26 dezembro 2012

Paranoia Política

Questões econômicas e políticas têm sido objeto constante de meus artigos. Há muito tempo. Bem antes da presente e semanal coluna de opinião. E embora sempre tenha tido filiação partidária e convicções ideológicas, isso nunca confundiu minhas avaliações, nem foi razão para má vontade ou deslealdade com as opiniões e crenças alheias. Regra geral, porém, sempre “dando um pau” nos governantes, fosse um representante (partidário) de minhas convicções, ou um representante (adversário) daquilo que ideologicamente não defendo. E por que “dando um pau” nos governantes? Infelizmente, a encenação e prática político-partidária brasileira são repetida e essencialmente demagógicas. E isso, especialmente, acho inaceitável, seja quem for o governante, seja qual for seu partido e sua apregoada ideologia. Intolerável por que é uma conduta deseducadora e messiânica. Explica e determina nosso atraso. São atitudes e aspectos políticos que o povo precisa rejeitar e superar. Explica porque minhas (muitas) críticas se sobrepõem aos (escassos) elogios. Mais: porque proporcionalmente ao que o povo paga em tributos e sofrimento, os episódicos (e solitários) avanços institucionais e sociais que vivenciamos são insuficientes para que as autoridades se ufanem. Afinal, os auto-elogios não resistem aos chocantes números e indicadores sociais e econômico-financeiros. Entre alguns emails que recebo (principalmente, quando critico os governantes) há aqueles que se auto-atribuem (extensivamente aos seus partidários governantes) conceitos e adjetivos de elevada auto-estima. Ainda que o comportamento dos seus idolatrados líderes e os fatos não correspondam às virtudes e feitos proclamados. Politicamente falando, a frustração e evaporação de expectativas são uma praga brasileira. Começa-se com pequenas concessões e acaba-se em grandes escândalos. Estes fenômenos de transformação da essência partidária e ideológica – para pior - não são novos. Apesar das negativas e tergiversações de fiéis seguidores e devotos. Fiéis e devotos? Sim. Compreensível. A política tem muito em comum com as paixões humanas. Com nossas idealizações. Regra geral, não queremos “ver” os defeitos da pessoa amada. Cada comentário alheio criticando seu comportamento e reputação soa como uma ofensa. Nesses casos, de um estado de razão para a paranóia é um passo.

19 dezembro 2012

Tombamento do Olímpico

Como o Estádio Olímpico foi entregue como parte no negócio do Grêmio com a construtora OAS, será implodido no decorrer de 2013. Mas, agora, levantam-se vozes querendo preservar o estádio, defendendo seu tombamento. Tombamento é um ato administrativo realizado pelo Poder Público com o objetivo de preservar bens de valor histórico, cultural, arquitetônico, ambiental e afetivo, impedindo que venham a ser destruídos ou descaracterizados. Em outra circunstância – antes da contratação do negócio Grêmio-OAS, talvez a iniciativa pudesse se caracterizar como oportuna e interessante, tanto pelo aspecto de preservação arquitetônica, quanto pelas razões históricas, esportivas e culturais. De todo modo, o tombamento em geral é uma “violência” contra o direito de propriedade. E mesmo quando se justifica o tombamento, quase sempre é injusto com o proprietário. Pela falta de ressarcimento do possível e potencial valor de venda, e tocante os custos de manutenção do respectivo imóvel. A razão desse artigo, entretanto, não é discutir a sugestão de tombamento do estádio Olímpico ou de outros imóveis. É chamar atenção para uma das pragas nacionais, com certeza razão principal de nosso atraso sistêmico e sistemático no concerto das nações. Qual seja, o desrespeito ao contratado e combinado. E vale para tudo. Horários, contratos, obras, serviços, propriedades e bens públicos e privados. Regra geral, nada respeitamos. E ainda há quem se surpreenda por que as coisas não funcionam ou se mantém irregulares. Ao contrário do que deveria ser, entre os mais desrespeitosos agentes encontra-se o setor público. Aí estão os precatórios. As obras infindas e incompletas. Os serviços de saúde, educação e segurança impotentes. Não é a toa que órgãos públicos são os mais notórios litigantes junto ao Poder Judiciário. No pólo passivo, óbvio. Mas no ambiente das relações privadas também não é muito diferente. Aí estão em larga escala as invasões, depredações e fraudes. E produtos e serviços de duvidosa qualidade. Diferentes modos e formas de frustrar o pessoalmente contratado e socialmente combinado. Então, resulta que os escorchantes tributos e as altas taxas de juros (duas outras pragas nacionais) praticadas não decorrem apenas dos elencados déficits públicos e dívidas contratadas. São elevados porque estão embutidos riscos e ônus inerentes aos negócios. E qual o principal risco inerente? Não cumprimento do combinado e contratado.

12 dezembro 2012

Reféns da Criminalidade

Sábado à noite. Cinco minutos depois de minha chegada, a aniversariante abria novamente o portão para receber mais um casal de convidados. Foram surpreendidos por um ladrão de carros. Com o revólver “três-oitão” na cabeça das vítimas, pediu as chaves e documentos. Felizmente, ninguém reagiu. Essas cenas se repetem todos os dias e noites em todos os municípios brasileiros. Muitas vezes com conseqüências trágicas. Enquanto acontece com o outro, não damos muita “bola”, certo? Afinal, vivemos tão (con)centrados em nosso “umbigo” que não paramos para refletir sobre o estado das coisas e as soluções necessárias para sua superação. Refiro-me à questão social e ao banditismo. A pobreza, o desemprego, as crianças na rua sem pai nem mãe, o lixo revirado por humanos famintos e carentes, comércio de drogas, a miséria humana em cada calçada. E, a reboque, o banditismo e a inerente e conseqüente violência. Apesar de nosso “faz de conta que está tudo bem”, sentimos a constância do golpe e a realidade negativa. Sabemos que estamos acuados e ameaçados. O que são nossas casas e pátios, edifícios e empresas? Todos gradeados. Altos muros e cerca elétrica. Alarme na casa e cão feroz no pátio. À porta das casas e edifícios, guaritas guardadas por subempregados fazendo “bico”. Gente com medo “protegendo” outras pessoas com medo. As ruas são imensos corredores gradeados. Verdadeiros alçapões. Quem buscar socorro em alguma casa ou pátio alheio, não tem por onde entrar, para onde correr. Presa fácil do bandido da hora. Sitiozinho? Quem não sonhava com um nas imediações da cidade, para morar ou repousar e praticar horticultura, receber familiares e amigos? Historicamente pacatas e pacíficas, as pequenas vilas e cidades do interior também já vivenciam a crescente violência e criminalidade. Drogas, assaltos, invasões, bancos e caixas 24 horas são explodidas. Sem cerimônia. Assim tomados de medo, ainda que dissimulado, em cada transeunte que passa vemos um suspeito, uma ameaça ao nosso bolso e integridade física. Estamos afundados na síndrome do pânico, da desconfiança, da insegurança. Incapazes até de reagir construtivamente. A exceção dos otimistas, lógico. São os desinformados. Estamos todos absolutamente errados e omissos sobre esse assunto. Os governantes com seus discursos ufanistas e demagógicos. E nós cidadãos por acreditarmos que as autoridades serão capazes de resolver o assunto. Como que cegos e autistas, ainda há pessoas que acreditam que somos um povo feliz e cordial! Ora, ora, por favor, simplesmente somos uma nação à beira de um ataque de nervos. Reféns da criminalidade!

05 dezembro 2012

O Silêncio de Marisa

Os lulo-petistas fanáticos acham que é tudo conspiração para destruir o legado de Lula. “Negócios milionários do filho Lulinha (aquele que tem o talento do Ronaldinho para os negócios!), ministros malandros, dinheiro no Banco Espírito Santo (Portugal), mensalão, a amante Rose, etc...” Nada disso seria verdade. É tudo invenção do “partido da imprensa golpista”, afirmam. Quem também alega conspiração é o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, apontado como preferido de Dilma para a próxima vaga no Supremo Tribunal Federal (STF). Seu adjunto (e pessoa de confiança) está diretamente envolvido no atual escândalo. Com certeza, Adams “bailou na curva”. A “queimação” de Adams fortalece o nome de outro pretendente à vaga no STF. É o ministro da Justiça Eduardo Cardozo (PT), coincidentemente também “chefe” da Policia Federal. Mas como Cardozo pretenderia ser indicado por Dilma, atingindo em cheio seu próprio governo? Provavelmente, talvez não soubesse de nada. Ironicamente, parece que a presidente Dilma também faz parte da conspiração. Afinal, a operação policial aconteceu com seu conhecimento ou não? E se fosse com seu conhecimento, então seria para “queimar” quem? Lula? A criatura se voltando contra o criador? Mais: a cada escândalo patrocinado pelos “filhotes e apadrinhados” de Lula, Dilma faz demissões em massa. Dilma tem altos índices de aprovação popular. Com certeza, gostaria de concorrer novamente. Mas Lula também quer concorrer novamente. Mas, com demissões de ministros e escândalos sucessivos atingindo Lula, não o ferem de “morte” política? Mas Dilma também deve explicações. Se o escritório era e é importante, por que não somente substituir as pessoas sob suspeita? E por que fechar agora? O escritório era do governo federal ou só de Lula e sua rosa púrpura? Como é normal ninguém saber, nem ver nada no governo central, compreensível que Dilma também não soubesse de nada. Uma regra palaciana. Enquanto isso, Lula continua não “vendo” nada, nem “sabendo” de nada. Bom seria se começasse a ler jornais e revistas. Trocar o grau dos óculos. Usar um colete para evitar as punhaladas nas costas. E trocar de amigos e companheiros: vive dizendo que foi traído. Sinceramente, perdoem minha ironia, mas é difícil levar isso tudo a sério. O governo, os “seguidores” fanáticos, o Congresso (faz de conta) Nacional. Até seria novelescamente divertido se não custasse muito dinheiro público e a desmoralização da república. Agora, finalmente, tudo indica que é possível compreender a razão do “permanente” silêncio da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Devia ser por puro constrangimento. Ou será que ela também não sabia de nada? Ainda bem que o povo também não sabe de nada. Tudo poderia ser bem pior!

28 novembro 2012

Faixa de Casa

Não, você não leu mal. E nem eu escrevi errado. Não estou falando da Faixa de Gaza, do angustiante e mortal conflito entre judeus e palestinos. Povos e comunidades que convivem conosco há décadas, razão de amizade e admiração, têm nossa torcida para que cheguem a um consenso pacificador e definitivo. Principalmente, em prol da criação do Estado da Palestina. Entretanto, enquanto que no Oriente Médio amplia-se a tensão e a distância entre judeus e palestinos, o que ocorre entre nós, brasileiros, há muito tempo? Crescentes favelas, casas muradas de afiados arames e cercas elétricas, cães ferozes, guaritas e guardas, na nossa “faixa de casa” fortalecem-se os muros reais e imaginários que concretizam e aumentam a indiferença, a discórdia e a violência. Com uma taxa de extermínio bem maior que guerras e conflitos mundiais recentes, 45 mil brasileiros perdem a vida a cada ano. Embora tenhamos apenas 3% da população mundial, realizamos 13% dos homicídios. Campeões mundiais. Uma síntese e conseqüência trágica da combinação de problemas e desigualdades. Baixa escolaridade geral, desintegração familiar, desigualdade de renda e trabalho, desemprego, urbanização desordenada, segregação sócio-espacial e narcotráfico. Crimes e mais crimes. Regra geral: a impunidade. Pior: os números criminais têm expressiva conexão com os números relativos aos jovens. Trinta milhões têm entre 15 e 24 anos. Dezessete milhões não estudam. Metade são desempregados. A absoluta maioria é pobre. Uma geração completa que nasceu e cresceu sob o signo da violência. Conseqüentemente, de parte dos jovens sobrevêm uma sensação de impotência, uma descrença na família, na comunidade e nas autoridades. Desdém com o esforço coletivo, desrespeito às normas e às regras de convivência. Uma crise de valores e falta de perspectivas pessoais. A incompetência e as dificuldades operacionais dos governantes – além da histórica impunidade - traduzem-se num estado de pânico, uma síndrome social e nacional. Além de transformações sociais, a população continua esperando por respostas práticas e objetivas para o enfrentamento da criminalidade, seja pelo aparelhamento e reforço policial-repressivo, seja pela melhoria e ampliação dos presídios, seja pelo reexame e adoção de outros modelos punitivos na área judicial. A filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) ensinou que o fenômeno da violência e seu incremento são decorrência da ausência da (boa) política. Se Estado e sociedade se omitem, os vazios de organização e poder são ocupados por outras formas de organização e poder. Regra geral, pelo predomínio do medo e da violência.

