25 janeiro 2012

O BBB, a neta e a vovó

Seja por falta de opções condizentes com sua origem, com sua inserção social, com suas limitações financeiras, principalmente, resulta que o brasileiro tem na televisão sua mais expressiva opção de lazer. E considerada sua baixa escolaridade, resta potencializada a audiência televisiva. Simplificando, o tele-espectador é uma presa fácil e refém da banalização!
Por que todo nesse assunto? Porque ainda não estão encerradas as discussões populares sobre o recente episódio acerca de um suposto estupro no decorrer do confinamento do BigBrotherBrasil12.
Aliás, nem debates populares, nem investigações policiais, haja vista a abertura de inquérito policial. Assunto encerrado apenas para a Rede Globo que expulsou o suspeito e “tocou” o programa em frente.
Ao falar em BBB, não podemos esquecer-nos das novas (sub)celebridades femininas que atendem pelo nome de frutas. Mulheres-melancia, moranguinho, jaca, berinjela, maçã e outras mais. Direto das gôndolas para as revistas e os programas de televisão. E muito para além da “dança da garrafa”.
Faz tempo que nossa televisão transformou-se numa imensa e interminável passarela de seios e bundas femininas e corpos masculinos marombados. Tem para todos os gostos, cores e tamanhos, siliconados e anabolizados ou não.
A seu modo, ritmo e estilo, cada um faz o “rebolation” de suas “razões existenciais, ideais artísticos e seus planos de carreira”. Em comum, a reunião de muito hormônio e pouco neurônio!
Podemos reclamar de tudo, menos da abundância, com o perdão do trocadilho. Também podemos divergir, mas temos que admitir que essas “bundetes e marombados” têm audiência, existem e repercutem no mundo sócio-econômico-estético, criando estilos e fazendo moda. E nem falei em propaganda de cerveja!
E não importa para a Globo, ou outra rede qualquer que também tem seu programa similar, não importa aos respectivos anunciantes e demais espectadores que adoram o BBB, que você e eu entendamos que se trata, obviamente, de um abuso e atraso social essa vulgarização e comércio do corpo e da sexualidade.
Mas em relação ao BBB e as exposições explícitas de seus “heróis” (cala boca, Bial!), não me sai da cabeça a imagem de uma fictícia vovozinha na sala, cercada de parentes e vizinhos, vibrando com o desempenho da neta. É a possibilidade da fama e do sucesso obscurecendo toda a educação familiar e senso de pudor. Em suma, toda a nudez (e desfaçatez) não será mais castigada!
E pensar que ainda “ontem”, nas edições anteriores do BBB, d“A Fazenda”, ou no programa de lucianas, gugus e ratinhos, a mesma vovó, a mesma mamãe e papai, comentavam em alta e indignada voz acerca da “pouca vergonha alheia!”

18 janeiro 2012

Bestas Humanas

Repercutiu mundialmente o vídeo que mostra soldados norte-americanos urinando (divertidamente) sobre cadáveres de milicianos afegãos, possivelmente talibãs – adeptos do movimento nacionalista islâmico, de grande influência no Paquistão e no Afeganistão.
Não é e nem foi um caso isolado de abuso. Ainda no Afeganistão, houve uma invasão a um casamento e que resultou na morte de 37 pessoas (inclusive mulheres e crianças!).
Antes, no Iraque, em 2005, na cidadezinha de Haditha, 24 civis foram assassinados pelos soldados americanos (inclusive mulheres e crianças, repito!). Em represália a um atentado, alegaram em sua defesa.
Em 2006, depois de terem assassinado os pais e a irmã caçula - e antes de um deles matá-la com um tiro na cabeça, soldados americanos estupraram uma menina iraquiana de 14 anos.
Depois de estuprar, matar e incinerar o corpo da garota, os soldados retornaram ao seu acampamento e prepararam um frango frito para o jantar. Como se nada houvera.
Também não podemos esquecer-nos de Abu Ghraib. Aquele episódio que revelou – através de fotos – o horror dentro do presídio controlado por americanos. Humilhações e torturas de presos iraquianos, quase sempre desnudos. E nem esquecer de Guantánamo.
São episódios e abusos que chegaram ao nosso conhecimento, eventualmente fotografados, filmados ou gravados. A absoluta maioria não é documentada e some aos “olhos da humanidade”. Mas com certeza, não desaparecem dos olhos e da memória das vítimas e seus algozes. Fardados ou não.
Na verdade, não podemos esquecer-nos de guerra nenhuma. Em qualquer época, seja em qualquer lugar do mundo, sejam quem forem os personagens e suas nacionalidades.
Afinal, não há nada de novo no front. As guerras bestializam os homens. O medo de morrer e a distância de casa e da família fragilizam o ser humano. Abusos, torturas e homicídios são apenas reflexos inevitáveis e inerentes ao ambiente bélico.
Ou alguém supõe que um soldado apavorado e temeroso da própria morte lembraria os termos da Terceira Convenção de Genebra (1929), que a exemplo de outras define direitos e deveres durante as guerras.
Diz a convenção: “é reconhecido como prisioneiro de guerra todo combatente capturado, podendo este ser um soldado de um exército, um membro de uma milícia ou até mesmo um civil. Tem direito a tratamento humano sem ser submetido à tortura e quaisquer atos de pressão física ou psicológica. Tem direito a higiene e alimentação. E fica mantido o respeito a sua religião”.
Dizem que toda guerra tem um vencedor. Não é verdade. Não há vencedores. Apenas perdedores. E entre comunidades, povos, nações ou indivíduos, o maior perdedor é a humanidade, o maior perdedor é a idéia que temos e alimentamos poeticamente sobre o que vem a ser humanidade.
A despersonalização do sujeito e sua destruição ética e moral é tamanha que fica difícil imaginar que tais homens também têm pais, mulheres e filhos, para cujos braços e abraços voltarão ao término do conflito como se nada houvera. Será?

