20 agosto 2007

O Vestido da Verdade

A razão de existir de um sistema político está diretamente relacionada com sua função de melhorar a vida dos cidadãos e zelar pelos objetivos nacionais.

Por isto há eleições livres, diretas e periódicas, de modo a verificar e julgar a realização e a qualidade dos procedimentos da administração pública.

Para que este sistema funcione bem é necessário que o cidadão saiba o que o governo tem feito para cumprir suas obrigações. Do mesmo modo que precisa saber, também, o que o governo e a oposição defendem e objetivam.

O cidadão precisa conseguir analisar essas informações e ações para poder julgar qual sua adequação, viabilização, conseqüência social e oneração financeira.

Porém, há um problema: a maioria da população brasileira não tem capacidade para entender e analisar estas informações. Que dirá acerca das informações que não chegam.

Neste sentido, os representantes políticos – governo e oposição - deveriam se empenhar para superar esta contradição. Entretanto, aproveitam-se para corromper e denegrir o sistema político.

Na última eleição presidencial, por exemplo, a esmola (programa Bolsa Família) distribuída ao povo cumpriu um papel eleitoral fundamental pró-governo.

A influência foi tamanha que os escândalos e os crimes contra a economia, contra o dinheiro público e contra o aparelhamento do Estado, não repercutiram objetiva e eleitoralmente.

Aliás, quem questionasse a distribuição da esmola era rotulado como elitista e inimigo do povo. E quem questionasse a eficácia da gestão pública era rotulado como pró-privatizações e entreguista.

Mesmo que os questionamentos não fossem de ambição eleitoral, mas, sim, de teor econômico, sócio-educativo, jornalístico, ético, moral, etc...

Ultimamente, face às vaias impostas ao Presidente Lula, aqueles que querem e exigem o respeito às leis e às instituições são nominados de golpistas.

Entretanto, o que se percebe é um indiscreto e grosseiro movimento político do PT para reconduzir Lula à presidência, num terceiro mandato consecutivo. E os outros é que são golpistas!

Com a (in)consciência política dos pobres sendo comprada em troca de moedas e a corrupção financiando a perpetuação no poder, consolida-se a absoluta mediocrização do debate político e da ação de governo e estado.

Aliás, como conseqüência já não há mais nem oposição ideológica e institucional. O princípio da cooptação venceu.

Trata-se da desqualificação absoluta da política e da administração pública. Mas há quem goste da socialização da ignorância e da miséria!

Como diz Robert Musil, na obra "O Homem sem Qualidades", “a verdade tem apenas um vestido de cada vez e só um caminho, e está sempre em desvantagem”.



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