28 agosto 2013

Cuba Libre

De antemão, sabemos que a utilização dos médicos estrangeiros não vai solucionar as dificuldades e necessidades das comunidades carentes. Há muita desorganização, desperdício de recursos e carência de infra-estrutura hospitalar.
E tocante aos médicos brasileiros, posssivelmente, uma carreira estável e pública poderia garantir sua presença em locais menores e distantes dos grandes e atraentes centros urbanos.

Relativamente aos nossos médicos e hospitais, é covardia fazer comparações com a pobre e miserável Cuba. O mérito cubano não tem nada de surpreendente. É a medicina e farmácia preventiva, bairro a bairro. Mas Cuba é um país minúsculo e o Brasil é um país gigante. Em todos os sentidos, são números e indicadores incomparáveis.

De todo modo, para o tipo de atendimento que propõe o governo, mais preventivo que curativo, com certeza, poderíamos fazer algo parecido, a exemplo de treinar milhares de estudantes de medicina, farmácia e enfermagem. E, possivelmente, obter melhores resultados.

Mas o governo prefere outras hipóteses. Essa solução cubana é muito estranha. Não consta que a pequena ilha caribenha seja um núcleo de excelência médica. É um surpreendente negócio. E com os ditadores e irmãos Castro de atravessadores, melhor dizendo, terceirizadores de mão-de-obra. Ironicamente, logo no governo do PT, que sempre foi contra as terceirizações.

O tratamento aos cubanos será diferente do que em relação aos demais médicos estrangeiros. A bolsa de R$ 10 mil ao mês não será paga diretamente aos médicos, mas repassada ao governo cubano. Que fará a distribuição e repasse a seu critério. Algo em torno de 25% a 40% do total. O governo cubano fica com 60 a 75%. É uma divisão desigual!

Mas porque os médicos se submetem a isso? Porque precisam trabalhar e porque tem família. Aliás, há acusações de que dirigentes partidários na ilha observam os familiares dos médicos, como se fossem reféns. Ou seja, os médicos cubanos “exportados” não seriam homens livres.

Aliás, coincidência ou não, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, já antecipou e disse que nenhum dos médicos cubanos contratados receberá asilo diplomático/político caso faça o pedido após desembarcar no Brasil. Se bobearem, se não se comportarem, serão devolvidos à ilha, do mesmo modo que os boxeadores. Lembra dos boxeadores?

Tudo indica que ainda haverá muita discussão em torno dessa polêmica iniciativa governamental. E processos judiciais. Muitos processos questionando a legalidade e a legitimidade dessa “inovadora” relação de trabalho. Seria uma espécie de neoescravagismo?

Cuba Libre é apenas um drinque!

07 agosto 2013

Negociata$

Não há um só dia em que não estoure um novo escândalo, seja federal ou em algum dos vinte e sete estados brasileiros. Fatos que ensejam óbvias constatações e perguntas que comprometem nossas esperanças.

Será apenas a ponta visível de um imenso iceberg denominado estado brasileiro, um gigante arrecadador e fora de controle público? Conseqüências do predomínio do “jeitinho” e de nossa costumeira e generalizada omissão?

Comuns em todas as esferas públicas, o saque ao dinheiro público, o nepotismo (emprego de parentes), os favorecimentos e as manipulações licitatórias, representam uma epidemia?

Aliás, são fatos que me lembram de um freqüente comentário que muito ouvi nas inúmeras campanhas eleitorais. Diziam as pessoas do povo: “- É tudo igual mesmo. Melhor deixar o cachorro gordo no poder do que colocar um magro. Vai custar caro engordar outro!”

No olhar e sentir de muitos cidadãos a sucessão e a renovação político-partidária eram uma simples troca de cachorros. Cachorros atrás do osso!

Tudo tem explicação. Voltando mais no tempo e na história, à época da colonização, e depois do fracasso das capitanias hereditárias, o governo português inventou os governadores-gerais. E com eles, a burocracia.

Há registros históricos sobre o desembarque de nobres, funcionários públicos, soldados e criminosos (réus e degredados). Quase todos solteiros e interessados em grana fácil. Resultou uma estrutura estatal forte, organizada e centralizadora. Que não encontrou resistência civil.

Conseqüentemente, nossa sociedade de então se adaptou a esta estrutura estatal. Trata-se do domínio de uma casta de altos funcionários aliada ao patronato político cujos interesses comuns formam uma associação parasitária. Juntos compõem uma rede que, espalhada pelo país, extrai dele tudo o que pode (leia mais em Os Donos do Poder (1958), do gaucho Raimundo Faoro (1925-2003).

O fruto principal dessa deformação histórica e dessa adaptação da sociedade é o “jeitinho brasileiro” e o famoso “querer levar vantagem em tudo”. Compadrio, fraudes, falsificações, desrespeito a contratos, entre outros exemplos, são ações e atitudes típicas. E, quando descobertas e denunciadas, “não dá nada!”

Em verdade, estamos a merecer, como povo e sociedade, um apurado estudo psico-sociológico sobre nosso caráter e nossa natureza (a)ética. Ou tudo será, final e simplesmente, falta de educação, repressão, punição e cadeia?
Enquanto não esclarecemos, nem resolvemos essa questão, os fatos confirmam a máxima do também gaucho, jornalista e escritor Apparício Torelly, falso e autodenominado “Barão de Itararé”:
“- Negociata é um bom negócio para o qual não fomos convidados!”