30 maio 2012

Verdades e Mentiras

Ninguém gosta de ser confrontado, de ser chamado a dar explicações, ou, em casos mais graves, de ser acusado. Pode acontecer no âmbito familiar, nas relações de trabalho, e até mesmo entre amigos. Em se tratando de governantes, de políticos, em geral, isso fica ainda mais evidente. Nesse processo de confrontação, desafio e acusação, é a imprensa que assume um papel de destaque e de ação. Conseqüentemente, isso explica a renovada vontade de autoridades em querer “controlar” a imprensa, com base em criativos argumentos e variados subterfúgios. Todos falaciosos. E porque insistem? Porque acossados e “desnudos”. Porque sonegam informações e faltam com a verdade. Abusados e reincidentes, sabem que depois da primeira mentira, sucedem-se as demais. Mas, para garantir o direito ao contraditório, devemos admitir o que os filósofos ensinam. A verdade não é um valor absoluto, um bem em si. Invariavelmente, pode ser relativa e, às vezes, até contraditória. Não é a toa que cada fato permite uma variedade de entendimentos e relatos. Aliás, acontece nos tribunais e acontecimentos do dia-a-dia. Sobre um mesmo fato testemunhado, várias pessoas têm pontos de vista diferentes. Verdades, mesmo uma meia-verdade, podem ferir e prejudicar. Mentiras também. Ironicamente, tanto a verdade quanto a mentira, em determinadas circunstâncias, e de acordo com a forma com que foram manejadas e explicitadas, podem ser esclarecedoras e exemplares. Não é a primeira, nem será a última Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI). Ainda veremos e ouviremos as mais escandalosas verdades e respectivas mentiras a negá-las. Por isso, estão desmoralizadas. Então, sobre verdades, mentiras e comissões de inquérito, o que significa e representa ao mais otimista cidadão brasileiro ver o ex-Ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos atuando como advogado de defesa de Carlinhos Cachoeira? “Bem”, alguém dirá, “por 15 milhões de reais defendo até o diabo”. Nesse caso, poderíamos questionar que dinheiro é esse. Qual sua origem, legal ou ilegal? É fruto da contravenção e corrupção do qual é acusado o réu? É resultado de lavagem de dinheiro? Está manchado de sangue ou não? Sei que o princípio da legalidade, da ampla defesa e a presunção de inocência se estendem a todos. É direito constitucional. Mesmo de bandidos. A opção, ação e atuação do ex-ministro podem ser legais, mas são imorais. São antiéticas e vergonhosas. Não é uma verdade. É uma mentira! E a última questão, mas não menos importante: às vésperas de importante julgamento, o inoportuno e acintoso encontro do ex-ministro da Justiça e da Defesa Nacional Nelson Jobim, do atual ministro e ex-presidente do Supremo Tribunal Gilmar Mendes e do ex-presidente da República Lula, representa o quê para o mais otimista dos cidadãos? De parte a parte, entre as respectivas motivações, fatos e versões de cada um, resta uma única certeza: a verdade foi novamente humilhada pela mentira!

23 maio 2012

Chinelagem Ousada

Já perceberam um aspecto interessante e caricatural nessa sucessão de escândalos de negociatas e corrupção que jornais e revistas divulgam semanalmente, ao revelar encontros e gravações de conversas entre os ladrões? É um bando de manés que fazem uns trambiques fora-da-lei e sem cuidado prévio nenhum. Continuam falando aos seus telefones como se não soubessem que está “tudo” grampeado. Continuam fazendo transferências bancárias como se não soubessem que o Banco Central tem todos os dados. Continuam com suas amantes, seus amigos, seus “sócios”, suas mordomias, seus luxos domésticos e extravagâncias pessoais como se não houvesse um “dedo-duro”, um “ricardão” ou um “primo” na parada para “entregar” tudo e todos. Mas não é só isso. Já prestaram atenção na linguagem que usam? Ninguém fala direito e de modo compreensível. Não conjugam os verbos, nem dominam os pronomes. Seria compreensível e inteligente se fosse uma linguagem em código. Mas não é! Também é interessante observar que quase todos os escândalos sempre têm tido como “gatilho” de disparo personagens menores, incidentes menores, indignações menores, valores menores, e, inevitavelmente, amores não correspondidos. Lembram que ciúme em família levou Pedro Collor a “entregar” o próprio irmão Fernando. No mesmo episódio, o motorista Eriberto cumpriu papel relevante. Assim como, logo depois, as falantes ex-namoradas de Paulo Cesar Farias, o tesoureiro de Collor. Outro episódio: o desvendar da roubalheira do juiz Lalau teve como fagulha a inconformidade de um ex-genro, magoado com o não acesso ao “bolo”, aliás, surrupiado sob “as barbas e os olhos vendados” da justiça. Mais recentemente, no episódio do mensalão, o efeito dominó do escândalo petista foi acionado, involuntariamente, por um desconhecido diretor dos Correios, falante e exibicionista, embolsando a “fortuna” de três mil reais. Três mil reais!!! Mais tarde, Karina Sommagio, a ex-secretária de Marcos Valério, outra inconformada com a não participação no “bolo”, “abriu a boca e mandou tudo para o espaço”. E agora, ultimamente, o “caso Carlinhos Cachoeira”. Assim, pequenas inconformidades, inveja, a “grana que não pintou”, tudo é motivo para detonar os esquemas. Todos os motivos, menos a honra e a dignidade, a verdade e a justiça. São tão ignorantes, ladrõezinhos tão vagabundos, que não tem nível intelectual para fazer coisa de melhor qualidade. Afinal, roubar também exige um nível de excelência. Principalmente, fraudar licitações, realizar desvios e financiar seus “fantoches”. Esses nossos ladrões e seus parceiros são tão abusados na sua ignorante ousadia que eu nem sei o que é mais ofensivo para o cidadão: o roubo deles ou sua ousadia em nos ignorar e desrespeitar. Ser assaltado por uns “chinelões” desses, creio, é mais ofensivo do que o próprio roubo!

