras instituições, inclusive governos. Trata-se de patologia em que condutores de uma organização, muitas vezes tomados por ilusões quanto ao sucesso dela, não percebem problemas que a acometem, e que podem levá-la a um subdesempenho futuro. Ou, então, eles são percebidos, mas menosprezados.”
É exatamente o que está acontecendo atualmente no Brasil. O país vem colhendo melhorias econômico-sociais nos últimos anos, mais precisamente desde e durante os governos Collor-Itamar-Fernando Henrique e Lula. Crises maiores ou menores, nacionais ou internacionais, não foram suficientes para impedir o processo de mudanças. Cada governo mencionado, a seu modo e oportunidade, contribuiu cumulativamente.
Claro que as maiores contribuições para a elevação de indicadores econômicos ficaram a cargo das empresas brasileiras que se adequaram a competição nacional e internacional e modernizaram seus equipamentos e processos de produção e qualificaram seus funcionários.
Embora os avanços econômicos, infelizmente o estado brasileiro - governo federal, principalmente, considerada a expressiva concentração de poderes e receita - não teve um desempenho de nível elevado e compromissado. Aí estão os negativos números relacionados aos indicadores de educação, saúde pública, segurança e infra-estrutura.
Mais terríveis e negativamente conseqüentes, porém, são os números relacionados à dívida pública, às taxas de juros, aos níveis de desperdício de dinheiro público com obras mal planejadas e altos índices de corrupção.
Possivelmente, a conta do ufanismo do ex-presidente Lula e sua incontrolável verborragia, anabolizada pelos índices de popularidade, muitos problemas foram minimizados e menosprezados. A propaganda oficial e a retórica irresponsável do “nunca antes neste país”, a partir de comparações indevidas entre diferentes governos, países, circunstâncias e crises (e não-crises) internacionais, criaram um estado de espírito que contagiou e cegou muita gente.
Claro que há indicadores que nos colocam entre as grandes nações, mas há dezenas de outros indicadores sociais e econômicos que desmentem o discurso e ufanismo oficial e desmoralizam a administração da coisa pública.
Basta examinar os indicadores de desenvolvimento humano, competitividade econômica, qualidade da infra-estrutura e ambiente de negócios, por exemplo. Relativamente ao PIB, é baixíssimo o índice percentual de recursos públicos destinados para investimentos. Onde está o restante do dinheiro?

02 novembro 2011

Lula e o SUS

O ex-presidente Lula trocou o “mais perfeito sistema de saúde pública do universo” (lembra?) pelo hospital mais caro do Brasil.
Não está errado. Saúde é tudo na vida.
Errado foi ele ter falado aquela asneira!

Todo Cambia

A cantora argentina Mercedes Sosa (1935-2009), que não canso de escutar, canta em “Todo Cambia”, literalmente, que ”muda o que é superficial, muda também o profundo, altera o modo de pensar, muda tudo neste mundo.
Muda o percurso do sol quando ainda é noite, muda a planta que se veste de verde na primavera. Muda o pêlo da fera, muda o cabelo do homem velho.
E assim como tudo muda, que eu mude não é surpreendente. O que mudou ontem, terá que mudar amanhã. Mudar tudo muda. Mas isso não muda o meu amor.”
Dizem que mudamos por três motivos principais: a idade, a necessidade e a vontade. Há mudanças que aceitamos com naturalidade. Outras não. Conseqüentemente, muda nossa percepção do tempo e das coisas em derredor. E muda a nossa escala de valores.
Fatalidades familiares e doenças são um exemplo radical de razão de mudança. Invariavelmente, nos conduzem a novos hábitos de comportamento e alimentação, novas perspectivas tocante a idéia e o sentido da vida e do que vem a ser felicidade.
Há muitas mudanças cuja motivação e razão estão fora de nosso controle. Causas externas que exigem modificação em nosso comportamento. Por exemplo, trabalhadores trocam de emprego e trabalho devido a uma demissão. Assim como novos produtos, tecnologias e concorrentes são mudanças externas que determinam importantes mudanças internas na empresas e no comportamento de empresários.
Regra gera, temos muita dificuldade de realizar mudanças. Recusa de “ver” e diagnosticar um problema, medo, adiamentos e desculpas sucessivas. É como se estivéssemos sempre à espera de um empurrão, uma magia, uma motivação especial.
Supondo que todos mudamos para melhor, ou ao menos gostaríamos de mudar para melhor, a grande lição que aprendemos a vivenciar com as mudanças, é que elas poderiam ter acontecido antes e de forma mais tranqüila.
E no centro de tudo está a vontade. Especialistas dizem que a necessidade atua sobre a cabeça (razão), ao passo que a vontade mexe com o coração (sentimentos). Que a vontade está relacionada com o prazer e bem estar. Enquanto que a necessidade está relacionada à obrigação e ao dever. Mas sem o mesmo prazer determinado pela vontade.