21 dezembro 2011

Transparência Pública

A sucessão de escândalos nas esferas de poder, sejam municipais, estaduais e/ou federais, e, ultimamente, nem mais restritas aos poderes executivos e legislativos, mas alcançando também o poder judiciário, aumentou a distância entre o cidadão e seus representantes públicos, eleitos ou não.
A desconfiança popular é generalizada tocante às instituições, às pessoas e a forma de proceder daqueles que nos governam e representam.
Ainda que periodicamente haja a identificação de alguns infratores e procedimentos irregulares, não têm sido o bastante para diminuir a incidência. Talvez porque renovadamente não haja conseqüências penais e punitivas aos criminosos. Conseqüentemente, a incidência, a reincidência e a impunidade agravam o sentimento de orfandade dos cidadãos.
Assim, reivindicação permanente é a criação e disponibilização de mais mecanismos para controlar as contas e negócios públicos e inibir a criminalidade.
Porém, tirante algumas “invenções virtuais” que pretendem democratizar as informações e valorizar os “tribunais” de recomendação ética, não há nada de novo que enseje esperanças ao cidadão e contribuinte tocante a identificação, afastamento e punição dos delinqüentes.
Essa continuada decepção pública é percebida nos níveis de atividade e qualidade partidária interna. O processo de filiações e candidaturas é medíocre, frágil e modestíssimo. O debate político ideológico simplesmente não existe mais. O pragmatismo, o clientelismo, o adesismo e outros “ismos” colocaram os partidos de joelhos.
Não é a toa que os mesmos cidadãos que se afastam da política partidária e oportunidade eleitoral procuram o envolvimento e as atividades comunitárias, cooperativas, de intercâmbio e de solidariedade. Parece evidente que os cidadãos mais informados e preocupados procurem exercer o controle e a fiscalização pública fora dos partidos. Por outros meios e através de entidades sócio-comunitárias.
Então, concluindo, estes procedimentos e ações que os poderes de estado, especialmente o poder executivo, pretendem oferecer ao público como uma forma de transparência são muito modestos e insuficientes. E, para dizer a verdade, simulados e manipulados.
A transparência é mais do que oferecer alguns dados orçamentários e contratuais via internet, ou exibir alguns números (incompreensíveis!). Transparência é muito mais que um mecanismo de conhecimento e vigilância popular. É mais que uma garantia de um direito de ação e reação. Transparência é um valor!

14 dezembro 2011

Desejos

Invariavelmente, com a proximidade do fim-de-ano e suas respectivas festividades também começam os “balancetes de nossas operações de débitos e créditos” pessoais.
É a inevitável “contabilidade de receitas e custos dos negócios” afetivos e não-afetivos vivenciados ao longo do ano. Bem como um “orçamento” das estimativas e expectativas em torno das relações vindouras.
Razão de poucas alegrias e muitas frustrações, os atuais são tempos e valores diferentes daqueles que vivenciamos em anos nem tão idos, embora já cobertos pelo pó da história.
Se antes havia alguns e poucos parâmetros mais ou menos estáveis e comuns a todos, e, portanto, facilitadores dessa “contabilidade e balancete”, os ditos hipermodernos são extremamente dinâmicos e variados. E inquietantes!
Afinal, vivemos o auge do desconforto pessoal. Nunca fomos tão narcísicos, tão individualistas e, vejam só, tão dependentes. Ironicamente!
Não é a toa que à sombra (e assombrações) dessa inquietude e desconforto cresce a cultura e a indústria da teoria da auto-ajuda, sob os lemas “querer é poder” e o “sucesso é ser feliz”.
Um tsunami de palavras e jogos de efeito psicológico, embalados e motivados pela voz que vem de fora. Mas não iludem-se os súditos da nova seita? Alguém acredita que manuais de conduta são capazes de enfrentar e superar as contradições da voz que vem de dentro?
E assim, dia após dia, discurso e expectativa ufanista e realidade pessoal chocam-se e aumentam o número de inquietos e desconfortáveis.
Motivados a conjugar o verbo no singular, esquecemos a lição principal que a vida ensina: o verbo da vida é no plural. Somos vocacionados e destinados ao convívio, que gera desencontros, tristezas, tensões, mas também gera encontros, felicidades e relaxadas uniões e reuniões.
Creio que não serão os medicamentos e os livros de auto-ajuda que resolverão os conflitos de nossas almas e as contradições de nossos desejos.
O grande filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) já dizia: "Nossa vida não é dirigida pelo intelecto, mas por uma impetuosa e persistente força interior: a força do desejo.
Se o intelecto parece, às vezes, orientar a vontade, é apenas como um guia que orienta seu patrão. A vontade é o "cego robusto que carrega nos ombros o homem aleijado que vê. Não desejamos uma coisa porque encontramos razões para querê-la; procuramos razões para querê-la porque a desejamos”.



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07 dezembro 2011

O Estopim da Greve do Magistério

Primeira e obviamente, importa dizer que somos solidários à luta do magistério por melhores salários e condições de trabalho condizentes com sua histórica e honrosa tarefa.
Porém e infelizmente, o aparelhamento ideológico do CPERS determinou sua crescente perda de legitimidade e credibilidade pública. Esse aparelhamento político-partidário-eleitoral – e estamos falando de sua petetização! - alcançou níveis e práticas em que as reivindicações davam e dão lugar a sistemática ofensa e desqualificação dos governantes, praticamente impossibilitando diálogos e negociações.
E o auge dessa histeria foram os sistemáticos ataques a ex-governadora Yeda Crusius, sobretudo naquele grotesco episódio de ato de protesto em frente a sua casa. Parênteses: não vale a desculpa de que a casa estava no centro de um provável escândalo sobre arrecadações e prestações de contas financeiras pós eleitorais mal-explicadas.
Fica evidente também, e isso é um problema sério, que há uma crise de lideranças, de novas, esclarecidas e emergentes lideranças no magistério, que possam se contrapor internamente.
Dito isso, entretanto - ainda que possa parecer contraditório – também importa anotar que o estopim anímico da última greve é responsabilidade do governador Tarso Genro.
Ocorre que pareceu provocativo e foi absolutamente incoerente e inadequado a concessão de expressivo aumento salarial para diversos cargos em comissão, todos objeto de indicações partidárias.
Ainda que a pretexto de adequações salariais e funcionais (sic) e com a aprovação da maioria parlamentar pró-governo na Assembléia Legislativa. E nem falamos de outras categorias privilegiadas que estão na fila!
Sabidamente a realidade econômico-financeira do Estado é gravíssima. A escassez de recursos vai durar longos anos e sua superação depende quase que exclusivamente de nosso claudicante crescimento econômico e do controle de gastos governamentais.
O governador errou e contribuiu para o acirramento da insatisfação do magistério e a conseqüente greve. Concluo que não foi uma greve de reivindicação. Foi uma greve de indignação. Uma greve que protestou pela inversão de prioridades públicas.
Resumo da ópera-bufa: saimos todos derrotados!