16 abril 2014

Circulo Vicioso

Sempre reclamamos da política e dos políticos. Porque sempre prometeram mundos e fundos. Porque sempre acreditamos nas promessas. Ou fazíamos de conta que acreditávamos. E de tanto fazer de conta já não sabemos mais se acreditamos ou não.

A consequência preocupante deste comportamento histórico é que os próprios políticos também já não sabem mais o que fazem e qual é sua real tarefa.

O jogo político-eleitoral diário, a promessa não cumprida, as exigências da própria realidade, o faz-de-conta nos jornais e na TV, transformou tudo em jogo de poder e encenação teatral.

Políticos e eleitores, governantes e cidadãos, ninguém mais sabe se é espectador ou ator. Fazer ou deixar de fazer, cumprir ou não cumprir, fiscalizar ou não fiscalizar, agir ou omitir-se, fingir ou não fingir, que diferença faz?

Perdemos a noção e a razão de que deve haver sempre uma correta relação entre os fins e os meios. Meios e objetivos devem ser inconfundíveis. Infelizmente, não é o que ocorre!

A pertinência do tema se constitui a partir da óbvia constatação de que a política e a governança pública viraram caso de polícia e justiça. Não é à toa que assistimos à plenitude da judicialização da política nacional.

Aliás, essa judicialização não se dá em torno de questões de direito e liberdade, como seria normal, mas em torno da proteção de valores sociais, éticos e morais.

Face às eleições (e a sucessão de escândalos) que se avizinham é oportuno refletirmos sobre o relativismo ético-moral e a resignação do cidadão. Além de aplicar um relativismo, o resignado eleitor suporta a tudo isso sem se revoltar e sem esboçar reação.

A tolerância do eleitor acaba por contaminar os partidos, que não só abdicam dessa crítica, como inclusive apresentam candidatos com perfis pessoais discutíveis e de duvidosa qualidade e comportamento. Debochada e ousadamente.

O relativismo e a resignação popular evidenciam que existem “outros níveis de realidade” inevitáveis e insuperáveis, como os negócios, os interesses, a “velha” política e o “velho” direito.

Resumo da ópera. Estamos ficando cínicos. Comportamos-nos como condenados a aceitar determinado jogo e realidade porque não podemos mudá-la. Pior: sabemos que isto está errado e que não deveria ser assim. Que não deve ser assim!

A realidade deixou de ser um desafio e virou um destino. Sociedade e política vivem o auto-engano. O alimento do auto-engano é o círculo vicioso.