12 janeiro 2012

Veja as denúncias contra os 12 governadores no TSE | Congresso em Foco

André Puccinelli (PMDB-MS)
O peemedebista é acusado de ter praticado abuso de poder econômico, abuso de poder político, abuso de autoridade e uso indevido dos meios de comunicação social durante as eleições de 2010.

Antonio Anastasia (PSDB-MG)
O recurso foi apresentado pelo peemedebista Hélio Costa, que perdeu a disputa para o governo local para o tucano. De acordo com a denúncia, houve abuso de poder ecnômico durante a campanha. O peemedebista contesta a assinatura de 3.545 convênios com 842 municípios mineiros nos últimos dias antes de a campanha começar oficialmente. A legislação eleitoral proíbe a transferência de recursos nos três meses anteriores à eleição. A exceção é se os contratos já existiam antes do período eleitoral. Nos convênios, o governo estadual transfere recursos financeiros para serviços, obras e compras nas cidades.

Cid Gomes (PSB-CE)
No caso do governador reeleito do Ceará, a coligação adversária argumenta que ele utilizou indevidamente a propaganda institucional com o objetivo de promover sua candidatura. Os adversários também acusam o governador de abuso de poder econômico e político.

José de Anchieta Junior (PSDB-RR)
Entre os governadores, é o que está em situação mais delicada. Em 11 de fevereiro do ano passado, o TRE de Roraima cassou seu mandato por uso indevido dos meios de comunicação. No entanto, dias depois, o TSE concedeu liminar para o tucano permanecer no cargo até o fim do processo e esgotamento dos recursos. Um dos seus processos no TSE chegou a ser extinto em novembro. Porém, no mês seguinte, o TRE-RR novamente deu uma decisão contrária ao tucano. Mais uma vez, ele foi cassado por arrecadação e gastos ilícitos de campanha. Na oportunidade, a corte local manteve Anchieta no cargo até a publicação do acórdão e o julgamento de eventuais recursos. No caso que tramita no TSE, ele é acusado de uso indevido dos meios de comunicação, de abuso de poder político e econômico. Segundo os autores da ação, a população foi “bombardeada”, desde o início da disputa eleitoral, em 2010, “por uma massacrante propaganda eleitoral (negativa, em relação aos autores, e altamente promocional, em relação à chapa encabeçada pelo governador). Eles afirmam que a Rádio Roraima, vinculada ao governo do estado, foi usada para fins eleitorais.

Marcelo Déda (PT-SE)
Entre os 12 processos que restam, o mais recente é o movido contra o governador de Sergipe. O MPE acusa Marcelo Déda de ter divulgado publicidade institucional nos três meses anteriores ao pleito, em pelo menos três locais públicos, com o símbolo característico da administração estadual. A legislação eleitoral proíbe propagandas neste período, com exceção se forem de utilidade pública. Os procuradores eleitorais também acusam o governador de usar a residência oficial em almoço pago com recursos públicos para cerca de 300 convidados, a maioria líderes políticos do estado. Durante o almoço, ainda segundo a denúncia, Marcelo Déda confirmou sua candidatura à reeleição. Em julgamento no ano passado, o Tribunal Regional Eleitoral do Sergipe (TRE-SE) considerou as provas apresentadas insuficientes para a cassação do mandato e absolveu o petista. Houve recurso e o caso é relatado pelo ministro Marco Aurélio Mello no TSE.

