20 novembro 2013

Presos, mas nem tanto

O tempo cura todos os males, apaga algumas lembranças, faz cicatrizar feridas, e principalmente, no caso do memorável povo brasileiro, inocenta históricos meliantes de todos os pecados.

Prova disso é a rica e ativa vida política de Collor, Renan, Sarney, Maluf e outros tantos beneméritos homens públicos. Lendas urbanas e políticas enriquecidas por figuras adicionais, mas não menos espertas, como o banqueiro Cacciola e o agora neofugitivo Henrique Pizzolatto. O injustiçado diretor do Banco do Brasil(quem diria, um diretor do BB?). Que fugiu e pediu asilo político na Itália. Te cuida, Cesare Battisti, vais virar moeda de troca!

Agora, por exemplo, assistiremos à comovente ressocialização dos condenados do mensalão. Condenados, mas nem tanto. Afinal, a verificar pela imensa e pública lista de apoio que receberam, nem criminosos são.

São apenas incompreendidos mártires e heróis nacionais e defensores da pátria. Se fizeram o que fizeram, apesar de suas negativas, o fizeram pela pátria. Voltarão nos braços do povo, com certeza.

Até juízes sensibilizaram-se e relaxaram rapidamente na natureza das prisões. Nem soubemos o que exatamente são ou serão. São presos? Ou semipresos? Como trabalham durante o dia, poderão apenas dormir na prisão. Não é verdade que todos trabalham?!

Ficou tudo reduzido ao espetáculo do simbolismo. Nem mesmo o Joanquinzão resistiu. E mandou prender no dia da república. Que república?

O malabarismo jurídico também prosseguirá. Até o carnaval muitas alas e blocos sairão às ruas. Já assistimos uma exibição do Bloco dos Embargos Infringentes. Agora virão o bloco dos Embargos Declaratórios, o bloco dos Embargos dos Embargos e o bloco dos Amigos da Papuda. É o que dizem por aí os carnavalescos e simpatizantes da hora.

Na mais escandalosa tentativa e experiência histórica brasileira, de perpetuação no poder através da cooptação sistemática, via aluguel financeiro de parlamentares, vocês, caros eleitores, não queriam que eu falasse sério hoje, depois de ver a romaria de simpatizantes endeusando seus ex-presos políticos, agora políticos presos. Presos, mas nem tanto.

O Brasil vive um momento de extrema complexidade política. Para compreender a natureza do poder instalado, ou em vias de instalação, é necessário reler os clássicos da história política mundial.

15 novembro 2013

República Já!

“A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, todos autônomos, nos termos desta Constituição.” (art.18).

Autônomos? Apenas teoricamente. Afinal, não é uma república um país que escraviza seu povo através de um sistema legal e tributário em que a União (governo federal) concentra mais de sessenta por cento dos recursos arrecadados.

Cujo povo sofre e vê, dia após dia, a corrupção disseminada e seu dinheiro escorrendo pelo ralo governamental em centenas de focos de desperdício e a “cupinização” de suas estruturas burocráticas e de serviços.

Um povo que pretende ser reconhecido, mas que tolera a espoliação e o deboche. Fosse outra a nação, já estaria em situação de desobediência civil, modesta e comportada alternativa de protesto entre outras mais radicais.

Não é uma república um país em que o Parlamento renuncia ao seu dever e tarefa essencial, a exemplo de fiscalização e mudanças legislativas, e em que vigora a inoperância e a omissão.

Óbvio que não é uma república um país em que parlamentares e governantes estaduais e municipais falam subordinadamente acerca de suas relações de amizade pessoal e partidária com o governo central como fator de facilitação e obtenção de recursos financeiros para suas comunidades. Um ridículo discurso de submissão “real” e tributária que nos transporta de volta no tempo político uns 100 anos.

Sem vergonha e em bordões sucessivos cantam em prosa e vídeo nos seus palanques midiáticos e eletrônicos os atos de benemerência e generosidade palaciana, em loas sem fim ao governo central.

Com certeza não é uma república uma nação que se revela omissa, seja por incompetência ou “interesse”. Ou não é o interesse menor que explica a bajulação que legitima e inspira a centralizante e endinheirada “realeza brasiliense e sua corte”?

Assistimos a silenciosa “entrega” e a metódica e sistemática desconstrução da verdade, sob o predomínio da indiferença e da não indignação.

Mas se não é uma república, o que é? E o que poderá vir a ser?

Uma nação que já se uniu em torno das bandeiras nacionais da anistia, das diretas-já e da constituinte, entre outras, não será capaz de erguer a urgente, atualíssima, única e fundamental bandeira política? Ou já não há motivos de esperança relativamente ao municipalismo, federalismo e a república? Vamos esperar mais 124 anos?

República já!

06 novembro 2013

Violência Encomendada

As sucessivas manifestações do denominado e mascarado grupo Black Bloc negam e contestam regras sociais, leis e decisões de autoridades. Violência e desobediência civil são seu manual de ação.

Mobilizam-se pela internet e “colam-se” dissimuladamente em apoio às manifestações pacíficas. Retoricamente, afirmam que não são “um grupo”. Que representam uma "atitude", um "pensamento", e que não tem uma liderança identificada.
Essa roupagem pretensamente ideológica não esconde a sua demagógica e covarde violência e depredação. Porém, surpreendente e irresponsavelmente, há quem simpatize e os defenda. E dizem que é o ônus da democracia.

Ora, a organização, a plenitude e o exercício democrático que a nação alcançou, desde o fim da ditadura, não avalizam tais atitudes. Afinal, há outros meios de demonstrar divergências, inconformidades e reivindicações.

Ainda que tenhamos restrições e inúmeros questionamentos, por exemplo, sobre a qualidade do destino do dinheiro público e da representação político-partidário, isso não assegura o direito (e a liberdade) de “sair por aí” depredando patrimônio alheio, público e privado.

Afinal, suponho que os contestadores, eles próprios, seus pais e amigos, também acumularam bens e pagaram por eles. Consequentemente, todos compreendem a natureza do sistema econômico e social nacional. Em outras palavras, “as coisas não caem do céu!”.

Porém, há algo pior acontecendo. A omissão das autoridades. Noutro episódio recente, um juiz não deu reintegração de posse à direção da Universidade de São Paulo, pois entendera como legítimo o ato dos invasores da reitoria da famosa universidade. Os invasores haviam quebrado portas, vidros e objetos à base de marretas e machados!

Mas há algo mais intrigante. Onde estão os serviços de inteligência policial? Por que não monitoram esses movimentos? Por que não conseguem se antecipar aos fatos e mobilizar forças policiais suficientes para prender e identificar “uns cem ou duzentos” de uma só vez?

Concluindo, parece evidente que os movimentos violentos são encomendados e desempenham uma tarefa política. E por quê? Porque assustam e inibem o povo, que teria reivindicações e contestações a fazer. Com viés fascista, a violência esvazia os pacíficos movimentos populares.