28 janeiro 2015

Entre uma ilusão e a realidade

Em artigo recente, dizia que é sempre mais simpático e agradável demonstrar e afirmar otimismo, ainda que os fatos indiquem o contrário.

Pela mesma razão, também opiniões e gestos pessimistas soariam e pareceriam antipáticos e desagradáveis.

O mesmo fenômeno parece ocorrer em relação à intervenção do Estado na economia. Ser a favor de empresas estatais (como os federais Banco do Brasil, Caixa, Petrobrás, etc..., ou os estaduais CEEE, EGR, Banrisul, etc..., e entre outros já privatizados - Caixa Estadual, CRT, Vale do Rio Doce, etc...) parece sugerir que o sujeito é mais nacionalista, menos capitalista, mais preocupado com os interesses do povo.

Assim como, defender firmemente a privatização das estatais, ou mais precisamente a não participação/intervenção do Estado na economia, parece sugerir uma insensibilidade do sujeito, uma ignorância sobre a perversão em torno da obtenção do lucro (dito fácil) dos empresários privados.

Tanto isso é verdade que alguns partidos políticos reafirmam estes princípios estatizantes durante o processo eleitoral. E com amplo sucesso na “boca da urna”.

E mesmo aqueles que têm visão e opinião contrária, ou seja, a favor da não intervenção estatal, e/ou privatização das empresas remanescentes, não têm a mesma ousadia e coragem, “de olho” na sobrevivência político-eleitoral.

Em nome de uma ilusão, dita patriótica e nacionalista, o povo brasileiro financia uma farsa da qual se locupletam os espertos e detentores do poder, seja qual for o partido, seja qual for sua apregoada ideologia.

Melhor seria deixar negócios e aventuras econômico-financeiras a cargo dos interessados privados, à custa dos seus próprios riscos e capitais.

E concentrar-se o Estado e os agentes governamentais na fiscalização e regulação das suas principais atividades, e dedicando-se ao que realmente interessa desde sempre, qual seja, educação, saúde e segurança. Aliás, mesmo essas três áreas, por excelência públicas e estatais (o que pode ser um outro debate), não funcionam e são altamente privatizadas por necessidade popular.

Então, que ninguém se declare surpreso e enganado com os escândalos revelados pelo gradativo abrir de contas e balanços de empresas estatais, bancos públicos e fundos de pensão, por exemplo (veja os recentes casos Petrobrás e BNDES).

Ironicamente, ainda “caímos” em aventuras político-ideológico-partidárias patrocinadas com dinheiro público. Afinal, as urnas provam que preferimos as ilusões, a fantasia e o falso nacionalismo em detrimento da realidade!




24 janeiro 2015

Medalha, medalha, medalha!

Troca de condecorações é uma prática comum na política. Comumente, premiam-se uns aos outros. Sem constrangimentos. Porém, em tese, apenas destinadas às pessoas que tenham se tornadas merecedoras do reconhecimento estatal.

Nacionalmente, há a "Ordem de Rio Branco", mais alta condecoração da diplomacia brasileira. Entre outras pessoas, receberam-na Marisa Letícia (primeira-dama e esposa do ex-presidente Lula), Ana Maria Amorim (esposa de Celso Amorim), Mariza Alencar e Josué Gomes da Silva (respectivamente, esposa e filho do falecido vice-presidente José Alencar).

Antes, dona Marisa já recebera a "Medalha do Mérito Santos Dumont”, das mãos do Comandante da Aeronáutica. Dona Marisa dedica-se aos filhos, ao lar e, naturalmente, ao marido. Na ocasião, Erenice Guerra também recebeu (lembra dela?).

Entrega de medalhas faz lembrar de outra. No dia 20 de julho de 2007. Três dias depois do acidente fatal no aeroporto em Congonhas (voo da TAM). Prédio ainda em chamas, corpos em resgate e identificação, famílias em pranto e luto.

Indiferente ao fato, é realizada a cerimônia de entrega da Medalha do Mérito Santos-Dummont. Entre os condecorados, dois diretores da ANAC- Agência Nacional de Aviação Civil. E eles foram receber suas medalhas!

E agora, de iniciativa da deputada estadual Marisa Formolo (PT), a surpreendente distribuição (música ao fundo ”sirvam nossas façanhas...”) da Medalha do Mérito Farroupilha, a honraria máxima do Parlamento Gaucho. Distribuiu o título para vinte parentes. Esposo, irmãos, cunhados, filhos, genros, noras e netos. E ninguém ficou ruborizado!

O que pode ser mais constrangedor: a apresentação do pedido pela autora? A aprovação do pedido pela Assembléia Legislativa? O aceite dos homenageados? O respectivo ato público no Parlamento?

Impedimento ético, senso crítico, coerência, exemplaridade, dignidade, vergonha, honra, mérito, solidariedade e oportunidade? Afinal, quem se importa? É de perder as esperanças.

“É a natureza e condição humana”, dizia o poeta e dramaturgo inglês Willian Shakespeare (1564-1616). Mas também faz lembrar o desenho animado "Dick Vigarista e seu cão Mutley". A cada infeliz aventura de Dick e seu pedido de ajuda ao cão, o chantagista Mutley exigia: "Medalha, medalha, medalha!"

