26 setembro 2012

Eleições: o lado cômico

Eleições, partidos e processo eleitoral é assunto sério. Afinal, são os candidatos eleitos que vão responder por uma série de questões de interesse público e pela administração do dinheiro recolhido do povo. Mas também têm aspectos cômicos nas eleições, principalmente de parte dos candidatos a vereador. Habitualmente, com pouco ou nenhum dinheiro, na ânsia de chamar atenção, de se tornarem conhecidos, usam apelidos, fazem promessas mirabolantes, inventam frases de efeito e fazem rimas pretensamente poéticas. Pode parecer ridículo, mas existe lógica nessa criatividade. Estabelecem a relação com aquilo que os identifica na sua comunidade e meio profissional. Ou, então, apresentam propostas absurdas, quase sempre idéias técnica ou financeiramente inviáveis. Uma razão adicional para encontrar um meio de chamar atenção é o seu escasso tempo de manifestação na TV e no rádio. . Historicamente, examinadas várias eleições, são raros os exemplos de sucesso. Não é suficiente um nome chamativo, uma idéia ousada e um comportamento extravagante. Para obter os votos necessários para se eleger é preciso mais. Notadamente, qualidades e relacionamentos pessoais e propostas sérias. Vejamos os cômicos exemplos. Selecionados nacionalmente, alguns candidatos usam nomes de personagens de televisão e videogames. São eles: “Tarzan, Robin Hood, Peter Pan, Pedrita, Chapolin, seu Madruga, Rambo Gaucho e Sonic”. Tem uma candidata que usa o nome de “Mulher Xuxu”. Suspeito que ela quisesse dizer “Mulher Chuchu”, parodiando as demais mulheres-fruta que fazem sucesso com seus “rebolations”. E tem a “Claudete, a Mulher Mundial”. São muitos os amantes dos bichos, se identificando a tal ponto que utilizam como nome eleitoral: “Grilinho, Tubarão, Professor Peru, Dorinha Andorinha, Jegue Dente de Ouro e o Baxinho Dog”. E tem os que relacionam seus nomes a alimentos: “Abraão do Queijo, Professor Pipoca, Danone, Joãozinho do Tomate e o Macarrão”. Outros relacionam seu registro eleitoral a profissões e trabalhos: “Alex do Samu, Lú do DPVAT, Sandrão Moto Boy, Norma das Pensionistas, Loirinho da Pizzaria, Adão da Parabólica, Jeferson do Caminhão do Lixo, Farinha da Funerária, Amiguinho do Reboque e Gago da Feira”. Têm os candidatos internacionais: “Obama de BH, Saddam Hussein e o Bin Laden”. Ainda bem que são candidatos em cidades diferentes. Entre todos extravagantes candidatos e seus slogans, o que eu mais gostei é bem ideológico: “Mude de posição. Vote Dibruço!”. Para saber tudo sobre candidatos, nomes, apelidos e bens patrimoniais, acesse: http://divulgacand2012.tse.jus.br/divulgacand2012

19 setembro 2012

Ontem e Hoje (continuação)

Ontem e hoje (II) Na edição anterior, eu dizia que uma temática recorrente na “internet” são os arquivos que tratam das diferenças qualitativas entre gerações. Dizia também que comparar gerações e traçar paralelos sócio-comportamentais é de uma dificuldade crescente e proporcional a quantidade de variáveis - fatores sociais, econômicos e culturais - que incidem em cada geração. Por exemplo, na questão dos padrões de consumo. O consumismo. Com certeza, não havia a pressão que percebemos hoje dos filhos sobre os pais em termos de consumo. Assim, se poderia dizer que era uma geração menos consumista. Mas, importa dizer também que a oferta de bens e atrativos era bem menor do que hoje, o que de certo modo justifica a pressão atual. Muitos objetos e serviços de consumo atual, a exemplo de TV a cabo e banda larga de internet, celular e computador, contribuem para uma inserção e integração social dos jovens. Não tenho dúvida que se existissem à minha época, iria “enlouquecer” meus pais para ter tais equipamentos. E a política e a consciência social? Comparativamente, creio que a juventude atual detém mais informações do que detinha a geração anterior. E, ponto importante, tem uma visão muito mais crítica, mais real da política. Consequentemente, tem uma perspectiva mais realista, menos utópica, o que é bom e é ruim ao mesmo tempo. Bom porque não alimenta ilusões sobre o papel dos políticos e governantes, mas ruim porque não contribui objetivamente para a superação deste quadro de pobreza cívica. Outro ponto importante que distingue politicamente as duas gerações. A geração anterior contribuiu para a redemocratização nacional. Enquanto que a atual geração tem desafios pontuais a serem superados, a exemplo da praga da corrupção, da questão ambiental, da redução dos impostos e da criação de empregos. Questões cruciais nos dias de hoje. Finalmente, tocante aos vícios. Ao consumo de bebidas alcoólicas, em especial. Neste ponto, a geração anterior perde de goleada. Não que não houvesse os pinguços. Mas eram sempre os mesmos. Porém, nunca se bebeu tanto entre os jovens quanto hoje. Inclusive as mulheres. Parece que é impossível fazer uma reunião de amigos sem bebidas. Acho que é natural haver uma idealização de nossa infância, de nossa juventude, de nossas relações, por exemplo. Afinal, cada época tem seus atrativos e suas circunstâncias. Esta valorização do passado é uma ação preventiva e defensiva contra os dissabores que o futuro (e a velhice) nos reserva.

