14 agosto 2007

O Paradoxo da Globalização

Faz alguns anos, o diplomata inglês Robert Francis Cooper, guru da política externa inglesa, afirmou que “(...) precisamos reverter aos métodos mais grosseiros de outras épocas – força, ataques preventivos, logro, o que for necessário (...) entre nós respeitamos a lei, mas quando operamos na selva, também temos que usar as leis da selva”.

Voltando no tempo: sabem todos que Tony Blair e George Bush utilizaram-se de argumentos fraudados para garantir a aprovação legislativa e justificativa popular para atacar o Iraque e o Afeganistão.

Rescaldo final: não somente pela tragédia da situação atual no Iraque, como também pelo conjunto do pós colapso das torres gêmeas nova-iorquinas, as bombas em Madrid e as bombas londrinas, a verdade é que ambos – Bush e Blair – ainda não convenceram seus súditos sobre a natureza daquelas operações militares e suas conseqüências presentes e futuras.

Ou então, dito de outro modo, avocada a “filosofia” do supracitado diplomata, a população norte-americana e britânica (os espanhóis mandaram José Maria Aznar para casa! e Blair também já foi!) quer saber mais detalhes e fundamentos sobre como é uma lei e uma ética para os outros. E de como os povos das selvas poderão reagir!

Como a ONU tem-se mostrado incapaz e incompetente para gerenciar os conflitos, e a União Européia é uma incógnita, os Estados Unidos não se constrangem em agir. Auto-titulam-se a “polícia do mundo e guardiões do regime democrático”.

As incursões/ações bélicas preconizadas pelos norte-americanos, a pretexto da vingança ao ataque do Word Trade Center-WTC, foram o prenúncio de (re) definições dos papéis globais, dos novos territórios de dominação/ocupação e da natureza intervencionista.

O acirramento dos conflitos no Oriente Médio interessa à política externa americana, mais precisamente aos seus negócios petrolíferos e armamentistas. Cinicamente, a pretexto da paz.

A humanidade tem inúmeros e maus exemplos sobre “as boas intenções” dos exportadores de revoluções e utopias, de modelos políticos e econômicos, da purificação das raças, etc..., entre outros devaneios que custaram, e continuam custando, a vida de milhões de pessoas.

O papel ocidental de tutela mundial estabelece uma contradição com o processo de globalização! Como conciliar um discurso pretensamente pacifista e universalista, utopicamente distribuidor de progresso e renda, com as práticas intervencionistas de natureza econômica e militar, de evidentes interesses no controle dos recursos naturais e tutela de países periféricos, a exemplo do Oriente Médio?

A historiadora norte-americana Bárbara Tuchman (1912-1989), premiada, consagrada e reconhecida mundialmente, escreveu, em sua obra “The March of Folly – from Troy to Vietnam” (1984), entre nós conhecida como “A Marcha da Insensatez – de Tróia ao Vietnã”, na edição brasileira José Olympio (1989), que “o paradoxo da condição humana é a sistemática procura – pelos governos – de políticas contrárias aos seus próprios interesses e a não consideração da existência de uma alternativa viável.”.

São páginas que servem de alerta e inspiração para toda humanidade, e aos governantes, principalmente, numa época em que a marcha da insensatez parece acelerada.

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