21 janeiro 2015

De mal a pior


No primeiro artigo de 2015, sob o título de “Política e Economia”, eu disse que este será um ano (e os seguintes, com certeza) de sérias dificuldades para a população.

Tanto o governo estadual quanto o federal enfrentarão obstáculos orçamentários que exigirão ações arrecadatórias e atos impopulares.

E repeti o que dissera em vários artigos, qual seja: que se trata do fruto amargo do populismo e da demagogia. Uma combinação de ações político-partidárias que sempre (a história ensina) resulta em contas deficitárias e desarranjos fiscais.

Obviamente, contas, abusos e desperdícios governamentais que serão pagos por todos os cidadãos, mas principalmente pelos mais humildes, direta e expressivamente atingidos pelos aumentos de preços e tributos.

Então, nem terminou janeiro e já há assustadoras novidades. Aqui no estado, o novo governo herda saldos e compromissos negativos de uma gestão anterior, absoluta e fiscalmente irresponsável. Nosso amado Rio Grande já está “quebrado” faz muito tempo. Agora está “superquebrado”.
(veja:http://darcyfrancisco.blogspot.com.br/2015/01/contas-estaduais-nem-tudo-o-que-parece-e.html)

Preocupante também é a série de “armadilhas sindicais”, a exemplo de aumentos salariais a servidores públicos até o ano de 2018 (aprovados pelo Poder Legislativo!). Sem previsão e dotação orçamentária compatível, nem perspectivas de crescimento da economia gaucha.

Pior: há aumentos salariais gigantescos (também aprovados pelo Poder Legislativo!) para altas autoridades dos três poderes. Entre os quais o próprio governador, que começa (mal!) tropeçando nas próprias palavras.

Em tempo, diante do clamor popular, Sartori renuncia à sua parte. Um gesto de duvidosa qualidade e tempestividade. Ainda que diretamente não responsável pela gandaia apropriativa, o governador deveria ter vetado todos os aumentos no primeiro dia. Faltou ousadia!

Enquanto isso, no plano federal, a recém-eleita presidente Dilma contraria totalmente seu discurso de campanha. E concretiza os atos que imputara eleitoreiramente aos adversários e que dissera maldosos e prejudiciais ao povo. Mas quem tem memória?

Em resumo: Passado é passado. Não importa a simpatia e preferência partidária, o voto contrário ou favorável a “João ou Maria”, só nos resta apoiar as medidas corretivas estaduais e federais. Simplesmente?

Simplesmente, para que “tudo” não vá de mal a pior!

(in)Tolerância


Justa e legítima a defesa do direito à livre manifestação, bem como a reação e indignação quanto ao uso da violência como meio de contestação.

A tragédia parisiense comporta várias interpretações e explicações, diretas e indiretas, de razões nacionais e internacionais, históricas e atuais.

Importa compreender que a procura humana por melhores locais para fins de habitação e sobrevivência não é novidade. Por diferentes motivações, são frequentes os fluxos migratórios.

Porém, paralela e consequentemente, também é comum a ocorrência do sentimento de estranhamento e rejeição ao estrangeiro.

Neste sentido, eleições para o Parlamento Europeu têm renovado e confirmado o crescimento do nacionalismo e uma rejeição/aversão em relação a pessoas de etnias, culturas e credos diferentes.

E um dos vértices da discriminação ao estrangeiro é o elevado nível de desemprego e que atinge os jovens europeus, nesse momento.

Assim, ainda que limitado à conquista de poucas cadeiras parlamentares, cresce a representação retórica e ideológica dos partidos que defendem políticas anti-imigração.

A França, em especial, embora berço universal das grandes idéias humanistas e núcleo acolhedor de exilados (lembra do aiatolá Khomeini? Morava na França!), tem uma dificuldade histórica e crescente para lidar com imigrantes. Ao contrário dos Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, na França a integração étnica não se concretiza positivamente.

É um grave alerta. Se as nações não evoluírem na compreensão (e tolerância) dos processos migratórios, com certeza, ainda assistiremos “espetáculos” piores.

E por quê? Porque é crescente o êxodo por razões políticas e religiosas. Também por razões ambientais e naturais como terremotos, tsunamis, furacões e enchentes, esgotamento do solo e desertificações, que impedem o trabalho e a agricultura.

Outra hipótese de êxodo, embora complexa, é a mudança climática com conseqüências nos índices locais de doenças infecciosas e mortais.

Assim sendo, por uma razão ou outra, de um modo ou de outro, aumentarão os deslocamentos e desenraizamentos geográficos humanos.

Em outras palavras, o grande desafio do século será reinventar as relações de trabalho e as oportunidades de sobrevivência/convivência para todos os povos, independentemente do novo local de moradia.

Ou seja, exigirá muito mais compreensão e tolerância recíprocas. E, preventivamente, abandonar algumas piadas sobre etnia, cor da pele e religião alheia, por exemplo.