21 novembro 2012

Proteção Demais Enfraquece

As razões mais expressivas para a degradação da educação nacional estão dentro de nossas casas e nas nossas famílias, seja tocante aos níveis de escolaridade e qualidade humana, mas principalmente em relação ao comportamento pessoal. Sem dúvida, vivemos uma grave crise de autoridade e liderança familiar. Tolerância em demasia e omissão no acompanhamento dos estudos e práticas comportamentais dos filhos. Afinal, não é a toa que assistimos diariamente tantos casos de atos de violência, covardia, abusos, omissões e indisciplina, patrocinados por jovens, sejam homens ou mulheres. Conseqüentemente, caímos na inevitável tentação de comparar gerações. Muitas vezes proferidas por nossos pais, as frases abaixo destacadas são exageradas, é verdade, e, aos dias de hoje, completa e politicamente incorretas. Mas sua “didática”, de então, parece ter gerado melhores resultados que as modernas receitas pedagógicas. Gestos e atos paternos e maternos que, atualmente, são condenados pelos especialistas em educação, pedagogia e psicologia. Frases e ameaças simbólicas (ou não) que resultaram em ensinamentos que valorizam alguns aspectos da vida. Ironicamente, hoje tais frases do passado parecem soar como expressões cômicas (mas não menos verdadeiros). Vejamos: Sobre hierarquia, determinação e estudos: "Porque se eu digo que é assim, ponto final! Quem é que manda aqui?” Ou: "Vai ficar aí sentado até comer toda comida!” Ou: "Junta agora esses brinquedos. Pega um por um!” Ou: "Se eu for aí e você não tiver terminado essa lição escolar, você já sabe!” Sobre desafios e raízes familiares: "Olhe para mim. Responda quando eu te fizer uma pergunta!" Ou: "Computador novo? Está pensando que nasceu de família rica, é?”. Sobre sabedoria e justiça: "Quando você tiver a minha idade, você vai entender.” Ou: "Um dia você terá seus filhos, e eu espero que eles façam pra você o mesmo que você faz pra mim. Aí, você vai ver o que é bom!”. Outro assunto. Ou será o mesmo? Estamos de acordo que lugar de crianças e adolescentes é na escola. Mas durante algumas horas do dia, em casa e fora do horário de estudos, crianças de 12 a 18 anos também podem trabalhar e ajudar os pais. Alguém tem dúvida que o trabalho, noções de dever, compromisso e responsabilidade, são ótimos “professores e educadores”? Mas, ultimamente, governantes, leis, promotores e juízes acham que não. Infelizmente, esquecem uma óbvia lição histórica e milenar: proteção demais enfraquece!

16 novembro 2012

PARA COMPREENDER A VIOLÊNCIA (em Zero Hora de 16.11.12)

Nós estamos no fundo do poço. Há quem diga que já passamos do fundo do poço. É verdade. Basta relacionarmos os inúmeros episódios passados e recentes de violência explícita. E nem falarei sobre presídios lotados, processos parados e inquéritos não terminados ou nem iniciados. Lembra: a morte do índio pataxó (queimado por jovens de classe média), o jornalista Tim Lopes (torturado e queimado por bandidos), o recente caso do mendigo de Caxias do Sul, a série de crianças estupradas e assassinadas, os ônibus incendiados com passageiros dentro, os ataques no Rio de Janeiro, em São Paulo e, agora, em Santa Catarina. É uma lista sem fim e sem limites de crueldade. E qual tem sido nossa reação ao crime organizado e à violência em geral? Abaixo-assinados, passeatas, criação de ONGs, entre outras atitudes passageiras e sem objetividade prática. Enfim, notícias de jornal e TV que noutro dia dão lugar às notícias mais recentes (novos crimes). Em comum, nossas reações têm o pedido de paz. Paz? Paz, não! Queremos justiça, ação policial, condenações, prisões. Ação de estado! Mas, sobre os pedidos de paz, façamos uma reflexão. Um raciocínio de natureza filosófica, de elucubração, pretendendo a compreensão e/ou constituição racional das coisas que nos cercam. A professora paulista Marilena Chauí (USP), em um antigo estudo sobre a violência, já observava que vários “dispositivos” e atitudes contribuem para ocultar a violência real e suas razões. Entre eles, destacava: (1) um sistema jurídico que localiza a violência apenas nos crimes contra a propriedade e a vida; (2) um sistema sociológico que considera a violência um momento no qual os grupos sociais “atrasados” (eles) entram em contato com grupos sociais “modernos” (nós). É o momento em “os desadaptados” (eles) tornam-se violentos; (3) a vigência de uma distinção entre um “nós brasileiros não-violentos” e um “eles violentos”. “Eles” são todos aqueles que, “atrasados” e deserdados, empregam a força contra a propriedade e a vida de “nós brasileiros não-violentos”; (4) e uma prática de distinção entre o essencial e o acidental: a sociedade brasileira não seria violenta. A violência seria apenas um acidente na superfície social sem tocar em seu fundo essencialmente não-violento. Isto explica, inclusive, porque os meios de comunicação se referem à violência com as palavras “surto”, “onda”, “epidemia”, “crise”, isto é, palavras que indicam algo passageiro e acidental. Conseqüentemente, as desigualdades e as exclusões, o autoritarismo que regula todas as relações sociais, a corrupção, o racismo, o sexismo, as diversas formas de intolerâncias, não são consideradas formas de violência. Isto é, a sociedade brasileira não é percebida (e não se auto-percebe) como estruturalmente violenta e por isso a violência aparece como um fato esporádico superável. Esporádico e superável? Afinal, somos ou não somos violentos? E o que você acha? Pare, pense e reflita! Talvez o “caminho da salvação” passe pela ampliação e aferição dessa compreensão.

14 novembro 2012

OS "REIS DO PUXADINHO"

É histórica (e quase unânime) a compreensão de que a antecedência do Estado - antes que surgisse uma sociedade brasileira – é fator responsável por muitos males que atrasam nosso desenvolvimento sócio-econômico. Os reflexos negativos da conseqüente adaptação e submissão da sociedade ao estado. E entre estes males, a questão da reiterada descontinuidade administrativa, presente em todos os níveis da administração pública. Objetivamente, sucede que à posse de cada novo governante recai sobre nosso povo uma avalanche de idéias e ações que se pretendem reformadoras, quando não “revolucionárias” (sic). Os (novos) governantes acreditam que estão predestinados a fazer “a reforma das reformas” no aparelho estatal. E assim estamos permanentemente “reformando o estado”. Por quê? Porque tudo que o outro (governante) legou, não presta. É um estigma. Uma maldição. Invariavelmente, o resultado de cada intervenção tem um subproduto pior. Primeiramente, porque pessoas e necessidades públicas que deveriam ser o objeto principal da ação do estado (e sua anunciada reforma) são sempre e novamente relegadas ao segundo plano. Reiteradamente são favorecidos setores e classes já abonadas e, obviamente, onerada toda a população nas crescentes taxas de espoliação tributaria. Sistematicamente falhamos no planejamento. Nossas políticas públicas não resistem ao tempo e as sucessões político-partidário-administrativas. Boas intenções e retóricos planos não se confirmam na prática e na contabilidade final. Desculpas nunca faltam. Obstáculos político-partidários, gargalos institucionais, excessos burocráticos, incapacidade financeira e insuficiência técnica de gestão, entre outros. Resultado final: frustrações, perda de tempo e desperdício de dinheiro público. A frustração popular também resta agravada porque sempre se dissera que o esmero e o extremo da prática democrática provocariam o desenvolvimento e as superações. Não é verdade. Agora, bem sabemos que a prática da democracia não ocasiona por si só o desenvolvimento almejado e a qualidade necessária. Ainda que possamos registrar melhorias nos níveis de erradicação da pobreza e elevação dos níveis de consumo popular, ainda vigem e pairam sobre nós as centenárias práticas do patrimonialismo, do feudalismo, do clientelismo, do mandonismo e do personalismo. Há uma lista interminável de outros “ismos”. A não superação desses “pecados capitais” é a causa fundamental da não continuidade administrativa e do não êxito de todas as reformas intentadas e tentadas. Somos os “reis do puxadinho”!

07 novembro 2012

Uma Questão de Princípios(ainda o mensalão)

O anarquista e pensador político russo Mikhail Bakunin (1814-1876) foi profético: "(...) chega-se ao mesmo resultado execrável: o governo (...) se faz por uma minoria privilegiada (...) tão logo se tornem governantes (...) não mais representarão o povo, mas a si mesmos e suas pretensões de governá-lo. Quem duvida disso não conhece a natureza humana”. Antes de sua expulsão do PT (2003), a senadora alagoana Heloisa Helena também foi visionária: “(...) considerava que o nosso Governo teria a obrigação de mostrar ao País o que dizíamos que eram os crimes contra a Administração Pública, o tráfico de influência, a intermediação de interesses privados...” Nunca tive dúvidas sobre a dimensão e o significado do escândalo do “mensalão”. Em 2005, escrevi e publiquei dois artigos sob o título “Renuncie, presidente!”, apesar de pessoal e convictamente haver votado quatro vezes em Lula. Seria ousadia, absurdo e impertinência pedir a renúncia do presidente da república? Acredito que não. Pelo conjunto do que foi filmado, dito, testemunhado, investigado e apurado, somado a comprovável e repetida retórica e vocação petista para hegemonia (observe as queixas de seus parceiros eleitorais!), não restava dúvida quanto ao evidente atentado ao sistema democrático, à expensa do dinheiro público desviado ardilosamente via negócios fraudulentos. Entretanto, nem Lula se considerou pessoal e politicamente responsável. A rigor uma hipótese desmentida na sua própria entrevista e pedido de desculpas em Paris. E nem a oposição foi competente e capaz de acusá-lo e promover o processo de “impeachment”. Talvez a oposição nem quisesse. O PSDB, principalmente, escaldado pelo risco do “rabo preso do mensalinho mineiro”. Onde, dizem, que tudo começou! À época também havia a preocupação com a governabilidade. Afinal, já tínhamos passado pela desagradável experiência da cassação do presidente Collor (1992). Aliás, financeira e judicialmente comparado com o “mensalão”, o caso Collor é “de pequenas causas”. Também não justifica a omissão tocante a responsabilização do presidente Lula o fato de ter tido expressiva votação e reeleição. Ou por ter sido um bom e popular presidente, segundo alguns. A reverência pessoal e os supostos temores socioeconômicos não deveriam ser argüidos para deixar de combater e refutar o ataque sofrido pelo sistema democrático, aos princípios republicanos e ritos constitucionais. Pertinentemente, quando é desencadeado um processo de responsabilização e possível “impeachment presidencial” não se está apenas questionando o governante e seu partido, mas, essencialmente, se está tratando de preservar os valores éticos e sociais que devem nortear e garantir a república. É uma questão de princípios.

31 outubro 2012

Estados Unidos do Mundo

O “mundo” acompanha o processo eleitoral dos Estados Unidos da América, mais precisamente a disputa entre o atual presidente e democrata Barack Obama e o republicano Mitt Romney. E por quê? Porque os EUA estão presentes em todos os cantos do universo, para o bem e o mal. Desde a tragédia das torres gêmeas nova-iorquinas alimentou-se a esperança e a utopia de que norte-americanos melhor compreendessem seus exageros intervencionistas/imperialistas e agissem em sua contenção e moderação. Mera ilusão! Os EUA constituem-se no grande império econômico-bélico, sem precedentes na história do mundo, e não haverá de sensibilizar-se com crises de identidade de outros povos, notadamente àqueles subordinados e dependentes. Isto significa que se dispõem a pagar o preço e o custo da hegemonia, inclusive com vidas humanas, próprias ou de outras nações. Então, dada sua “vocação” imperialista, não se limitarão às suas expostas razões de combate ao terror, mas promoverão e garantirão sempre a (re)definição dos papéis globais, dos territórios de dominação e da qualidade e natureza intervencionista. O pós-guerra fria determinou aos demais países a inevitável (e seja o que Deus quiser!) convivência com uma superpotência remanescente. Irônica e cinicamente, os EUA realizam um discurso pretensamente pacifista e universalista - e utopicamente distribuidor de progresso e renda - concomitantemente com as diárias práticas intervencionistas de natureza econômica e militar, em tutela política de países e regiões periféricas, a exemplo do Oriente Médio. O moderno imperialismo também se impõe pela produção e distribuição dos produtos de comunicação de massa, suficientes para o estabelecimento e predomínio cultural de um meio ou modo de vida, no caso estrangeiro, resultando na perda da auto-estima dos nativos e na desfiguração da identidade nacional, entre outros pontos relevantes. Com o desenvolvimento e alcance da parafernália eletrônica midiática e a abertura plena dos mercados econômicos, tais diferenças entre os povos tornaram-se flagrantes e de conseqüências imprevisíveis. Esta experiência contraditória, o interregno entre a decadência – ou seria subjugação? - dos valores sociais e culturais de uma nação e a assimilação/sobreposição de modelos e valores estrangeiros, é comum na história da humanidade, mas revela-se particular e excepcionalmente dramática, nos dias de hoje, dada a frequência e instantaneidade das comunicações e ocorrências. Objetiva e consequentemente, o que sucede, a qualquer tempo e época, é que toda nação com pretensões imperialistas se sujeita a antipatia dos “conquistados e dominados”.