Omar Aziz (PSD-AM)
Ele e seu vice, José Melo de Oliveira, são acusados pelo MPE de abuso de poder econômico e político e uso indevido dos meios de comunicação social. Aziz foi reeleito para um novo mandato à frente do executivo amazonense no primeiro turno com aproximadamente 63% dos votos. De acordo com a denúncia feita pelo Ministério Público, Aziz foi beneficiado pela veiculação de 30 peças de propaganda institucional, em rádios e emissoras de televisão, que totalizaram mais de 6,5 mil inserções. O custo das peças foi de R$ 4,08 milhões.

Roseana Sarney (PMDB-MA)
A governadora reeleita do Maranhão enfrenta dois recursos contra a expedição de seu diploma. Um foi apresentado pelo candidato derrotado ao Senado José Reinaldo Carneiro Tavares (PSB). O outro foi movido pelo candidato a deputado estadual pelo PRTB José Maria da Silva Fontinele. No primeiro caso, a peemedebista é acusada de abuso de poder político e econômico, compra de votos e fraude. O outro recurso trata de uso indevido dos meios de comunicação. De acordo com Tavares, Roseana assinou, somente em junho de 2010, 979 convênios com municípios com “desvio de finalidade”. Outra fraude, segundo o autor, foi a transferência voluntária de verbas do Fundo Estadual de Saúde aos fundos municipais de saúde, supostamente beneficiando prefeituras governadas pelos “aliados ou neo-aliados”. Para o candidato derrotado ao Senado, ela deve ser cassada também por ter continuado a distribuir bens e benefícios em ano eleitoral. Tavares cita o programa social Viva Casa como exemplo de irregularidade. Ele e Fontinele apontam que, durante a campanha, houve ampla divulgação da candidatura da peemedebista, realizada sob forma de “publicidade institucional contendo expressão identificadora de sua administração e de sua pessoa, com a finalidade de captar ilicitamente o voto do eleitorado”.

Sérgio Cabral (PMDB-RJ)
A acusação é de abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação durante sua campanha à reeleição. O recurso foi proposto por Fernando Peregrino, candidato derrotado do PR ao governo em 2010. Peregrino também acusa Cabral de abuso de poder econômico, o que, segundo ele, causou desequilíbrio na disputa com outros candidatos.

Siqueira Campos (PSDB-TO)
O tucano é acusado de abuso de poder econômico e político, uso indevido de meio de comunicação social, compra de votos e conduta vedada a agente público pelo ex-governador Carlos Gaguim (PMDB), que perdeu a eleição. Segundo a denúncia, prefeitos aliados de Siqueira Campos liberaram servidores públicos municipais para participar de reunião ou caminhada política no horário do expediente. Outra acusação é que houve arrecadação ilegal de recursos para a campanha e propaganda extemporânea. Segundo o candidato derrotado e os parlamentares, o programa tem grande audiência em Araguaína, segundo maior colégio eleitoral de Tocantins, e em outras regiões que, juntas, atingiram mais de 250 mil eleitores.

Teotônio Vilela (PSDB-AL)
A coligação adversária pediu a cassação do tucano sob o argumento de que ele comprou votos para se reeleger em 2010. Segundo a denúncia, o crime de captação ilícita de sufrágio foi caracterizado pela distribuição de combustível para aproximadamente 2,5 mil carros que participaram “da maior carreata da história de Maceió”. A coligação pediu ao TSE que solicitasse as provas colhidas pela Polícia Federal para comprovar as irregularidades.

Tião Viana (PT-AC)
Ele é acusado pelo Ministério Público Eleitoral de abuso de poder econômico e político e uso indevido dos meios de comunicação. Na mesma ação, o MPE pede a cassação do diploma do vice Carlos Cesar Correia de Messias e do senador Jorge Viana (PT), irmão do governador e ex-chefe do Executivo acreano. De acordo com a denúncia, eles usaram servidores de empresas privadas que prestavam serviços ao estado para divulgar e realizar campanhas. O MPE disse que a linha editorial dos maiores jornais do estado e das emissoras de televisão e rádio foi dirigida, favorecendo os petistas e prejudicando os adversários. Um dos exemplos dados pelo MPE é de uma reportagem veiculada dois dias antes das eleições sobre a BR-364. Na matéria, a obra foi qualificada como a melhor do governo do Acre.