12 setembro 2012

Ontem e hoje

Nestes tempos de “todos plugados na internet!”, principalmente através de incontáveis e intermináveis “emails”, uma temática recorrente são os arquivos que tratam das diferenças qualitativas (estilo de vida) entre gerações. Evidentemente, com os mais velhos “puxando a brasa” em detrimento dos mais jovens. Comparar gerações e traçar paralelos sócio-comportamentais parece muito com aquela tentativa de comparar jogadores e times de futebol de ontem com os de hoje. A dificuldade é crescente e proporcional a quantidade de variáveis (fatores sociais, econômicos e culturais) que incidem em cada geração. Relativamente à juventude e aos dias de hoje, não podemos ignorar como um fator de mudança de atitude e comportamento a influência negativa da criminalidade e do desemprego. Mas, sob um olhar otimista este mesmo conjunto de fatores estressantes proporciona o surgimento de jovens mais “antenados” com a realidade e relativamente mais maduros. Muito se fala também sobre a precariedade dos atuais laços sociais. Cogita-se que a questão do emprego/desemprego/renda - haja vista que há concorrência explícita e implícita - influencia diretamente os fatores de relacionamento, tornando os jovens mais competitivos, consequentemente afetando e comprometendo a qualidade e o conjunto de suas relações sociais. Nesse “pacote competitivo” devemos incluir o “peso” do discurso do sucesso, do poder, do “eu posso”, hoje produtos-mensagem presentes em todas as prateleiras e códigos de auto-ajuda. Neste sentido, ousaria dizer que as relações sociais do passado eram menos tensas e menos competitivas. Também não podemos ignorar as questões relacionadas ao desenvolvimento e relacionamento afetivo. A absoluta liberalidade atual de comportamento, marca da geração “ficante”, contribui para uma vulgarização da afetividade, daí a dificuldade de construção de relações estáveis e intimistas. Agravados pela gritante precocidade e antecipação da iniciação sexual. O que não quer dizer que a dita estabilidade das relações afetivas do passado correspondesse à autenticidade. Talvez a estabilidade conjugal fosse muito mais conseqüência dos temores de censura social, em caso de dissolução. Tocante aos jovens, e apontando um contraponto para minhas afirmativas, quero dizer que acho que a gurizada de hoje domina melhor estas questões (e frustrações) afetivas, não “esquentando” muito a cabeça, não se estressando muito. Afinal, a “fila anda!” (continua)

05 setembro 2012

Política: efeitos colaterais

Há unanimidade de opinião acerca do evidente empobrecimento do debate político. Um dos sinais mais expressivos dessa miserabilização se opera através da linguagem. Passo seguinte, ocorre a intoxicação de aspectos morais e políticos. Baixa linguagem, decadência cultural, moralidade e política rasas interagem e se autodegradam, paulatinamente. Acredita-se que é um fenômeno irreversível e conseqüência da comunicação de massa. A diversidade sócio-cultural das platéias determina o baixo nivelamento da linguagem adotada. Questão discutível. Em comum, porém, a vulgaridade. A incorporação do vulgar, do grosseiro, da insolência, e, às vezes, até da violência verbal, rompe a barreira do razoável e contamina as idéias político-ideológicas. Para pior. Evidentemente, alguns políticos (e candidatos e partidos), em defesa própria, contra-argumentam se autointitulando como autênticos. Quando, na verdade, são apenas grosseiros. Isso quando não alegam algo pior e irresponsável: de que falam a linguagem de seu público! Logo, o que deveria ser uma tarefa de alto nível e de politização popular, provoca o efeito contrário. O debate desanda e as ofensas surgem inevitavelmente. O adversário passa ser um inimigo. Os diálogos necessários dão lugar aos cansativos e agressivos monólogos. E as divergências político-partidárias passam a soar como insultos e provocações. Então, qual a grande conseqüência desse processo de rebaixamento da política? Demagogia e intolerância. A grande ironia desse processo de degradação é que ele parte e é liderado justamente por aqueles setores e mecanismos que deveriam ser exemplares. A política, as eleições, os partidos e os candidatos. Afinal, serão os futuros líderes e comandantes de municípios, estados e a própria nação. Mais grave: investidos nas funções formais de representação e poder de estado. A conjunção de fatores negativos é terrível. Se há a degradação da palavra, dos costumes e das idéias políticas por intoxicação e contaminação, e vige, afinal, a demagogia e a intolerância, restam no poder os mais servis, sob a liderança dos novos déspotas, e se afastam os cansados e dissidentes do autodestrutivo processo. E restam vitimados o pensamento crítico e a democrática divergência. Situações e razões mais do que suficientes para prestarmos atenção no presente processo eleitoral, nos partidos, nos candidatos, nos seus discursos e promessas, de modo que resulte um voto de qualidade, renovação e esperança.