21 janeiro 2015

(in)Tolerância


Justa e legítima a defesa do direito à livre manifestação, bem como a reação e indignação quanto ao uso da violência como meio de contestação.

A tragédia parisiense comporta várias interpretações e explicações, diretas e indiretas, de razões nacionais e internacionais, históricas e atuais.

Importa compreender que a procura humana por melhores locais para fins de habitação e sobrevivência não é novidade. Por diferentes motivações, são frequentes os fluxos migratórios.

Porém, paralela e consequentemente, também é comum a ocorrência do sentimento de estranhamento e rejeição ao estrangeiro.

Neste sentido, eleições para o Parlamento Europeu têm renovado e confirmado o crescimento do nacionalismo e uma rejeição/aversão em relação a pessoas de etnias, culturas e credos diferentes.

E um dos vértices da discriminação ao estrangeiro é o elevado nível de desemprego e que atinge os jovens europeus, nesse momento.

Assim, ainda que limitado à conquista de poucas cadeiras parlamentares, cresce a representação retórica e ideológica dos partidos que defendem políticas anti-imigração.

A França, em especial, embora berço universal das grandes idéias humanistas e núcleo acolhedor de exilados (lembra do aiatolá Khomeini? Morava na França!), tem uma dificuldade histórica e crescente para lidar com imigrantes. Ao contrário dos Estados Unidos e Inglaterra, por exemplo, na França a integração étnica não se concretiza positivamente.

É um grave alerta. Se as nações não evoluírem na compreensão (e tolerância) dos processos migratórios, com certeza, ainda assistiremos “espetáculos” piores.

E por quê? Porque é crescente o êxodo por razões políticas e religiosas. Também por razões ambientais e naturais como terremotos, tsunamis, furacões e enchentes, esgotamento do solo e desertificações, que impedem o trabalho e a agricultura.

Outra hipótese de êxodo, embora complexa, é a mudança climática com conseqüências nos índices locais de doenças infecciosas e mortais.

Assim sendo, por uma razão ou outra, de um modo ou de outro, aumentarão os deslocamentos e desenraizamentos geográficos humanos.

Em outras palavras, o grande desafio do século será reinventar as relações de trabalho e as oportunidades de sobrevivência/convivência para todos os povos, independentemente do novo local de moradia.

Ou seja, exigirá muito mais compreensão e tolerância recíprocas. E, preventivamente, abandonar algumas piadas sobre etnia, cor da pele e religião alheia, por exemplo.


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