05 março 2014

Guerrilheiros Digitais

Quem utiliza e freqüenta as redes sociais já percebeu que há uma batalha aberta entre defensores do governo e seus críticos. Quaisquer questionamentos aos seus representantes e suas práticas políticas, atos e obras públicas, verdadeiras ou não, merecem imediata contestação.

Em meio ao “tiroteio” digital há simples comentários feitos por cidadãos, tanto opositores quanto simpatizantes governamentais, mas há também, e de modo crescente, a presença de “profissionais”, blogueiros patrocinados, de parte a parte. Alguns com recursos públicos!

Resulta disso uma virulência verbal que beira a insanidade, farta em atos de ofensas pessoais e distorção de dados e informações. Tudo indica, então, que as próximas eleições terão na internet e nas redes sociais um campo minado e altamente explosivo.

Embora de maneira mais discreta e educada, se assim pudermos dizer, nas eleições de 2010 já houve importante ação político-partidário via internet. Mas o quadro atual indica que haverá uma mega intervenção digital na guerra eleitoral, tocante e notadamente na eleição para a presidência da república.

A programação televisiva (horário político-eleitoral) ainda tem significativa importância e continua demandando dos candidatos especial atenção e investimento. Mas números recentes indicam que 105 milhões de pessoas têm acesso à internet no Brasil. Em média, conectados por duas horas diárias.

Consequentemente, os marqueteiros partidários já estão voltados ao assunto e dedicados em recrutar seus “soldados de ação digital”. Os principais partidos estimam investimentos de mais de R$ 30 milhões e a mobilização de 100 mil ativistas e militantes digitais.

Então, cresce a convicção que nas próximas eleições, finalmente, a internet poderá ter uma influência absoluta e definitiva. Positivamente, será importante para esclarecer e confrontar idéias e propostas de todos participantes do processo.

Mas, sem dúvida, será o campo de guerra de ações de informação e contra-informação, de fofocas e intrigas, de falsos dossiês, de destruição de reputações e currículos pessoais. Será um campo de guerra digital digno de uma batalha da idade média.

Ilusão de Poder

Duas ações obrigatórias ao cidadão – pagar impostos e votar - provocam uma ilusão (de poder) nos governantes. Ainda que realizados em bases legais, os cofres públicos recheados e o mandato decorrente das urnas não significam, nem garantem a respectiva legitimidade.

Desperdício, corrupção, ineficácia nas ações de estado e a transformação das eleições em mero mecanismo de substituição nas viciadas estruturas de governo, têm contribuído expressivamente para o atual estágio de desilusão e descrença. E protestos!

Histórica e crescentemente, a administração pública tem sido utilizada para resolver vulgares questões político-partidárias, num esquema de “feudalização” de secretarias e estatais. Em defesa dos atos, os governantes argumentam que é para garantir a governabilidade. Isso que assistimos é governabilidade?

Porém, e otimista, alguém dirá: “Mas o Estado brasileiro faz muita coisa boa para o povo. Estão aí vários exemplos positivos.” Evidentemente, que algo haveria de ser feito haja vista a abundância de recursos financeiros. Mas, deveríamos e poderíamos fazer muito mais!

Não esqueçamos que há uma enorme disparidade entre o que é arrecadado e o que é ofertado em termos de serviços públicos e infra-estrutura.

Então, não é mera coincidência o esgotamento físico-psicológico e o transbordamento da rebeldia popular. E com claros sinais que aumentará. Afinal, razões não faltam.

Seria um bom momento para as nossas autoridades relembrarem as célebres palavras de Abraham Lincoln (1809-1865), décimo-sexto presidente dos Estados Unidos. Disse ele:

“Não criarás a prosperidade se desestimulares a poupança. Não fortalecerás os fracos se enfraqueceres os fortes. Não ajudarás o assalariado se arruinares aqueles que o pagam.
Não estimularás a fraternidade humana se alimentares o ódio de classes. Não ajudarás os pobres se eliminares os ricos.
Não poderás criar estabilidade permanente baseada em dinheiro emprestado. Não evitarás dificuldades se gastares mais do que ganhas.
Não fortalecerás a dignidade e o ânimo se subtraíres ao homem a iniciativa e a liberdade. Não poderás ajudar os homens de maneira permanente se fizeres por eles aquilo que eles podem e devem fazer por si próprios”.

Digo eu: a realidade confrontada (e afrontada) não se submete aos ilusionismos de poder.