O recente e retumbante episódio da gravação e divulgação da conversa entre o vice-governador do Estado, Paulo Feijó, e o Chefe da Casa Civil, Cézar Busatto, tem proporcionado uma série de reflexões com pretensões ético-filosóficas.
Em meio às investigações e repercussões relacionadas ao desmonte da quadrilha do Detran, é lógico que as declarações de Busatto foram como que gasolina jogada no fogo.
A pretexto das dificuldades de fazer política “sem sujar as mãos”, ou no exercício da troca de favores para construir maiorias parlamentares, os governos e partidos realizam o “loteamento” dos órgãos públicos.
Dada a natureza do recrutamento de pessoal e compromissos prévios, habitualmente essa prática implica transgressões e negócios escusos, de modo que sempre reinou uma espécie de pacto do silêncio entre os políticos.
Neste sentido, parafraseando o filósofo alemão Ludwig Wittgenstein, resulta que “o que não pode ser dito deve ser calado!”.
Daí que a atual discussão não é sobre o núcleo das suspeitas de fraudes e desvios (roubo!) de dinheiro público, mas, sim, se houve traição e quebra da ética de parte do senhor Feijó?
Porque estão “batendo” no vice-governador? Será a banalização do mal, enunciada pela filósofa Hanna Arendt? Lembra: “quando o mal se banaliza, perdemos a capacidade de indignação”!
Mantido o debate nesses termos, a sujeira continuará debaixo do simbólico tapete de “nossas virtuosas relações sócio-políticas”. Será o triunfo da máxima de Maquiavel: “os fins justificam os meios!”.
Nassim Nicholas Taleb é um professor libanês, residente nos Estados Unidos, autor de um livro chamado "The Black Swan: The Impact of the Highly Improbable". Em português: “O cisne negro: o impacto do altamente improvável” (Valor, São Paulo, 04/06/07).
Antes de a Austrália ser descoberta, todos os cisnes do mundo eram brancos. A Austrália, onde existe o cisne negro, mostrou a possibilidade de uma exceção. A teoria do cisne negro tem três características: altamente inesperado (1), tem grande impacto (2), e, depois de acontecer, procuramos dar uma explicação para fazê-lo parecer o menos aleatório e o mais previsível do que era (3).
O autor prega que é fundamental manter o hábito de questionar estruturas de pensamento e atitudes, mesmo que isso exija ações não-ortodoxas.
Uma vez que o cisne negro apareça, as pessoas devem estar com sua exposição maximizada para ele. Devem acreditar na possibilidade de o mais inusitado acontecer.
Retomando o assunto Feijó-Bussato. Se há um enunciado que diz que todos os cisnes são brancos, e aparece um cisne negro, o certo seria trocar o enunciado para: “Alguns cisnes não são brancos”.
E o que fazem os políticos e a política? “Matam” o cisne preto para não precisar alterar o enunciado!!!
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