24 outubro 2012

Perdedores e Vencedores(II)

Na edição anterior, examinamos o rol de vencedores. Hoje, os perdedores. A principal e grande perdedora é a prefeita Kelly Moraes (PTB). Durante vários anos primeira-dama municipal, deputada estadual e federal, a experiência pessoal acumulada não foi suficiente para realçar seus melhores feitos administrativos, minimizar os erros e assegurar a reeleição. Divide o ônus da derrota com sua assessoria técnica, política e eleitoral. Erro primário e fundamental foi permitir que o processo licitatório da água “invadisse e contaminasse” o ano e período eleitoral. Haja vista a rejeição popular à privatização, desde o primeiro momento, outro erro foi não ter tido humildade para recuar. Instalada a grave polêmica e considerados os elevados níveis de instabilidade e inconstância do respectivo processo, inclusive de natureza judicial e com insinuações de possíveis favorecimentos privados, deveria ter cancelado todo o procedimento. Derrotado também sai o vice-prefeito Luiz Campis e seu partido (PT), embora a expressiva nominata eleita de vereadores. Ambos derrotados porque não souberam e não conseguiram agregar qualidade técnica e política à gestão. Ou não foram capazes de demonstrar isso eleitoralmente. Aliás, qualidades que se pressupunha existirem e que se lhes atribuíra parcela da população, em tese, obviamente. Derrotados e prejudicada a coligação, fica adiado o projeto maior do vice-prefeito e seu partido. Derrotados também saem os deputados estaduais Marcelo Moraes (PTB) e Heitor Schuch (PSB). Embora cabos eleitorais de qualidade e relevância, não somaram o suficiente à campanha de Kelly Moraes. Passaram despercebidos pela população. No caso do deputado Heitor Schuch, uma derrota agravada se também considerarmos a candidatura de sua esposa (de quem o deputado foi o principal cabo eleitoral), razão de constrangimento e inibição para os demais candidatos (a vereador) do seu partido. Sua votação parece ter sido reveladora. Como nada é definitivo, à exceção da morte, os perdedores de hoje poderão ser os vencedores de amanhã. O contrário, do mesmo modo, também acontece, ou seja, os vencedores de hoje poderão ser os perdedores amanhã. Em tempo: o deputado federal Sérgio Moraes (PTB) também é um perdedor. Porém, circunstancialmente pode ser reabilitado – já declarou que é candidato na próxima eleição para prefeito (2016). Afinal, o compromisso com Campis e o PT já não existe mais. Então, o futuro poderá dizer se Sérgio não ficou, nessa eleição, num estratégico e conveniente empate!

18 outubro 2012

Vaidade e Justiça (STF)

Publicado no jornal Zero Hora (Porto Alegre-RS) em 17 de outubro de 2012. Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são os guardiões das leis e da constituição federal. Seu mandato e comportamento exigem resguardo e seriedade, de modo a garantir a qualidade e integridade dos atos e reflexões jurídicas. Naturalmente, em se tratando de um tribunal de questões de direito, legalidade e constitucionalidade, muito divergem entre si, com veemência e, às vezes, beirando questões pessoais. Ultimamente, porém, há sérios motivos para preocupações, haja vista os evidentes excessos comportamentais. Não faz muito tempo, o ministro Gilmar Mendes foi acusado e chamado de “coronel” e de manter jagunços em sua fazenda. Noutro episódio, o ministro Joaquim Barbosa foi flagrado num animado boteco, embora em licença médica. O mesmo Barbosa chamou o ex-presidente Cezar Peluso de "imperial e tirânico”. Em resposta, Peluso disse que Barbosa “é uma pessoa insegura e que reagia violentamente quando provocado”. Mais recentemente, os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello divergiram asperamente sobre a (suposta) intervenção de Lula no STF. Lula teria sugerido o adiamento do julgamento do “mensalão”. E assim sucedem-se os bate-bocas entre os ministros do STF. Esquecem as boas regras e submetem-se a “lavação de roupa suja”, ignorando o senso de decoro e a necessária solenidade que o cargo e função exigem. Sob o risco de perder a reputação do juiz, ou, pior, do próprio tribunal. Tanto num caso quanto no outro, há um prejudicado maior: a nação e sua segurança jurídica. Há quem localize o agravamento dessas diferenças de comportamento dos juízes na transmissão televisiva direta e ao vivo das sessões do Supremo Tribunal. O que parece um democrático exemplo de transparência teria contribuído para o acirramento das discussões e o florescer das vaidades. Os juízes viraram celebridades nacionais. Então, como que acometidos pela vaidade e por preocupações políticas e comportamentais, os ministros estariam votando e fazendo populismo judicial. Dessa confusão redundou outro acirrado debate, qual seja, que uns seriam “consequencialistas”, ou seja, que interpretam a lei atentos ao resultado da decisão, e a outra corrente seria dos “formalistas”, que se atêm à letra da lei. A rigor, o que parecia ser e ter motivação doutrinária, se revelou mera discussão pessoal, de vaidades e orgulhos. Não é a toa que o sempre polêmico ministro Marco Aurélio Mello reconheceu e declarou: “O Supremo é composto de ilhas. Nós não temos uma convivência social maior (...). Infelizmente, já até se proclamou que o colegiado é um ninho de víboras”. A verdade é que o tribunal tem agido menos como um tribunal colegiado e mais como um ajuntamento de posições pessoais. A supremacia do personalismo em detrimento do ideal coletivo.

17 outubro 2012

Perdedores e vencedores (eleição de Santa Cruz do Sul(RS)

Basicamente, são três os vencedores. Uma família, um candidato a prefeito e uma empresa. A família, obviamente, é o casal Hermany. Ela agora vice-prefeita e ele vereador reeleito. Aliás, essa vocação do brasileiro para votar em núcleos familiares é algo a ser estudado. É um fenômeno nacional. Uma vocação monárquica, um gosto pela dinastia e a hereditariedade. Mas, com certeza, não é bom para a democracia brasileira. De todo modo, o casal tem méritos evidentes na conquista. Ele um combativo e atuante vereador, e ela uma incansável ativista pela causa social. O grande vencedor, sem dúvida, é o ex-deputado Telmo Kirst, até então tido por todas as rodas de opinião como de carreira política encerrada. Aqui cabe um parêntese. Independentemente das qualidades políticas e pessoais do prefeito eleito, e ele as têm, a circunstância do processo eleitoral e a dimensão do resultado final permitem concluir que era tamanha a rejeição da atual prefeita e sua administração que talvez outro candidato pudesse alcançar o mesmo sucesso. E por que outro? Porque Telmo, com certeza, não era o candidato ideal. Por seu comprometimento político-partidário no passado - alinhamento ideológico com a ditadura militar, como co-responsável pelas políticas públicas incompetentes das sucessivas gestões municipais do seu partido (que viabilizaram a ascensão do clã Moraes) e, nos últimos anos, por seu distanciamento explícito nos debates, circunstâncias e sucessões locais. Claro que estes fatos a que me refiro – alinhamento político com a hegemonia e ditadura militar, co-responsabilidade na ascensão do clã Moraes e apatia nos sucessivos processos eleitorais locais - já fazem parte do passado. E a memória do passado e da história são rápida e verdadeiramente fugazes e voláteis. Ironicamente, Telmo Kirst apresentou-se como a alternativa, como sendo “o novo”, embora sendo representativo do que há de mais antigo politicamente em Santa Cruz do Sul. Mas, repito, mesmo isso que ora afirmo já faz parte de um novo e insignificante passado. Por quê? Porque Telmo Kirst se reposicionou vitoriosamente no tabuleiro político. Ressurgiu das cinzas. Seu grande mérito foi ter percebido que era sua grande chance. Talvez a última. E soube conquistá-la. Finalmente, o outro grande vencedor, ainda que não tenha feito campanha político-eleitoral - afinal, é uma empresa, é a Corsan. O que só se confirmará se for mantida a promessa do candidato eleito, contrariamente à “privatização da água”! Semana que vem escrevo sobre os perdedores.

10 outubro 2012

Perguntas sem respostas (eleição de Santa Cruz do Sul)

De antemão, é necessário dizer que depois que os votos são totalizados e exibidos sempre surgem inúmeras explicações para demonstrar e comprovar determinados resultados, eventualmente surpreendentes. Regra geral, as explicações e justificativas são pertinentes, razoáveis e consideráveis, umas mais, outras menos. De todo modo, foi uma surpresa a derrota de Kelly/Campis, da coligação PTB-PT. Então, o que teria acontecido? E terá sido, realmente, uma surpresa eleitoral? Nesse sentido, surgem hipóteses criativas e adeptas da teoria da conspiração. Uma delas cogita que o principal cabo eleitoral de Kelly, o deputado Sérgio Moraes (PTB), teria “cruzado os braços”. E por quê? Porque uma derrota manteria em destaque seu nome e provável candidatura futura a prefeito, enquanto que uma vitoria obrigaria o cumprimento do acordo com o PT, isto é, com a candidatura de Campis (PT) na próxima eleição municipal (2016). Muito intensas também foram as fofocas, notadamente aquelas que diziam respeito às questões de natureza íntima e pessoal (situação conjugal e afetiva da candidata). E fofocas sobre possíveis negócios e interesses obscuros (caso “privatização” da água), envolvendo, inclusive, notórios e ascendentes empresários locais. Aliás, tocante as contra-informações (fofocas), não há dúvida que exercem uma atração impressionante entre o povo. Entretanto, é praticamente impossível que possamos aferir sua dimensão e influência na decisão eleitoral do cidadão. Outro aspecto. No meu entender, o mais grave. Embora saibamos que são duas eleições diferentes (vereador e prefeito), que têm circunstâncias e motivações variadas e variáveis, tanto do ponto de vista do cidadão quanto dos candidatos a vereador (sempre muito maleáveis e “conciliatórios”), as diferenças entre os respectivos totais de votos finais são absolutamente “inexplicáveis”. Como explicar que os vereadores da coligação de Kelly façam 50.390 votos e a prefeita faça apenas 35.436 votos, provocando uma diferença exagerada e incompatível (14.954 votos). Surpreendentemente, essa diferença é praticamente a mesma que separa os votos do agora prefeito eleito Telmo Kirst (40.614 votos) de sua base de apoio eleitoral/vereadores (26.758 votos). Havia, então, tamanha rejeição pessoal (e familiar?) tocante à prefeita e sua administração, capaz de induzir seus candidatos a vereador ao silêncio e passividade, e preocupados apenas em salvar o próprio voto? Se havia um desastre em curso, como que não foi detectado antes e alertada a candidata? Mais: quer dizer que perderam a eleição e fizeram 12 vereadores? E que o adversário venceu e fez apenas cinco vereadores? Concluindo, creio que os candidatos a vereador da coligação PTB/PT devem sérias explicações à candidata derrotada. São perguntas sem respostas.

