21 novembro 2008

A greve do magistério e o X da questão

Falar sobre a relação “governo x magistério” se tornou uma cansativa repetição de constatações. Cansativa repetição porque não decorrem as medidas saneadoras e definitivas.
Basicamente assentada sobre questões salariais, a crise (permanente) revela a perda de controle sobre este contingente humano e suas perspectivas profissionais.
Enquanto os professores reclamam melhor tratamento salarial, correspondente à importância de suas funções, os sucessivos governos têm esgrimado com as históricas dificuldades financeiras estruturais.
Mas os governos vão além: atribuem à categoria a falta de dedicação, desídia, desvios de função, entre outros lapsos de conduta, a exemplo de partidarização do CPERS.
Porém, ainda que verdadeiras tais afirmativas, e disseminado na opinião pública o desgaste do professorado, entendo que o responsável principal ainda é o “patrão”, no caso específico, o governo.
Mas, então, por que o desgaste é maior entre o professorado? Por que se reclama mais dos professores do que dos governos? Por que não há uma grave crise social a cada greve?
O que impede a adesão/apoio de outros setores social e economicamente representativos? Por que, afinal, há uma profunda indiferença diante dessa grave e não resolvida questão pública?
A resposta que encontro para essas perguntas passa por uma compreensão capitalista de nossos papéis sociais. O que é isto?
Explico: nas greves e interrupções de outras categorias profissionais, com prejuízos materiais e financeiros da sociedade passíveis de medição e de conversão em moeda, a solidariedade advinda (ou a revolta social) sempre é rápida, contundente e eficaz.
Sim, e daí? Daí que greves na área da educação produzirão resultados somente constatáveis após anos. Após pesquisas e medições que apurem que em determinada época houve uma queda no nível de desempenho escolar. Enfim, um evidente período de retrocesso e prejuízo educacional!
Isso ocorre porque educação não produz resultados imediatos, não produz peças passíveis de quantificação no final da linha de produção.
Educação trabalha com crianças e adolescentes, “produz” operários, médicos, professores, advogados, músicos e filósofos. “Produz” gente!
O desafio da sociedade e do governo consiste na recuperação do sentido histórico e original do magistério escolar, e na garantia aos professores de realização na profissão.
Nossa indiferença social às demandas do magistério é uma fatura que vencerá logo ali adiante, no tempo. De antemão, já sabemos que será irresgatável, incalculável e dolorosa!
Parênteses: não reconheço legitimidade no governo federal para criar um piso nacional haja vista a hiperconcentração tributária da União e as diferenças regionais. Mais: atribuir aumento salarial cujo pagamento será com dinheiro alheio é um ato demagógico!

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