Wilson Martins (PSB-PI)
Governador reeleito do Piauí, Martins é acusado, junto com seu vice, Antônio José de Morais Sousa Filho, de compra de votos e uso de propaganda irregular em municípios piauienses. O PSDB é o autor do recurso contra expedição de diploma. De acordo com a coligação tucana, o crime eleitoral ocorreu em três municípios do estado: Batalha, Parnaíba e Piracuruca. Além das acusações nos três municípios, o PSDB também argumenta que, a partir do momento em que assumiu o governo, Martins cometeu abuso de poder econômico e político. De acordo com o recurso, foram protocoladas 11 representações e oito Ações de Investigações Judiciais Eleitorais que denunciam a prática de atos abusivos, utilização de bens imóveis pertencentes à Administração Pública.

Leia ainda: Quase metade dos governadores na mira do TSE

11 janeiro 2012

Todos e todas

“Boa noite a todos e todas. Quero saudar a presença de todos e todas”. Com certeza, você já ouviu essas expressões em solenidades político-partidário-governamentais ou acadêmico-universitárias. Se não ouviu, ouvirá, com certeza.
Trata-se de um modismo denominado “linguagem inclusiva”. Sua utilização massiva teria se originado de reivindicação feminina. No entender das militantes, a gramática nacional torna as mulheres “invisíveis”. Entendem que a denominação genérica “todos” consolida e mantém uma supremacia masculina do cotidiano político, social e familiar.
Essa expressão é apenas mais uma apropriação linguística entre centenas que surfam na onda do politicamente correto, uma praga que multiplicou seus fiéis. E que acreditam que a linguagem pode mudar a realidade. Porém, no máximo, conseguem influenciar a linguagem, mas não mudam a realidade.
Os mais velhos lembram o hoje membro da Academia Brasileira de Letras (o que não significa muito haja vista a gandaia seletiva que é) e ex-presidente José Sarney (1985-1990) saudando “brasileiros e brasileiras”. Talvez tenha sido um pioneiro. Não tão exagerado quanto os atuais “lingüistas ideológicos”, mas não menos ridículo.
Consulte qualquer professor de português. São expressões redundantes. O português é uma língua que não tem o gênero neutro. De modo que o gênero masculino (todos!) ocupa esse papel.
E isso não tem nada a ver com machismo. Se pretendem de fato valorizar as mulheres devem encontrar outras soluções. Na vida real, não no campo da retórica.
Aliás, é até um desrespeito tratar as pessoas assim, subestimando sua inteligência e sua percepção da realidade. E, sem dúvida, um desrespeito a gramática.
Essa onda do politicamente correto criou algumas preciosidades patéticas. Um exemplo é o tratamento verbal dispensado aos idosos. Velhice passou a ser chamada de “terceira idade”. Ou como dizem alguns mais exagerados e abusados: “melhor idade”.
Até parece que nunca conversaram com idosos sobre os inúmeros problemas e transtornos que decorrem da chegada ou do avanço da idade. São eufemismos ofensivos à realidade que as pessoas enfrentam na vida cotidiana.
Não vai demorar muito e veremos campanhas para abolir expressões ou “domar” palavras tidas como perniciosas ao convívio social. Como se a língua fosse um “animal domesticável”.
Uma coisa são campanhas de esclarecimento e conscientização educacional e política, ou políticas públicas antidiscriminatórias e de transformação social. Outra coisa é manipular palavras.
“Todos e todas” é apenas mais uma das dezenas (ou serão centenas?) de bobagens com que o populismo e a demagogia nos brindam de tempos em tempos.

02 janeiro 2012

De rir. E de morrer!