03 outubro 2012

Fazedores de Promessas

Eleições. Mais uma em nossas vidas. E o que elas têm em comum? Renovam-se as promessas e os grandes planos de solução dos habituais problemas. Em qualquer esfera de poder, campanhas eleitorais e novos governos sempre são muito criativos. Criativos até demais! São planos de ação, programas e projetos, antecipadamente dito extraordinários. Infelizmente, muito raramente realizam-se. Aliás, é de nossa (péssima) tradição legar aos sucessores e cidadãos as meias-soluções e obras incompletas. Dito de outro modo: problemas por inteiro. O que, invariavelmente, resulta em descrédito pessoal e desperdício de recursos humanos e financeiros, déficit público e inflação. O mais surpreendente é a repetida e inesgotável capacidade dos candidatos e governantes retornarem à cena pública para prescrever os “novos” remédios e as criativas soluções. Porém, há algo mais incrível: nós acreditamos! Trata-se de uma inevitável analogia com o mundo místico, com o universo mágico e com o sistema de crenças. A regra-geral do sistema de crenças consiste em que o fracasso acaba por reforçar a credibilidade, à medida que o erro se deve a um desempenho incompleto ou equivocado na aplicação dos meios, ou, vulgarmente, dos ingredientes da receita. É o que ocorre nos rituais e crenças em geral, onde magos, feiticeiros e assemelhados, diante do resultado não esperado, atribuem a falha não a crença em si, mas aos meios utilizados, que tanto pode ser uma reza mal-feita, um ciclo lunar indevido, sacrifícios não cumpridos, ervas velhas e mal-cheirosas. Repito, surpreendentemente nós continuamos acreditando! Porém, tudo isso não desfaz nossas esperanças, sem as quais nos tornaríamos intolerantes e implacáveis com as formas de poder de estado e poder privado, sobretudo aquelas que usurpam e manipulam (e legislam) na manutenção de seus feudos medievais, onerando os cofres públicos e os bolsos do povo. Em nome desta esperança, almejamos que os fazedores de promessas façam sua reciclagem, começando pelo próprio ego - por natureza "inflado", e renunciem à repetida e sedutora tentação de reinventar a roda. Limitem-se ao exercício da humildade e do possível. É isso. É aqui que reside o diferencial da receita mágica e da promessa viável: a medida do possível. E a medida do possível encontra-se nas ruas, nas filas do desemprego e dos supermercados, na face e na voz do povo. Mas importa ouvir!

26 setembro 2012

Eleições: o lado cômico

Eleições, partidos e processo eleitoral é assunto sério. Afinal, são os candidatos eleitos que vão responder por uma série de questões de interesse público e pela administração do dinheiro recolhido do povo. Mas também têm aspectos cômicos nas eleições, principalmente de parte dos candidatos a vereador. Habitualmente, com pouco ou nenhum dinheiro, na ânsia de chamar atenção, de se tornarem conhecidos, usam apelidos, fazem promessas mirabolantes, inventam frases de efeito e fazem rimas pretensamente poéticas. Pode parecer ridículo, mas existe lógica nessa criatividade. Estabelecem a relação com aquilo que os identifica na sua comunidade e meio profissional. Ou, então, apresentam propostas absurdas, quase sempre idéias técnica ou financeiramente inviáveis. Uma razão adicional para encontrar um meio de chamar atenção é o seu escasso tempo de manifestação na TV e no rádio. . Historicamente, examinadas várias eleições, são raros os exemplos de sucesso. Não é suficiente um nome chamativo, uma idéia ousada e um comportamento extravagante. Para obter os votos necessários para se eleger é preciso mais. Notadamente, qualidades e relacionamentos pessoais e propostas sérias. Vejamos os cômicos exemplos. Selecionados nacionalmente, alguns candidatos usam nomes de personagens de televisão e videogames. São eles: “Tarzan, Robin Hood, Peter Pan, Pedrita, Chapolin, seu Madruga, Rambo Gaucho e Sonic”. Tem uma candidata que usa o nome de “Mulher Xuxu”. Suspeito que ela quisesse dizer “Mulher Chuchu”, parodiando as demais mulheres-fruta que fazem sucesso com seus “rebolations”. E tem a “Claudete, a Mulher Mundial”. São muitos os amantes dos bichos, se identificando a tal ponto que utilizam como nome eleitoral: “Grilinho, Tubarão, Professor Peru, Dorinha Andorinha, Jegue Dente de Ouro e o Baxinho Dog”. E tem os que relacionam seus nomes a alimentos: “Abraão do Queijo, Professor Pipoca, Danone, Joãozinho do Tomate e o Macarrão”. Outros relacionam seu registro eleitoral a profissões e trabalhos: “Alex do Samu, Lú do DPVAT, Sandrão Moto Boy, Norma das Pensionistas, Loirinho da Pizzaria, Adão da Parabólica, Jeferson do Caminhão do Lixo, Farinha da Funerária, Amiguinho do Reboque e Gago da Feira”. Têm os candidatos internacionais: “Obama de BH, Saddam Hussein e o Bin Laden”. Ainda bem que são candidatos em cidades diferentes. Entre todos extravagantes candidatos e seus slogans, o que eu mais gostei é bem ideológico: “Mude de posição. Vote Dibruço!”. Para saber tudo sobre candidatos, nomes, apelidos e bens patrimoniais, acesse: http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012

19 setembro 2012

Ontem e Hoje (continuação)

Ontem e hoje (II) Na edição anterior, eu dizia que uma temática recorrente na “internet” são os arquivos que tratam das diferenças qualitativas entre gerações. Dizia também que comparar gerações e traçar paralelos sócio-comportamentais é de uma dificuldade crescente e proporcional a quantidade de variáveis - fatores sociais, econômicos e culturais - que incidem em cada geração. Por exemplo, na questão dos padrões de consumo. O consumismo. Com certeza, não havia a pressão que percebemos hoje dos filhos sobre os pais em termos de consumo. Assim, se poderia dizer que era uma geração menos consumista. Mas, importa dizer também que a oferta de bens e atrativos era bem menor do que hoje, o que de certo modo justifica a pressão atual. Muitos objetos e serviços de consumo atual, a exemplo de TV a cabo e banda larga de internet, celular e computador, contribuem para uma inserção e integração social dos jovens. Não tenho dúvida que se existissem à minha época, iria “enlouquecer” meus pais para ter tais equipamentos. E a política e a consciência social? Comparativamente, creio que a juventude atual detém mais informações do que detinha a geração anterior. E, ponto importante, tem uma visão muito mais crítica, mais real da política. Consequentemente, tem uma perspectiva mais realista, menos utópica, o que é bom e é ruim ao mesmo tempo. Bom porque não alimenta ilusões sobre o papel dos políticos e governantes, mas ruim porque não contribui objetivamente para a superação deste quadro de pobreza cívica. Outro ponto importante que distingue politicamente as duas gerações. A geração anterior contribuiu para a redemocratização nacional. Enquanto que a atual geração tem desafios pontuais a serem superados, a exemplo da praga da corrupção, da questão ambiental, da redução dos impostos e da criação de empregos. Questões cruciais nos dias de hoje. Finalmente, tocante aos vícios. Ao consumo de bebidas alcoólicas, em especial. Neste ponto, a geração anterior perde de goleada. Não que não houvesse os pinguços. Mas eram sempre os mesmos. Porém, nunca se bebeu tanto entre os jovens quanto hoje. Inclusive as mulheres. Parece que é impossível fazer uma reunião de amigos sem bebidas. Acho que é natural haver uma idealização de nossa infância, de nossa juventude, de nossas relações, por exemplo. Afinal, cada época tem seus atrativos e suas circunstâncias. Esta valorização do passado é uma ação preventiva e defensiva contra os dissabores que o futuro (e a velhice) nos reserva.

12 setembro 2012

Ontem e hoje

Nestes tempos de “todos plugados na internet!”, principalmente através de incontáveis e intermináveis “emails”, uma temática recorrente são os arquivos que tratam das diferenças qualitativas (estilo de vida) entre gerações. Evidentemente, com os mais velhos “puxando a brasa” em detrimento dos mais jovens. Comparar gerações e traçar paralelos sócio-comportamentais parece muito com aquela tentativa de comparar jogadores e times de futebol de ontem com os de hoje. A dificuldade é crescente e proporcional a quantidade de variáveis (fatores sociais, econômicos e culturais) que incidem em cada geração. Relativamente à juventude e aos dias de hoje, não podemos ignorar como um fator de mudança de atitude e comportamento a influência negativa da criminalidade e do desemprego. Mas, sob um olhar otimista este mesmo conjunto de fatores estressantes proporciona o surgimento de jovens mais “antenados” com a realidade e relativamente mais maduros. Muito se fala também sobre a precariedade dos atuais laços sociais. Cogita-se que a questão do emprego/desemprego/renda - haja vista que há concorrência explícita e implícita - influencia diretamente os fatores de relacionamento, tornando os jovens mais competitivos, consequentemente afetando e comprometendo a qualidade e o conjunto de suas relações sociais. Nesse “pacote competitivo” devemos incluir o “peso” do discurso do sucesso, do poder, do “eu posso”, hoje produtos-mensagem presentes em todas as prateleiras e códigos de auto-ajuda. Neste sentido, ousaria dizer que as relações sociais do passado eram menos tensas e menos competitivas. Também não podemos ignorar as questões relacionadas ao desenvolvimento e relacionamento afetivo. A absoluta liberalidade atual de comportamento, marca da geração “ficante”, contribui para uma vulgarização da afetividade, daí a dificuldade de construção de relações estáveis e intimistas. Agravados pela gritante precocidade e antecipação da iniciação sexual. O que não quer dizer que a dita estabilidade das relações afetivas do passado correspondesse à autenticidade. Talvez a estabilidade conjugal fosse muito mais conseqüência dos temores de censura social, em caso de dissolução. Tocante aos jovens, e apontando um contraponto para minhas afirmativas, quero dizer que acho que a gurizada de hoje domina melhor estas questões (e frustrações) afetivas, não “esquentando” muito a cabeça, não se estressando muito. Afinal, a “fila anda!” (continua)

05 setembro 2012

Política: efeitos colaterais

Há unanimidade de opinião acerca do evidente empobrecimento do debate político. Um dos sinais mais expressivos dessa miserabilização se opera através da linguagem. Passo seguinte, ocorre a intoxicação de aspectos morais e políticos. Baixa linguagem, decadência cultural, moralidade e política rasas interagem e se autodegradam, paulatinamente. Acredita-se que é um fenômeno irreversível e conseqüência da comunicação de massa. A diversidade sócio-cultural das platéias determina o baixo nivelamento da linguagem adotada. Questão discutível. Em comum, porém, a vulgaridade. A incorporação do vulgar, do grosseiro, da insolência, e, às vezes, até da violência verbal, rompe a barreira do razoável e contamina as idéias político-ideológicas. Para pior. Evidentemente, alguns políticos (e candidatos e partidos), em defesa própria, contra-argumentam se autointitulando como autênticos. Quando, na verdade, são apenas grosseiros. Isso quando não alegam algo pior e irresponsável: de que falam a linguagem de seu público! Logo, o que deveria ser uma tarefa de alto nível e de politização popular, provoca o efeito contrário. O debate desanda e as ofensas surgem inevitavelmente. O adversário passa ser um inimigo. Os diálogos necessários dão lugar aos cansativos e agressivos monólogos. E as divergências político-partidárias passam a soar como insultos e provocações. Então, qual a grande conseqüência desse processo de rebaixamento da política? Demagogia e intolerância. A grande ironia desse processo de degradação é que ele parte e é liderado justamente por aqueles setores e mecanismos que deveriam ser exemplares. A política, as eleições, os partidos e os candidatos. Afinal, serão os futuros líderes e comandantes de municípios, estados e a própria nação. Mais grave: investidos nas funções formais de representação e poder de estado. A conjunção de fatores negativos é terrível. Se há a degradação da palavra, dos costumes e das idéias políticas por intoxicação e contaminação, e vige, afinal, a demagogia e a intolerância, restam no poder os mais servis, sob a liderança dos novos déspotas, e se afastam os cansados e dissidentes do autodestrutivo processo. E restam vitimados o pensamento crítico e a democrática divergência. Situações e razões mais do que suficientes para prestarmos atenção no presente processo eleitoral, nos partidos, nos candidatos, nos seus discursos e promessas, de modo que resulte um voto de qualidade, renovação e esperança.