16 maio 2012

Todos Nossos Cachoeiras

É fácil demonstrarmos nossa indignação com os escândalos que ocorrem física e politicamente longe de nós. Exemplo são os sucessivos episódios que confirmam Brasília como o núcleo do crime organizado nacional (não esqueçamos que sessenta por cento de todos os tributos nacionais arrecadados estão lá)! Mas quem não conhece em seu estado e seu município inúmeras figuras de riqueza de origem duvidosa e suspeita, sejam contraventores explícitos ou não, que transitam com pompa e relevância nos círculos oficiais e oficiosos do poder? Aliás, tão socialmente aceitos e benquistos que muitas vezes ocupam funções importantes nas organizações da comunidade. Percebe-se que o comunitário silêncio, inação, dissimulada indiferença e boa convivência são os aspectos mais visíveis de uma política de possíveis e oportunas conveniências futuras. Se a hipótese de conveniência recíproca vai se realizar ou não, na dúvida determina um comportamento de não críticas, mas de elogios; de não contrariedade, mas de favorecimentos. De algum modo, ditos benfeitores e favorecidos são especialistas em sobrevivência política e social, sobretudo quando investidos de alguma forma de poder. Que afeta a vaidade e a expectativa de manutenção e ampliação do poder. O núcleo central da devassidão sociopolítico incontrolada é o ego inflado, a vaidade e o doce fruto do poder, sob a regência do dinheiro. Até prova em contrário, necessário acrescer que todos de “boa índole e investidos das melhores intenções”. Afinal, pequenos desvios de conduta são inerentes à condição humana. Sem esquecer que, crentes confessos que sempre o são, sabem que seus deuses tudo perdoam. Não é mesmo? Até mesmo a nossa nem tão Santa Cruz do Sul demonstra sinais inequívocos de sucessivas e suspeitas iniciativas (e tentativas) de negócios entre as áreas pública e privada. Ou não é perceptível uma maliciosa conexão entre interesses privados e negócios públicos, e o acelerado e ampliado enriquecimento de uns e outros? Então, comércio de informações privilegiadas, tráfico de influência, licitações dirigidas e enriquecimentos e “financiamentos” de homens públicos, isso é coisa que existe em todos os lugares. Municípios e estados. Claro que Brasília é o “paraíso”. O éden do lucro fácil! Em alguns lugares, essas “relações e negócios” são como se fossem pequenos córregos, cheios daquelas pedras com limo e intransponíveis. Típicas áreas de treinamento para “marinheiros de primeira viagem e negociata”. Finalmente, a soma de todos nossos simbólicos córregos e (carlinhos) cachoeiras visíveis, é simplesmente como se fosse a ponta de um iceberg que esconde sua maior parte sob as águas escuras dos núcleos de poder, mas que rasga contínua e cruelmente a frágil auto-estima do povo brasileiro como se fosse o casco de um reles Titanic.

