24 junho 2015

Levyatã

Na recente reunião nacional do Partido dos Trabalhadores (PT), realizada em Salvador (BA), vários presentes gritaram "Fora, Levy! Fora, Levy!" Uma atitude contraditória.

Esqueceram do “tucano” Henrique Meirelles no Banco Central durante o governo Lula? Que diferença poderia haver entre Levy e Meireles?

Seja presidente do Banco Central ou Ministro da Fazenda, a indicação e atuação de ambos traduz a política econômica do respectivo governo. São subordinados diretos do presidente.

Joaquim Levy recebeu um “abacaxi” gigantesco e recessivo. Afinal, a tragédia de hoje (governo Dilma) é consequência da farra perdulária de ontem (governo Lula).

Ou alguém acreditou que o populismo fiscal-orçamentário deixaria de apresentar a conta? A situação da Venezuela não é um bom exemplo do que ocorre quando a ficção e a retórica se sobrepõem a verdade e aos números?

Se Levy é de “direita e representa o capital rentista e especulativo”, por que Dilma não escalou um petista para ministro da fazenda?

A resposta é simples: a convocação não é pela genialidade pessoal de Levy, mas sim porque representa e passa confiabilidade e segurança aos mercados, aos investidores e agências de classificação econômico-financeira.

Ultimamente, algum petista “ministrável” reúne qualidade e credibilidade suficientes para tranquilizar a população, os investidores nacionais e internacionais e apontar para as soluções necessárias?

Porém, interpretando o “Fora, Levy”, deduz-se que a indicação e presença de Levy é uma tábua de salvação retórica do discurso petista.

Como as possíveis e prováveis soluções macroeconômicas não seriam diferentes (ou alguém continua acreditando em milagres?), se o ministro fosse um petista haveria uma contradição gigantesca entre discurso e prática. Assim, o “Fora Levy” salva o discurso, ainda que oportunista, falso e teatral.

Entretanto, se o ajuste fiscal corresponder às expectativas e reequilibrar as contas e metas governamentais, o mérito será de Dilma. E do PT, lógico.

Mas, se o ajuste fiscal não der certo, a culpa será de Joaquim Levy. Estupidamente, confirmam o que dizia Sartre: “o inferno são sempre os outros"!