31 agosto 2012

O Discurso da Submissão

O teor dos discursos e a submissão dos partidos reforçam o pessimismo em torno da carente atualização, coerência e descentralização tributária nacional. Passamos “uma vida inteira” defendendo a necessária descentralização tributária e o máximo de empoderamento dos municípios e estados. E o que vimos nos palanques eleitorais midiáticos e eletrônicos e nos discursos em geral? Uma sucessão de loas ao governo central. Bordões sucessivos diziam, e continuam dizendo, da “amizade” com o governo central, das ligações partidárias e da importância dessas relações para carrear recursos. Inacreditável. Um retrocesso discursivo-ideológico de mais de 20 anos. Uma pobreza de responsabilidade e convicção sobre republicanismo que nos devolve “à idade média e à submissão real”. E assim assegurados e assentados sobre a alardeada unanimidade em torno da figura do “rei”, agora “rainha”, a busca insana pelo voto e pelo poder reproduziu as demagógicas falas de submissão tributária. Atuais e futuros feitos e obras cantadas em prosa e vídeo à conta da benemerência e generosidade “real”. Como se os recursos federais brotassem ao sabor da natureza e não fossem resultado da espoliação do próprio povo. Nos sucessivos processos eleitorais, municipais e estaduais, principalmente, se esperava que houvesse uma sincronizada reação de todos contra o excesso e a centralização tributária da corte de Brasília. Uma digna reação de quem se pretenda munícipe e líder regional e popular! Assim, mantida a natureza da omissão e submissão, seja por incompetência política ou “interesse”, não importa, o que resulta? Legitimada, inspirada e endinheirada, “a realeza e sua corte” se move como que imantados por um salvo-conduto comportamental. E a ponderar pelos renovados e recentes indicadores de preferência popular, inclusive dos numerosos afilhados eleitos e reeleitos, nada há a reclamar. Ou será apenas parte da memória pública esclerosada? A verdade sucumbe. O povo se “entrega” e assiste à metódica e sistemática desconstrução da verdade, sob o predomínio da indiferença e da não indignação. A julgar pela peregrinação e o beija-mão, a sedução é tão intensa que todos sucumbem. Claro e compreensível, é da natureza dos partidos e dos políticos seu agudo instinto de sobrevivência. Muda o discurso, muda o comportamento, muda o que for necessário e de acordo com a nova perspectiva. Submetem-se às exigências do vir-a-ser. É tão “natural e inocente” o procedimento da “corte” que “todos” assimilam e legitimam seus valores e sua conduta. Então, como é possível desafiar essa “verdade” e sua perenidade e inevitabilidade temporal? Uma nação que já se uniu em torno das bandeiras nacionais da anistia, das diretas-já e da constituinte, não será capaz de erguer a última e urgente, a única e fundamental bandeira? Ou já não há motivos de esperança relativamente ao municipalismo, o federalismo e a república?

29 agosto 2012

Por que votar?

A crise do sistema político representativo não é uma particularidade brasileira. O sentimento de frustração popular também é percebido na Europa e nos Estados Unidos. As disputas políticas em geral têm se caracterizado em mera luta pelo poder. O poder pelo poder. Ou o poder para obter vantagens e enriquecimento pessoal. Não necessariamente em defesa da geléia geral, mas explicando e tentando justificar a confusão, também é verdade que devamos reconhecer que a atualidade mundial é de absoluta inquietude, inconstância e com graves crises cíclicas. Crises sociais e econômicas que começam discretas, locais e setoriais, para logo, logo, serem escandalosas, interregionais e gerais. A freqüência das crises e suas características diferenciadas têm causado grande confusão nos governos, nos partidos políticos e naquilo que identificávamos como suas convicções ideológicas. Dito de outro modo, objetiva e resumidamente, nem o mercado tem mais a capacidade de auto-regulação, e nem o estado tem o poder de resolução e “apagar incêndios”. Ultimamente, entre nós brasileiros, as faces mais comuns e freqüentes da degradação do processo político-partidário têm sido o clientelismo, a corrupção e o cinismo. Conseqüentemente, não é a toa que a população rejeita e hostiliza a política. Os jovens em sua maioria a ignoram quase que por completo. O que mantém as aparências e dissimula nossa crise de representação é a obrigatoriedade do voto. Em outros países, notadamente na Europa, os índices de abstenção servem como referência para denunciar e rechaçar as disputas políticas medíocres e seus métodos. Assim, desinteresse popular, abstenção e voto nulo funcionam como forma de crítica e denunciam as práticas e métodos políticos que não oferecem alternativas, que confundem a opinião pública, e que, dia após dia, tornam os partidos cada vez mais iguais entre si. Programática e comportamentalmente. Diante do descrédito na política e nos políticos, e frustrados com a (deliberada ou não) geléia ideológica, a pergunta dominante entre as pessoas sempre era a seguinte: em quem votar? Mas, ultimamente, a pergunta é outra: por que votar? Essa pergunta revela e confirma a gravidade do momento que vivemos. Possivelmente, há dois aspectos extremamente danosos na política brasileira. Primeiramente, o estado brasileiro é exageradamente centralizador e arrecadador. Há poder e dinheiro demais em Brasília. O segundo ponto diz respeito ao poder legislativo. Teoricamente, um poder soberano, Mas, na pratica e de modo crescente e objetivo, é, hoje, absolutamente submisso ao poder executivo. Resulta disso, em moto contínuo, que não há mais representantes do povo. O objetivo principal de vereadores e deputados é fazer parte do governo!

22 agosto 2012

Face a face(book)

O “rei” Roberto Carlos pareceu prever o fenômeno do Facebook ao gravar, em 1974, a música “Eu quero apenas”, mais conhecida por “Um milhão de amigos”. Lembra? “Eu quero apenas cantar meu canto, eu só não quero cantar sozinho, eu quero um coro de passarinhos, quero levar o meu canto amigo a qualquer amigo que precisar, eu quero ter um milhão de amigos e bem mais forte poder cantar”. O que explica o sucesso e a popularidade do Facebook? Diversão, entretenimento e/ou solidão? Ou, um inevitável desejo humano e universal de dizer ao mundo “eu existo, sou feliz e tenho amigos”? E que também tem dinheiro, que viaja, que comprou uma bolsa Louis Vuitton de vinte mil reais, e...? Afinal, ninguém posta fotos e comentários sobre seus momentos de fracassos e tristezas! O assunto é inesgotável e se presta às mais variadas análises e conclusões. Simplificando, poderíamos dizer que é retrato e extrato da condição humana. Não é a toa que pesquisas e testes realizados por neurocientistas norte-americanos confirmam que falar de si, se gabar, se expor voluntariamente – que é o que gente faz a maior parte do tempo! – gera sensações de recompensas cerebrais equivalentes às sensações de comida e sexo. E outra pesquisa afirmou que “navegar no Facebook ou outra rede social aumenta nossos níveis de narcisismo e a nossa autoestima”. Mas seremos mesmo assim tão belos e felizes, siliconados e photoshopados ou não, e com tantos amigos? Com certeza, é muita superficialidade, irrealidade e pouco conteúdo. Uma brincadeirinha coletiva e exagerada. Então, como explicar que tantos postam ali momentos muito íntimos e particulares de suas vidas, devassando-as para “todo o mundo”? Assumindo riscos no tocante à sua integridade pessoal e familiar, ignorando os alertas dos especialistas em segurança virtual? Os criminosos cibernéticos não estão mais no futuro. Eles já estão aí e aqui, prontos para atormentar e chantagear. Isso sem falar em atitudes de risco de ex-amores inconformados. O Facebook é um Frankenstein fora de controle, que poderá a qualquer momento voltar-se contra seus postadores. Será que a necessidade de bem falarmos a nosso respeito e dizer ao mundo da quantidade de amigos e momentos felizes que temos e vivemos não será apenas um retrato abobalhado e patético de um mundo em exagerado ritmo e competição? Ou será uma reveladora compreensão e percepção inconsciente de que tememos nossa própria inutilidade, esquecimento e descarte social? Apesar de atuarmos em todas as plataformas, meios sociais e mídias possíveis, superconectados, não é verdade que nunca estivemos tão sós? E com tanta publicidade e devassidão pessoal, o que sobrará em cada um de nós, importante e suficiente, para provocar no outro descobertas e encantamento com nossas personas?

16 agosto 2012

Danem-se os fatos!

Ainda sobre o julgamento do “mensalão” no Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli não se deu por impedido na sessão inaugural. Aquele teria sido o momento e o gesto adequado. Tinha o dever ético do autoimpedimento. Mas não o fez. Afinal, fora advogado do PT, assessor jurídico de José Dirceu na Casa Civil (além de seu advogado pessoal) e Advogado-Geral da União. Chamou atenção também o fato do procurador-geral não haver solicitado o impedimento de Dias Toffoli. Talvez para evitar atritos adicionais que possam retardar a continuidade das sessões. Mas é o que deveria ter feito. Tinha o direito e o dever. Mas não o fez. Aliás, retardamento que ocorreu no mesmo e primeiro dia. Provocado pelo longo e surpreendente voto do ministro Levandowski. Surpreendente nem tanto pela qualidade, mas, pasmem, por suas 56 páginas previamente preparadas. Defendeu e votou a favor da mencionada questão de ordem de Thomaz Bastos. Ficou parecendo jogada ensaiada de ambos. Pode? Tocante as defesas até agora apresentadas pelos advogados, há evidentes unanimidades argumentativas. Em resumo, “todos acusados são inocentes, e se mal e errado algo fizeram, foi apenas a não contabilização (sic) de recursos financeiros de campanha eleitoral”. Tudo se resumiria ao famoso “caixa dois”, pecado e prática que todos cometem de sul a norte, de leste a oeste do Brasil varonil, partidos políticos e empresas, políticos e empresários. Falaram assim os advogados dos réus do "mensalão", cínica e debochadamente, perante o tribunal maior. Refrão da ladainha: não existe pecado ao sul do Equador! A novidade foi o argumento do defensor de Roberto Jefferson, o ex-juiz gaúcho e agora advogado Luiz Francisco Barbosa, que reclamou sobre a não presença do ex-presidente Lula no banco dos réus. “Se três ex-ministros estão no banco dos réus, porque seu então chefe não está?”, perguntou. A retórica predominante quer fazer crer que tudo se resume e limitará a exame pessoal e parcial de perspectivas e pontos de vista. Simples assim como (pre)julgamos os outros em nossas conversinhas pessoais, no dia-a-dia. Então, prevalecerá um argumento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), quando disse que “os fatos não existem, mas, sim, a interpretação dos fatos”. Ou então, como diria o escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980), como reza a lenda: “Se os fatos são contra mim, pior para os fatos!”.

08 agosto 2012

Eleições: o que voce precisa saber

O que decide uma eleição? Quais são seus momentos mais significativos? O que pesa mais em relação a um candidato: um fato positivo ou um fato negativo? O que você sabe sobre os candidatos e seus planos? Aliás, o que realmente você sabe sobre política e eleições? O que mais aflige os candidatos durante todo o processo eleitoral é a qualidade e a efetividade de sua comunicação. Não apenas a sua própria, mas a comunicação exercida pela imprensa. Rádio, jornal e televisão, principalmente. Tocante a imprensa, a verdade é que ela se detém mais nas gafes e contradições dos candidatos, nas pesquisas eleitorais e nas intrigas e provocações de parte a parte. Ironicamente, é como nos telejornais. Prevalece o excêntrico e o escandaloso.Ou seja, também nas eleições parece que o público prefere mais a “fantasia do que o realismo”. Prefere mais o “diz-que-diz-que” acerca de um candidato do que conhecer detalhes do seu plano de governo. Sobre plano de governo, equipes de trabalho, qualidade e conteúdo, igualmente muito pouco a imprensa divulga, analisa e comenta. Não se trata de responsabilizar a imprensa. Nem de idealizar o processo eleitoral. De um modo ou de outro, a imprensa retrata os interesses do eleitorado, aquilo que o atrai pelas mais diversas razões. Nesse sentido, trabalhos e pesquisas acadêmicas na área da ciência política confirmam e explicam algumas práticas dos partidos políticos e seus candidatos. Por exemplo, tocante a propaganda eleitoral no rádio e na televisão, algo que gera maior lembrança, eficácia e memória do/no eleitor são aquelas peças publicitárias que atuam por contrastes. Na ação partidária por “contraste” se comparam os candidatos, mostrando suas diferenças. Apontando os defeitos de um e exaltando as virtudes de outro. Esse tipo de propaganda exige critérios eficazes de apuração e identificação daquilo que realmente interessa ao cidadão, capaz de influenciar e decidir seu voto. E aquilo que faz a diferença entre um e outro candidato. Outra prática, mas de menor eficácia e memória do cidadão, chamada de publicidade "negativa”, é aquela que age e provoca imputações negativas ao adversário. Em geral, essa é uma prática não desejada pelos candidatos. Pesquisas imediatas parecem confirmar que essa “propaganda” gera mais incômodos do que vantagens. Há, inclusive, um chavão que diz que “quem bate, perde!”. Entretanto, está comprovado que essas mensagens negativas imputadas ao adversário ficam gravadas mais tempo na memória do eleitor. E, finalmente, a estratégia mais ineficaz é, porém, a mais utilizada nas campanhas. É a denominada comunicação e propaganda “defensiva”, na qual o candidato se limita a mostrar o que já fez e apresentar o que pretende fazer. Pesquisas indicam que são as menos impactantes e menos lembradas pelo eleitor.