Recentemente, o mundo ficou sabendo da morte do ditador da Coréia do Norte, Kim Jong-iL (1941-2011), presidente da Comissão Nacional de Defesa e Secretário-Geral do Partido do Trabalho, os dois cargos máximos norte-coreanos.
No poder desde 1994, dezessete anos, portanto, Kim Jong sucedera o próprio pai Kim iL Sung (1912-1994) que já ficara no poder durante outros 46 anos. Quem vai sucedê-lo é o filho Kim Jong-uN, nascido em 1993, ou seja, 27 anos de idade. Neto e filho de tiranos sanguinários, o jovem Kim Jong-uN é um enigma comportamental. Para o bem e para o mal.
A Coréia do Norte é um país pobre e isolado do mundo ocidental. Ditadura familiar e militar, partido único e nenhuma liberdade de imprensa e opinião. Não é toa que milhares de pessoas já fugiram do país, a exemplo de nossa vizinha Cuba.
Tanto a Coréia quanto Cuba estão parados em algum ponto do túnel do tempo, possivelmente uns sessenta anos atrás, como que petrificados, congelados e “possuídos” por ideais (seriam ideais?) que a história sepultou.
Mas tem quem goste e ainda acredite em idealizadas tiranias. Até mesmo no Brasil, exemplo de país aberto, democrático e com imensa liberdade de imprensa, opinião e organização social.
Estou falando da longa nota oficial do Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ao se solidarizar com o povo coreano e com o Partido do Trabalho da Coréia pela morte do seu líder. Assinada pelo presidente nacional do PCdoB, a nota destaca o “profundo pesar pelo falecimento de Kim”.
A nota também destaca “sua dedicação pela (...) construção de um Estado e de uma economia prósperos e socialistas - baseados nos interesses e necessidades das massas populares”.
E entre outras tantas afirmações fora da realidade, nosso PCdoB finaliza: “(...) que seguirão unidos para defender a independência frente às ameaças e ataques covardes do imperialismo, e seguir impulsionando as inovações necessárias para avançar na construção socialista e na melhoria da vida do povo coreano”.
Creio que não é preciso dizer mais nada sobre essa nota oficial. Será uma idealização, um delírio ou o quê? O assustador é que se trata de um partido político brasileiro e apto ao poder nacional.
Não fosse sério e preocupante o “conjunto da obra”, tanto do lado de lá como do lado de cá, o mais engraçado - e isso não é novidade para quem estuda a natureza das ditaduras e seu gosto pelo luxo e extravagâncias burguesas - é o seguinte:
Quem deveria ser o sucessor na Coréia do Norte era o filho mais velho. Mas foi afastado da sucessão por ter sido flagrado com um passaporte falso no Japão quando tentava visitar a Disneylândia. Já o filho que agora assume estudou na Suíça e já teria visitado a Disneylândia japonesa usando um passaporte brasileiro.
É de morrer de rir. O diabo é que os tiranizados norte-coreanos morrem de verdade!

Justiça idealizada

Idealização é o ato humano de projeção de algo de modo positivo e ideal. Quase sempre de faculdades totalmente virtuosas. E quase sempre, ou sempre, fantasiada e exagerada.
Idealizamos nossas famílias e nossos pais. Nossos amigos. Nossos hábitos e nossos gostos. Idealizamos nossa cidade, nosso estado e nosso país. Mais do que outras coisas, idealizamos nossos amores, namorados, maridos e amantes (quem os tem!). Ah, e nosso time de futebol.
Idealizamos porque cremos, porque queremos crer, porque precisamos crer, e idealizamos, principalmente, porque amamos. E o amor, todos sabem, é cego!
Já idealizávamos os governos e o parlamento. Os políticos e os governantes. Não que merecessem. Mais porque precisávamos e precisamos crer nas instituições. Ainda que também fantasiada e exageradamente.
Todavia, ainda idealizamos o Poder Judiciário. Talvez influenciados pelo idealismo das leis, dos rituais, das roupas, da pompa e circunstância, entre outros sinais exteriores.
Faz tempo que há um agravamento na autodesmoralização dos poderes de estado. Afinal, os sucessivos escândalos - de todos os tipos e tamanhos – significam algo. Assim como se sucedem os tipos humanos cada vez mais patéticos, sejam pela natureza de seus golpes, seja pela qualidade de suas explicações. Ou falta de. Por tudo e por todos, distantes de nossas idealizações.
Tocante ao Poder Judiciário parece que também resolveu se autodesmoralizar. Afinal, o que significa a reação das associações de magistrados às investigações do Conselho Nacional de Justiça, mais precisamente contra sua corregedora Eliana Calmon?
Se a absoluta maioria dos juízes é honesta, bem-intencionada e vocacionada, por que essa reação? O CNJ procura “peixes graúdos”? Enfrenta as cúpulas dos tribunais estaduais? Vai “respingar” em membros do STF? Vai demonstrar o corporativismo predatório e desmoralizar a justiça? Vai desmoralizar que justiça? A que idealizamos ou a verdadeira?
Ou porque vai desnudar os milhões e milhões de reais dos quais os juízes se apropriaram – via artifícios legais, a exemplo de milionário auxílio-moradia e na famosa e inesquecível conversão da URV (um dos maiores escândalos da república brasileira)?
Será que a sociedade brasileira não merece explicações? Ou será que se soubermos muito mais sobre o “último e casto” dos poderes de estado nossa idealização acabará?
Para encerrar. Nossas idealizações particulares, equivocadas ou não, as pagamos com o preço de nossas desilusões e sofrimentos pessoais. Porém, as idealizações públicas, equivocadas ou não, as pagamos com dinheiro público. O dinheiro de todos os brasileiros. E se tratando de dinheiro público não pode haver segredos, nem reservas. Nem idealizações!