09 maio 2012

Magia Mal Explicada

O poeta e dramaturgo alemão Berthold Brecht (1898-1956) já dizia que “melhor que roubar um banco, é fundar um!” Historicamente, bancos e agentes financeiros são malvistos e motivos de crítica popular. De modo que ninguém – ninguém mesmo! – sairá às ruas para defender bancos. A presidente Dilma “resolveu” mudar a história da nação e “exigiu” que os bancos reduzissem os juros. Oportunidade que todos os outros ex-presidentes também tiveram e não concretizaram. Inclusive, o seu mentor e guru Lula! Afinal, haverá algum líder político que não queira, ou que não quisesse, entrar nas páginas definitivas da história como o sujeito que libertou sua nação da escravatura financeira? Perdoem minha ironia, mas há doses de demagogia. Se os poderosos Banco Central, Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal são comandados pelo governo federal, porque não receberam ordem em contrário, desde sempre, oferecendo dinheiro mais barato para todos? Com certeza, os brasileiros abandonariam os “mafiosos” bancos privados e migrariam para os bancos estatais. Uma maravilha, não? Por que será que os dirigentes e acionistas de banco não oferecem cheque especial, cartão de crédito e empréstimos a taxas menores? Quais seus impedimentos? Será insensibilidade e ganância? Primeiramente, não existe magia em economia. Nem decreto, nem lei divina muda seus princípios de funcionamento. Se um grupo de pessoas atrasa suas prestações, ou o próprio governo tem dívidas astronômicas a financiar, os cidadãos pagarão por isso através de elevados tributos e financiamentos a taxas de juros mais elevadas. A presidente Dilma poderia ter sido mais franca e honesta na abordagem do assunto e na exposição de seus planos e motivos. Por exemplo, explicando se a redução da remuneração da poupança servirá para garantir que os bancos privados - após a redução dos juros – continuem capitalizados para comprar e vender lucrativamente os títulos públicos que garantem as novas dívidas do próprio governo e a rolagem das dívidas antigas? A ironia é que a modificação na caderneta de poupança prejudica a parcela mais humilde da população. E explicar porque essa dívida pública continua a crescer e por que o governo não reduz seus gastos, não controla suas despesas, não corrige seus erros e seus níveis de desperdícios e corrupção? Afinal, nisso está a origem e causa fundamental para a existência das elevadas taxas de juros ao consumidor, ora sob combate. Deveria demonstrar como se constitui o “negócio” dos bancos. Quais são suas obrigações com o governo (como os depósitos compulsórios), seus impostos, seus custos administrativos e de pessoal, níveis de inadimplência e sua margem de lucro. Seria uma conversa de país sério.

02 maio 2012

Economia e Política em Fogo Alto

Nos últimos dias, os brasileiros foram brindados com agudas intervenções - práticas e retóricas - governamentais na política de juros de instituições financeiras. A partir dos bancos estatais, o governo cria um clima de constrangimento aos bancos privados impelindo-os a redução das taxas aos correntistas e consumidores. Parênteses: há uma dose expressiva de demagogia nos discursos e atitudes do governo. Assunto para outro e oportuno artigo. O governo está agindo basicamente para favorecer a produção nacional. E entre os pontos de ação, além da redução da taxa de juros básica, estão medidas fiscais e aduaneiras, inibição das importações e melhoria da taxa de câmbio. Semanas antes, o governo já anunciara um pacote mais amplo de medidas de incentivo ao setor produtivo. Ampliação da desoneração da folha de pagamento das empresas, aumento de recursos para o BNDES emprestar mais com taxas menores e ações de desburocratização do comércio exterior e defesa comercial. O que parece ser uma guerra definitiva ao “Custo Brasil” é apenas uma batalha desesperada para recuperar posições no comércio internacional e na produção industrial nacional. Faz muitos anos que a indústria brasileira perde posições, principalmente no mercado interno. A indústria brasileira vive um processo de contração. Paradoxal e ironicamente num momento em que o mercado interno vive uma expansão. Os números são assustadores. Em 2011, por exemplo, o PIB cresceu 2,7%, mas a indústria cresceu miseráveis 0,3%. Taxas de investimento e aumento de produtividade têm indicadores de quinze anos atrás. Mas se há uma evolução geral da técnica e dos processos industriais, onde está a razão principal da retração industrial? O núcleo do problema está, repito, no “Custo Brasil”. O Brasil é um país caríssimo para quem quer produzir. E isso inviabiliza o crescimento e a competição. Entre os países emergentes o Brasil tem a maior carga tributária, equivalente a trinta e oito por cento de toda a produção nacional de bens e serviços. Também nossos graves problemas de infra-estrutura aumentam os custos de produção e transporte, especialmente daqueles destinados à exportação. Os próximos meses serão de enormes e nervosas tensões. Ainda que não haja uma influência direta no governo central, as eleições municipais colocarão frente a frente, e em posições adversas, inúmeros partidos e parlamentares da base aliada. Não bastasse o processo eleitoral, teremos ainda a CPI do Carlinhos Cachoeira e o julgamento do “Mensalão” pelo STF. O que significará mais notícias escandalosas e vergonha nacional. E em meio a isso tudo, a grave questão econômico-industrial já mencionada. Então, cabem algumas perguntas: qual a influência que as eleições municipais terão na continuidade e qualidade das políticas e procedimentos federais? Ou, ainda e ao contrario, qual a influência que os altos e baixos da política federal terão nos desdobramentos das eleições municipais? Os grandes interessados nas eleições municipais, deputados estaduais e federais, serão pressionados a prestar contas aos eleitores sobre o que acontece no estado e em Brasília? .