01 agosto 2012

Esperteza Julgada

Seja no âmbito dos municípios e estados, ou na própria esfera federal, a cooptação de parlamentares não é uma novidade. Pode ter fins específicos ou gerais do poder executivo. Aprovação de um projeto de lei, por exemplo. Ou, ambiciosamente, um projeto de poder prolongado. Haja vista a expressiva fragmentação da atual representação político-partidária, um projeto de médio-longo prazo demanda a formação de maiorias. Maiorias fisiológicas. Não ideológicas. E sua moeda de troca e compensação pode se dar através de liberação de emendas orçamentárias, aceitação de indicações partidárias e pessoais para cargos públicos, tráfico de influência, entre dezenas de hipóteses possíveis. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi acusado de formar uma maioria “comprada” de modo a obter a aprovação do direito à reeleição. Claro que o aprovado direito à reeleição também foi para prefeitos e governadores. Que podem, em tese, ter colaborado nos mesmos moldes para a formação da dita “maioria cooptada”. Também não esqueçamos o “mensalinho mineiro”. Mas o “mensalão petista” foi algo mais audacioso, mais estratégico. E, ao mesmo tempo, estúpido. A esperteza está sempre mais próxima da estupidez e da arrogância do que da genialidade. Típico caso em que os meios deveriam justificar os fins. Deu no que deu. Através de manipulação de gastos em publicidade governamental, licitações e contas bancárias fraudadas e drenagem de dinheiro público, trata-se um autêntico crime contra o sistema republicano, democrático e representativo. Em agosto de 2005, em rede nacional de TV, Lula disse que o seu governo e o PT tinham de "pedir desculpas”. E que se sentia "traído por práticas inaceitáveis, das quais não teve conhecimento”. Hoje, porém, Lula anda por aí dizendo que o "mensalão é uma farsa. E que nunca existiu”. Se for verdade que não existiu e que é tudo uma farsa, o que foi aquilo tudo que vimos na televisão, dia após dia, gravações após gravações, saques após saques bancários e milionários? E os relatórios da Policia Federal e do Ministério Público o que são? 50 mil páginas, tudo invenção, tudo criatividade? Nesse caso, se invenção e farsa, com tantos delegados de polícia e promotores públicos criativos e contadores de estórias e intrigas, como é que a gente ainda não ganhou o prêmio Nobel de Literatura?

25 julho 2012

Empreguetes

O momento é delas. Das empregadas domésticas. E nem é pelo sucesso da divertida novela global "Cheias de Charme". É que tramita na Câmara dos Deputados a proposta de emenda constitucional que amplia os direitos das empregadas domésticas. Há cerca de 7 milhões de trabalhadoras domésticas, das quais 2,5 milhões não têm carteira assinada. Atualmente, as domésticas têm apenas nove dos 33 direitos trabalhistas. Aprovada a PEC, haverá a incorporação de 16 novos direitos. Entre estes, jornada de 44 horas semanais, hora extra, adicional por trabalho noturno, FGTS, salário-família e auxílio-creche. Alguns adicionais têm reflexos sobre 13º salário, férias e depósitos de FGTS. E, em caso de dispensa, mais a multa de 40% sobre o saldo do FGTS. Os defensores dos novos direitos argumentam que “não podemos ter uma trabalhadora de segunda categoria” E que chega desse papo de que “as patroas gostam muito das domésticas e que elas são parte da família”. Dizem mais: que na hora da dispensa “poucos empregadores pagam o que realmente é devido”. Alguém tem dúvidas sobre a justiça social que esses novos direitos trabalhistas representam? E sobre o quanto as trabalhadoras domésticas merecem melhor tratamento e remuneração? Com certeza, ninguém discorda. Mas, infelizmente, o mundo real da economia e dos negócios não funciona assim. Da mesma maneira que substituímos produtos caros, ou de qualidade duvidosa, por outras opções, na proporção de nossas possibilidades financeiras, na prestação de serviços ocorre a mesma coisa. Há permanentemente um balanço entre o valor a pagar e as conveniências que o respectivo serviço apresenta e representa. Nesse caso das empregadas domésticas, há um grave obstáculo e argumento sempre esquecido nos debates. As famílias que contratam domésticas não são iguais a empresas. Empresas fabricam e vendem objetos e serviços com objetivo de lucro. Famílias têm salários e rendas mais ou menos fixos, orçamentos apertados com suas necessidades pessoais e impostos a pagar. E pouca disponibilidade para pagar muito mais para uma doméstica. Não é a toa que vários economistas e donas de casa já anteciparam o que vai acontecer. Aumento da informalidade (trabalho sem contrato e sem carteira) e desemprego. Alternativamente, vai ocorrer a substituição por diaristas. Admitindo essas conseqüências negativas, o governo até promete a adoção de algumas fórmulas que possam ajudar os patrões, a exemplo de alíquotas menores de INSS e FGTS, dividindo o aumento de custos entre as três partes (empregada doméstica, patrão e governo). Melhor seria se o governo fizesse esforços para fazer valer as regras atuais, ou seja, fazer cumprir os atuais direitos antes de criar novos e onerosos direitos. Ao pretender ajudar as pessoas com novos direitos - que alguém deverá pagar!, os “criativos” governantes esquecem que podem estar provocando o efeito contrário. A economia nos ensina diariamente que as intervenções artificiais redundam em fracassos. Em economia não existe magia!

18 julho 2012

Festa de Outubro

Um amigo pessoal, inteligente, irônico e “viajado”, dizia que bastava conhecer uma festa popular do interior do estado para saber como seriam as demais. Porque me lembrei disso? Ao tomar conhecimento da relação de atrações nacionais da próxima Oktoberfest de Santa Cruz do Sul. Bandas de música popular brasileira, roqueiros especialmente, mas também pagodeiros e duplas de música sertaneja. Sem pretensão de julgamento prévio ou caracterização de preconceito musical e cultural, não são atrações que tenham alguma relação objetiva com o centro e a razão de existir dessa festividade típica. Máximo Gorki (1868-1936), poeta e romancista russo, já dizia que “se queres ser universal, fale de tua aldeia”. O também russo Anton Tchekhov (1860-1904), médico e escritor, disse algo parecido: “canta a tua aldeia e cantarás ao mundo”. Há quem diga que essas frases teriam tido inspiração em reflexões do grande filósofo alemão Immanuel Kant (1724-1804), que, reza a lenda, nunca teria saído de sua então pequena cidade Königsberg. Mas, mesmo assim, Kant tornou-se universal! Até parece que esses humanistas e escritores estavam dotados de poderes premonitórios e adivinhatórios. Como se soubessem que o mundo caminharia não só para a globalização dos negócios, mas para a “pasteurização” e padronização sem limites dos hábitos de consumo e comportamento humano. Como se soubessem que adviria o momento de destacar o valor das coisas locais, das próprias origens, dos costumes, dos idiomas, dos hábitos, de suas idéias, entre outros aspectos, isso que popular e costumeiramente chamamos de cultura de um povo. Naturalmente, não preciso falar sobre as origens históricas de povoação e cultura local, sobre o que poderia vir a significar a “oktoberfest” e sobre o que se pretenderia com tais iniciativas, ditas de viés sócio-cultural. Mas, observada a prática organizativa e festiva (com a exemplar, elogiosa e comovente participação da comunidade!), ano após ano, e, principalmente, o mencionado rol de atrações, cabe perguntar sobre o que realmente se pretende: Bater recordes de público e arrecadação? Fazer o máximo de shows populares? Tornar o município conhecido no mapa estadual, nacional e mundial? Alcançar novos recordes de consumo em litragem de chope e cerveja? Lotar hotéis e arrecadar impostos? Divulgar e vender produtos da indústria local? É isso, mais ou menos? Resumindo, um “festão sócio-comercial” e para todos os gostos? Para quê? Mas não é, e não deveria ser, uma festa típica, com objetivos muito particulares, especialmente o enaltecimento de uma cultura local e histórica? Transformar em atração turística, destacar, iluminar e festejar aquilo que realmente é um diferencial histórico no estado e no Brasil? Relembrando a introdução e as reflexões dos mencionados escritores, não seria algo para destacar e “cantar nossa aldeia e nosso povo”?

07 julho 2012

Escravo Tributário - Em Zero Hora de 08 de julho de 2012.

Somos campeões mundiais em criação de leis, mas poucas “pegam” e funcionam. Recentemente, entrou em vigor a Lei de Acesso à Informação, que exigirá mais transparência dos poderes públicos. A publicidade como um princípio e regra. E os casos de sigilo, como uma exceção. Os órgãos públicos devem disponibilizar na internet suas informações institucionais. E entre elas, principalmente, aquelas relacionadas a licitações, contratos, convênios, auditorias e salários, por exemplo. Bem, vamos falar sobre salários, vencimentos, vantagens e extras, não importa o nome ou a razão, chame-se como quiser, são, finalmente, os ganhos de cada pessoa empregada pelo setor público-estatal. Se realmente todas as informações vierem ao conhecimento da população, a exemplo de algumas que já estão disponíveis, ficará configurada uma triste, indigna e injusta realidade. As informações salariais preliminares confirmam que ainda somos uma colônia explorada, uma rica “capitania hereditária” de corporações e poderes de estado, que, formal e legal, e literalmente, transformaram o povo brasileiro em escravos tributário-legislativos. Ou que qualificação pode se dar a uma estrutura social que contempla - com dinheiro público!, repito - tamanhas diferenças salariais entre sua população, entre o público e o privado? Povo que ganha em média entre um e três mil reais, quando muito. E nem vou falar do exército de gente que ganha menos de mil reais mensais. Como se explica que servidores públicos, não importa a categoria e seu status, possam receber 15, 20, 25, 30, e até 40 mil reais mensais? Que escala de valores (em todos os sentidos!) está construindo essa sociedade em que uma pessoa possa ganhar em um mês o que outro cidadão ganhará nos próximos 18, 24 ou 36 meses? Do mais modesto ao mais sofisticado, trabalho nenhum tem essa dimensão plena e suficiente para determinar tamanhas diferenças. Não com dinheiro público! E ainda nem falamos em qualidade e eficiência dos serviços públicos. Mas nem precisamos. Salvo raríssimas exceções, a regra geral, bem sabe nosso povo, é feita de saúde, segurança, transportes e educação miseráveis. Por favor, não me venham com essa lorota de diretos legais e adquiridos. Ou sobre “tetos” estratosféricos. Como se o mundo das relações humanas e sociais fosse “imexível” e “ad aeternum”. Como que evidentes privilégios e abusos de vencimentos, ainda que sob a forma e auspícios legais, pudessem pretender se equiparar a direitos! É um abuso sob qualquer ângulo de análise. E os responsáveis são os principais poderes de estado, começando pelo poder legislativo que aprova sistematicamente a manutenção e ampliação dessas distorções e iniqüidades. Concluindo, você é um escravo tributário-legislativo. Esqueça suas esperanças de liberdade: há liberdade na compulsoriedade de recolher tributos para essa iniqüidade? De justiça: há justiça na aplicação dos tributos? De igualdade: há exercício de igualdade cívica na distribuição dos tributos? Seus filhos e netos já desistiram. Quer dizer, ao contrário, estão empenhados em concursos públicos que pagam essas fortunas. Empenhados e interessados com toda a razão. Claro que não há vagas para todos! Resta saber quem trabalhará e produzirá a riqueza que deverá gerar os valores necessários para remunerar o eterno (e o novíssimo) baronato!

06 julho 2012

Ao leitor que fez o comentario sobre o artigo "Santo de Casa"

Suas palavras: "E já acho infantil. O senhor poderia fundamentar com "dados" para um leitor melhor do que o idiota que se acha "esperto", meu querido" Minha resposta: não entendi qual sua dúvida e a razão da ironia. O texto é autoexplicativo e diz respeito, objetivamente, a pseudo sabedoria das autoridades que acordam com uma ideia genial, a exemplo de construir uma estátua ou um autódromo deficitário. Simples.

04 julho 2012

Vaidade e Justiça

Os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) são os guardiões das leis e da constituição federal. Seu mandato e comportamento exigem resguardo e seriedade, de modo a garantir a qualidade e integridade dos atos e reflexões jurídicas. Naturalmente, em se tratando de um tribunal de questões de direito, legalidade e constitucionalidade, muito divergem entre si, com veemência e, às vezes, beirando questões pessoais. Ultimamente, porém, há sérios motivos para preocupações, haja vista os evidentes excessos comportamentais. Não faz muito tempo, o ministro Gilmar Mendes foi acusado e chamado de “coronel” e de manter jagunços em sua fazenda. Noutro episódio, o ministro Joaquim Barbosa foi flagrado num animado boteco, embora em licença médica. O mesmo Barbosa chamou o ex-presidente Cezar Peluso de "imperial e tirânico”. Em resposta, Peluso disse que Barbosa “é uma pessoa insegura e que reagia violentamente quando provocado”. Mais recentemente, os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello divergiram asperamente sobre a (suposta) intervenção de Lula no STF. Lula teria sugerido o adiamento do julgamento do “mensalão”. E assim sucedem-se os bate-bocas entre os ministros do STF. Esquecem as boas regras e submetem-se a “lavação de roupa suja”, ignorando o senso de decoro e a necessária solenidade que o cargo e função exigem. Sob o risco de perder a reputação do próprio juiz, ou, pior, do próprio tribunal. Tanto num caso quanto no outro, há um prejudicado maior: a nação e sua segurança jurídica. Há quem localize o agravamento dessas diferenças de comportamento dos juízes na transmissão televisiva direta e ao vivo das sessões do Supremo Tribunal. O que parece um democrático exemplo de transparência teria contribuído para o acirramento das discussões e o florescer das vaidades. Os juízes viraram celebridades nacionais. Então, como que acometidos pela vaidade e por preocupações políticas e comportamentais, os ministros estariam votando e fazendo populismo judicial. Dessa confusão redundou outro acirrado debate, qual seja, que uns seriam “consequencialistas”, ou seja, que interpretam a lei atentos ao resultado da decisão, e a outra corrente seria dos “formalistas”, que se atêm à letra da lei. A rigor, o que parecia ser e ter motivação doutrinária, se revelou mera discussão pessoal, de vaidades e orgulhos. Não é a toa que o sempre polêmico ministro Marco Aurélio Mello reconheceu e declarou: “O Supremo é composto de ilhas. Nós não temos uma convivência social maior (...). Infelizmente, já até se proclamou que o colegiado é um ninho de víboras”. A verdade é que o tribunal tem agido menos como um tribunal colegiado e mais como um ajuntamento de posições pessoais. A supremacia do personalismo em detrimento do ideal coletivo.

27 junho 2012

Lula, Maluf e Companhias Ilimitadas

O assunto dominante ainda é a união político-partidária do ex-presidente Lula com Paulo Maluf, deputado federal e ex-governador de São Paulo, denunciado pelo Ministério Público brasileiro e réu em vários processos de corrupção, com já identificadas contas bancárias no exterior. Em torno de 200 milhões de dólares depositados em bancos nas Ilhas Jersey, bloqueados pelas autoridades locais. Mas olhando para trás e para os lados, qual é a novidade política e comportamental, antiética e debochada, que já não fosse do conhecimento de todos? Não há novidade nenhuma. Assim como vários outros partidos e candidatos se aliaram a Maluf em outras e diferentes eleições, a exemplo da própria petista Marta Suplicy nas eleições municipais de 2004, o próprio Lula já homenageara e ressuscitara o poder e a influência política de Sarney, Collor, Jader Barbalho e outras figuras nefastas. Ao longo do seu recente mandato presidencial, Lula nunca teve preocupações ideológicas ou ético-seletivas tocante aos seus aliados de ocasião e companheiros em descaminho. Simples perspectiva de manutenção do poder e a desculpa de que o fez em nome da tal da governabilidade. Claro que o “patriótico” Maluf, com certeza, dirá o mesmo. Afinal, se vale para um, vale para todos! Então, a surpresa e a notícia, quando muito, poderia ter sido o silêncio do Partido dos Trabalhadores, sempre tão cioso do debate interno e da crítica ideológica. Mas esse silêncio também não é uma surpresa. O PT está submisso e quieto há muitos anos. Talvez por puro constrangimento. Talvez por conveniência. Ou, talvez, porque não haja mais nada mesmo para ser dito depois de tudo quanto já se viu, ultimamente. Lula, assim como Maluf, Sarney, Collor e outros tantos líderes (eu disse líderes?) políticos, seja nos estados ou nos municípios, sabem, afinal, que nós somos um povo sem memória, tolerante e acostumado ao “deixa-disso”. A verdade é que nós perdemos a noção/a razão de que deve haver sempre uma relação ética entre os fins e os meios. Estamos nos tornando cínicos. Comportamo-nos como condenados a aceitar determinado jogo e realidade porque não podemos mudá-la. Pior: sabemos que isto está errado e que não deve/deveria ser assim. A realidade deixou de ser um desafio e virou um destino. De modo que só nos resta “botar a boca no trombone” e denunciar para todos os cantos que há um descumprimento dos papéis institucionais reservados aos partidos e aos políticos. Isto é, uns de governar, e outros de fazer oposição e fiscalizar, principalmente. Se há uma quebra de confiança e delegação, também é verdade que as eleições e o voto são sempre uma oportunidade para mudar isso. Na política, assim como na vida, a esperança é a última que morre.

20 junho 2012

O Direito de Morrer

Um dos aspectos mais marcantes que estamos tendo a oportunidade de presenciar e (con)viver, atualmente, diz respeito à longevidade humana. É impressionante o número de idosos. Vida longa, graças aos novos conceitos sobre qualidade de vida, evolução da medicina e consumo regrado de alimentos e bebidas. Mas alcançar expressiva idade e com plena saúde é privilégio de poucos. A idade avançada ainda é sinônimo de problemas físicos e mentais, e, consequentemente, de dificuldades na convivência familiar e social. Nesse ambiente, também são comuns os casos de portadores de doenças incuráveis e progressivas, alguns com prognóstico de morte próxima. Desse quadro problemático deriva uma nova, inevitável e urgente questão pública, legal e sociológica: o direito de morrer. Um questionamento legítimo, decorrente e baseado em histórias pessoais e reais e que têm em comum muito sofrimento à própria pessoa, seus familiares e cuidadores. Com certeza, não se trata de egoísmo daqueles submetidos diariamente à tortura e ao sofrimento físico e espiritual em amparar vidas e corpos incapazes de ação, emoção e/ou memória. A extinção da vida envolve vários e diferentes processos. Os mais conhecidos são a ortotanásia, a eutanásia e o suicídio assistido. Conhecedores das respectivas técnicas e habilitados em relação à sua execução, no entanto, os médicos e seus conselhos profissionais enfrentam as restrições e previsões punitivas da legislação penal, além do inevitável debate ético. Em outro nível e extremidade, religiões e seus seguidores argumentam contrariamente à utilização desses métodos embasados em suas crenças espirituais. Exagerada e estupidamente, algumas religiões defendem a provação e o sofrimento, como se isso significasse nobreza e destino celestial. Mas qual pode ser o limite da nossa intervenção na vida alheia? Se é certo tutelar a vida intra-uterina, a vida de bebês e crianças, não é um exagero do estado querer tutelar também o direito de morrer de um adulto? É ético submeter alguém ao sofrimento e à vida artificial, contrariando, por vezes, a própria vontade do doente? Não seria a morte muito mais digna e humana? E não são diferentes de pessoa para pessoa os conceitos e sentimentos sobre o que significa “vida”? Ao negarmos às pessoas o direito à morte, é como se o corpo delas nos pertencesse, como se nos apropriássemos do seu destino. Nós, por nossas interferências e decisões, e o estado, pelas leis restritivas e impeditivas. Tanto em um caso quanto no outro, é um absurdo. Um abuso. Para encerrar o artigo. Pesquisas periódicas revelam que a maioria dos brasileiros é contrária à eutanásia. Em média, 60%. Já no Canadá, 76% da opinião pública é a favor. Na Austrália, 81%. E nos Estados Unidos, 57%. Outra pesquisa. Realizada em 1997 por universidades em hospitais dos Estados Unidos, constatou que: 40% das pessoas doentes morrem sentindo dores insuportáveis; 80% enfrentam fadiga extrema; e 63% passam por grande sofrimento físico e psíquico pouco antes de morrer.

13 junho 2012

O Nome Adequado

A manipulação da verdade e o ilusionismo, ou a própria mentira, nos casos mais graves e extremos, não são uma exclusividade da prática política. São comportamentos e reações tipicamente humanos e podem ter vários e diferentes momentos e razões de ser. De um modo ou de outro, a seu tempo, maneira e circunstância, seu autor provavelmente responderá por seus atos e conseqüências. No campo das relações pessoais e dos pequenos grupos, ato e conseqüência são facilmente localizáveis e, eventualmente, quantificáveis em termos de ônus. Mas quando se trata de questões públicas, que afetam a comunidade como um todo, e cujo ônus, em geral, corre à conta dos cofres e do dinheiro público, isso nem sempre fica claro e responsabilizável. Ou porque a autoria, o ato e sua conseqüência são realmente duvidosos e/ou discutíveis, ou porque não é do interesse de alguns o respectivo questionamento. Politicamente, manipulação da verdade, ilusionismo e mentira também são conhecidos e nomeados como demagogia. Relembrando, com ajuda do Wikipédia: “demagogia é estratégia de obter poder político, (...), por meio de retórica e propaganda, e frequentemente usando temas populistas, (...), propostas e declarações que não podem ser postas em prática, feitas apenas com o intuito de obter benefício eleitoreiro ou de popularidade para quem as promete.” Com o meu pedido antecipado de indulgência aos que acham que sempre exagero nas críticas aos governantes, a exemplo de dois artigos anteriores e recentes – na questão da redução dos juros e na classificação da classe média, hoje trago mais dois exemplos de – no meu entender - ilusionismo e meias verdades. O governo estadual enviou para a Assembléia Legislativa projetos de lei com previsão de aumentos salariais para policiais civis e praças da Brigada Militar(PLs 140, 141, 142 e 143/2012). Não há divergências quanto à necessidade de bem remunerar essas categorias. A questão polêmica é que o governador promete expressivos aumentos não apenas até o final de sua gestão, 2014. Mas muito além, até o final de 2018. Ou seja, promete aumentos de 100, 200 e até 250%, para além de seu mandato e à conta do próximo governador. A realidade econômico-financeira do Estado é caótica, difícil e confusa ontem, hoje e continuará sendo amanhã, e o governo faz promessas para além de seu mandato. Que nome se pode dar a essa prática política? Outro exemplo. Na recém aprovada Lei Geral da Copa do Mundo, o governo federal obriga a FIFA a vender ingressos com desconto de 50% por cento para brasileiros “participantes de programa federal de transferência de renda”. O governo está falando de beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas há algo errado aqui. Não são famílias pobres e com alto grau de carência e dificuldades pessoais? E Bolsa-Família não é uma ajuda com dinheiro de todos os contribuintes? Oferecer desconto e estimular a compra de ingressos de futebol internacional - dinheiro que irá aos cofres da FIFA - não é uma forma de deseducação dessas famílias? Quando um governo defende esse tipo de idéia e prática, tipo pão e circo para o povo, como é nome disso?

06 junho 2012

Voce é "um classe-média"?

No que diz respeito a autopropaganda, governos e governantes são todos iguais. De um modo ou de outro, querem e precisam provar e comprovar ao cidadão (e eleitor!) tudo quanto de bom e útil fizeram em serviços e obras públicas. Regra geral, e nesse intuito, também acham que são “o centro do mundo”, e que todo o progresso e o desenvolvimento sócio-econômico são frutos de sua gestão. Divulgar, informar, esclarecer, entre outras iniciativas, é essencial. Tudo certo, se não acabassem sempre exagerando, se valendo de manipulações e meias-verdades. O governo federal tem exagerado na retórica acerca de sua paternidade nas transformações econômicas e sociais. Principalmente em relação a ascensão de camadas populares a outros e maiores níveis de renda e consumo. Agora ditas como a nova classe média. Primeiramente, importa anotar que a ascensão de determinados grupos se deve muito mais a estabilização da inflação e dos esforços familiares e empresariais do que as iniciativas de governo. Aliás, governos têm extraído cada vez mais recursos das famílias através dos já conhecidos e extorsivos impostos de todas as naturezas. Recentemente, a Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República (SAE) definiu que integram a classe média brasileira as pessoas com renda familiar per capita (somando-se a renda familiar e dividindo-a pelo número de pessoas que compõem a família) entre cerca de R$ 291 e R$ 1.019. E que representariam 54% da população brasileira. E que as subdivisões dessa nova classe média seriam as seguintes: baixa classe média, com renda per capita entre R$ 291 a R$ 441; classe média, com ganho entre R$ 441 a R$ 641; e classe média alta, com rendimento entre R$ R$ 641 a R$ 1.019. Para chegar a esses números, disse ter levado em consideração o padrão de despesa das famílias e os gastos com bens essenciais e supérfluos. Pergunto: com esses valores e referências, você acha que é “um classe média”? E se você ganha mais do que R$1.019,00 (dou de barbada, e até proponho o dobro, o triplo...), então você é mais do que classe média? Quem sabe, classe B ou A? Você acredita nisso? Vejamos: com esses valores, é possível cobrir os seus gastos com saúde e educação, alimentação e lazer – e quem sabe uma viagenzinha anual? E a prestação da casa própria e do carro, o combustível e todos os impostos, o plano de saúde e o material escolar? E os etecéteras, que são muitos? É lógico que não! Resulta que isso é uma meia-verdade. É manipulação estatística. É pura propaganda. Um artifício para turbinar os feitos governamentais e “colorir” o imaginário popular, sempre tão carente de rótulos e estratificações. E nem precisamos lembrar e discutir os conceitos clássicos e históricos, marxistas ou não, que identificam e nomeiam o que vem a ser classe média. Conceitos que vão muito além de faixas específicas de renda e alcançam relações sociais, grau de escolaridade, qualificação profissional, entre outros igualmente relevante

30 maio 2012

Verdades e Mentiras

Ninguém gosta de ser confrontado, de ser chamado a dar explicações, ou, em casos mais graves, de ser acusado. Pode acontecer no âmbito familiar, nas relações de trabalho, e até mesmo entre amigos. Em se tratando de governantes, de políticos, em geral, isso fica ainda mais evidente. Nesse processo de confrontação, desafio e acusação, é a imprensa que assume um papel de destaque e de ação. Conseqüentemente, isso explica a renovada vontade de autoridades em querer “controlar” a imprensa, com base em criativos argumentos e variados subterfúgios. Todos falaciosos. E porque insistem? Porque acossados e “desnudos”. Porque sonegam informações e faltam com a verdade. Abusados e reincidentes, sabem que depois da primeira mentira, sucedem-se as demais. Mas, para garantir o direito ao contraditório, devemos admitir o que os filósofos ensinam. A verdade não é um valor absoluto, um bem em si. Invariavelmente, pode ser relativa e, às vezes, até contraditória. Não é a toa que cada fato permite uma variedade de entendimentos e relatos. Aliás, acontece nos tribunais e acontecimentos do dia-a-dia. Sobre um mesmo fato testemunhado, várias pessoas têm pontos de vista diferentes. Verdades, mesmo uma meia-verdade, podem ferir e prejudicar. Mentiras também. Ironicamente, tanto a verdade quanto a mentira, em determinadas circunstâncias, e de acordo com a forma com que foram manejadas e explicitadas, podem ser esclarecedoras e exemplares. Não é a primeira, nem será a última Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Ainda veremos e ouviremos as mais escandalosas verdades e respectivas mentiras a negá-las. Por isso, estão desmoralizadas. Então, sobre verdades, mentiras e comissões de inquérito, o que significa e representa ao mais otimista cidadão brasileiro ver o ex-Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos atuando como advogado de defesa de Carlinhos Cachoeira? “Bem”, alguém dirá, “por 15 milhões de reais defendo até o diabo”. Nesse caso, poderíamos questionar que dinheiro é esse. Qual sua origem, legal ou ilegal? É fruto da contravenção e corrupção do qual é acusado o réu? É resultado de lavagem de dinheiro? Está manchado de sangue ou não? Sei que o princípio da legalidade, da ampla defesa e a presunção de inocência se estendem a todos. É direito constitucional. Mesmo de bandidos. A opção, ação e atuação do ex-ministro podem ser legais, mas são imorais. São antiéticas e vergonhosas. Não é uma verdade. É uma mentira! E a última questão, mas não menos importante: às vésperas de importante julgamento, o inoportuno e acintoso encontro do ex-ministro da Justiça e da Defesa Nacional Nelson Jobim, do atual ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Gilmar Mendes e do ex-presidente da República Lula, representa o quê para o mais otimista dos cidadãos? De parte a parte, entre as respectivas motivações, fatos e versões de cada um, resta uma única certeza: a verdade foi novamente humilhada pela mentira!

23 maio 2012

Chinelagem Ousada

Já perceberam um aspecto interessante e caricatural nessa sucessão de escândalos de negociatas e corrupção que jornais e revistas divulgam semanalmente, ao revelar encontros e gravações de conversas entre os ladrões? É um bando de manés que fazem uns trambiques fora-da-lei e sem cuidado prévio nenhum. Continuam falando aos seus telefones como se não soubessem que está “tudo” grampeado. Continuam fazendo transferências bancárias como se não soubessem que o Banco Central tem todos os dados. Continuam com suas amantes, seus amigos, seus “sócios”, suas mordomias, seus luxos domésticos e extravagâncias pessoais como se não houvesse um “dedo-duro”, um “ricardão” ou um “primo” na parada para “entregar” tudo e todos. Mas não é só isso. Já prestaram atenção na linguagem que usam? Ninguém fala direito e de modo compreensível. Não conjugam os verbos, nem dominam os pronomes. Seria compreensível e inteligente se fosse uma linguagem em código. Mas não é! Também é interessante observar que quase todos os escândalos sempre têm tido como “gatilho” de disparo personagens menores, incidentes menores, indignações menores, valores menores, e, inevitavelmente, amores não correspondidos. Lembram que ciúme em família levou Pedro Collor a “entregar” o próprio irmão Fernando. No mesmo episódio, o motorista Eriberto cumpriu papel relevante. Assim como, logo depois, as falantes ex-namoradas de Paulo Cesar Farias, o tesoureiro de Collor. Outro episódio: o desvendar da roubalheira do juiz Lalau teve como fagulha a inconformidade de um ex-genro, magoado com o não acesso ao “bolo”, aliás, surrupiado sob “as barbas e os olhos vendados” da justiça. Mais recentemente, no episódio do mensalão, o efeito dominó do escândalo petista foi acionado, involuntariamente, por um desconhecido diretor dos Correios, falante e exibicionista, embolsando a “fortuna” de três mil reais. Três mil reais!!! Mais tarde, Karina Sommagio, a ex-secretária de Marcos Valério, outra inconformada com a não participação no “bolo”, “abriu a boca e mandou tudo para o espaço”. E agora, ultimamente, o “caso Carlinhos Cachoeira”. Assim, pequenas inconformidades, inveja, a “grana que não pintou”, tudo é motivo para detonar os esquemas. Todos os motivos, menos a honra e a dignidade, a verdade e a justiça. São tão ignorantes, ladrõezinhos tão vagabundos, que não tem nível intelectual para fazer coisa de melhor qualidade. Afinal, roubar também exige um nível de excelência. Principalmente, fraudar licitações, realizar desvios e financiar seus “fantoches”. Esses nossos ladrões e seus parceiros são tão abusados na sua ignorante ousadia que eu nem sei o que é mais ofensivo para o cidadão: o roubo deles ou sua ousadia em nos ignorar e desrespeitar. Ser assaltado por uns “chinelões” desses, creio, é mais ofensivo do que o próprio roubo!

16 maio 2012

Todos Nossos Cachoeiras

É fácil demonstrarmos nossa indignação com os escândalos que ocorrem física e politicamente longe de nós. Exemplo são os sucessivos episódios que confirmam Brasília como o núcleo do crime organizado nacional (não esqueçamos que sessenta por cento de todos os tributos nacionais arrecadados estão lá)! Mas quem não conhece em seu estado e seu município inúmeras figuras de riqueza de origem duvidosa e suspeita, sejam contraventores explícitos ou não, que transitam com pompa e relevância nos círculos oficiais e oficiosos do poder? Aliás, tão socialmente aceitos e benquistos que muitas vezes ocupam funções importantes nas organizações da comunidade. Percebe-se que o comunitário silêncio, inação, dissimulada indiferença e boa convivência são os aspectos mais visíveis de uma política de possíveis e oportunas conveniências futuras. Se a hipótese de conveniência recíproca vai se realizar ou não, na dúvida determina um comportamento de não críticas, mas de elogios; de não contrariedade, mas de favorecimentos. De algum modo, ditos benfeitores e favorecidos são especialistas em sobrevivência política e social, sobretudo quando investidos de alguma forma de poder. Que afeta a vaidade e a expectativa de manutenção e ampliação do poder. O núcleo central da devassidão sociopolítico incontrolada é o ego inflado, a vaidade e o doce fruto do poder, sob a regência do dinheiro. Até prova em contrário, necessário acrescer que todos de “boa índole e investidos das melhores intenções”. Afinal, pequenos desvios de conduta são inerentes à condição humana. Sem esquecer que, crentes confessos que sempre o são, sabem que seus deuses tudo perdoam. Não é mesmo? Até mesmo a nossa nem tão Santa Cruz do Sul demonstra sinais inequívocos de sucessivas e suspeitas iniciativas (e tentativas) de negócios entre as áreas pública e privada. Ou não é perceptível uma maliciosa conexão entre interesses privados e negócios públicos, e o acelerado e ampliado enriquecimento de uns e outros? Então, comércio de informações privilegiadas, tráfico de influência, licitações dirigidas e enriquecimentos e “financiamentos” de homens públicos, isso é coisa que existe em todos os lugares. Municípios e estados. Claro que Brasília é o “paraíso”. O éden do lucro fácil! Em alguns lugares, essas “relações e negócios” são como se fossem pequenos córregos, cheios daquelas pedras com limo e intransponíveis. Típicas áreas de treinamento para “marinheiros de primeira viagem e negociata”. Finalmente, a soma de todos nossos simbólicos córregos e (carlinhos) cachoeiras visíveis, é simplesmente como se fosse a ponta de um iceberg que esconde sua maior parte sob as águas escuras dos núcleos de poder, mas que rasga contínua e cruelmente a frágil auto-estima do povo brasileiro como se fosse o casco de um reles Titanic.

09 maio 2012

Magia Mal Explicada

O poeta e dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956) já dizia que “melhor que roubar um banco, é fundar um!” Historicamente, bancos e agentes financeiros são malvistos e motivos de crítica popular. De modo que ninguém – ninguém mesmo! – sairá às ruas para defender bancos. A presidente Dilma “resolveu” mudar a história da nação e “exigiu” que os bancos reduzissem os juros. Oportunidade que todos os outros ex-presidentes também tiveram e não concretizaram. Inclusive, o seu mentor e guru Lula! Afinal, haverá algum líder político que não queira, ou que não quisesse, entrar nas páginas definitivas da história como o sujeito que libertou sua nação da escravatura financeira? Perdoem minha ironia, mas há doses de demagogia. Se os poderosos Banco Central, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são comandados pelo governo federal, porque não receberam ordem em contrário, desde sempre, oferecendo dinheiro mais barato para todos? Com certeza, os brasileiros abandonariam os “mafiosos” bancos privados e migrariam para os bancos estatais. Uma maravilha, não? Por que será que os dirigentes e acionistas de banco não oferecem cheque especial, cartão de crédito e empréstimos a taxas menores? Quais seus impedimentos? Será insensibilidade e ganância? Primeiramente, não existe magia em economia. Nem decreto, nem lei divina muda seus princípios de funcionamento. Se um grupo de pessoas atrasa suas prestações, ou o próprio governo tem dívidas astronômicas a financiar, os cidadãos pagarão por isso através de elevados tributos e financiamentos a taxas de juros mais elevadas. A presidente Dilma poderia ter sido mais franca e honesta na abordagem do assunto e na exposição de seus planos e motivos. Por exemplo, explicando se a redução da remuneração da poupança servirá para garantir que os bancos privados - após a redução dos juros – continuem capitalizados para comprar e vender lucrativamente os títulos públicos que garantem as novas dívidas do próprio governo e a rolagem das dívidas antigas? A ironia é que a modificação na caderneta de poupança prejudica a parcela mais humilde da população. E explicar porque essa dívida pública continua a crescer e por que o governo não reduz seus gastos, não controla suas despesas, não corrige seus erros e seus níveis de desperdícios e corrupção? Afinal, nisso está a origem e causa fundamental para a existência das elevadas taxas de juros ao consumidor, ora sob combate. Deveria demonstrar como se constitui o “negócio” dos bancos. Quais são suas obrigações com o governo (como os depósitos compulsórios), seus impostos, seus custos administrativos e de pessoal, níveis de inadimplência e sua margem de lucro. Seria uma conversa de país sério.