02 junho 2009

A Dor de Liane

Estamos ameaçados e acuados. Sentimento real ou psicológico, não importa, é o que todos sentimos. Desconfiança e insegurança.
Em cada transeunte, em cada cidadão que passa, vemos um suspeito, uma ameaça ao nosso bolso e à nossa integridade física. Estamos à beira de um ataque de nervos!
Vejam só nossas casas, pátios e empresas. À porta de entrada, guaritas. Grades, cercas elétricas, cães e vigias. “Bunkers” é o que parecem.
Nossas ruas são imensos corredores gradeados. Verdadeiros alçapões. Quem precisar correr, fugir, buscar socorro em alguma casa ou pátio alheio está perdido.
Não tem por onde entrar, nem por onde sair, nem para onde correr. Presa fácil do bandido da ocasião. Ou presa fácil de um cachorro violento e desgarrado.
Como aconteceu agora com a senhora Liane Anton, em Santa Cruz do Sul(RS), que teve partes do seu corpo dilaceradas pelo ataque e violência de dois pitpulls. Liane está hospitalizada e em estado gravíssimo.
Nesse caso, como em outros tantos, fica evidente a perigosa combinação de nossos medos, dos nossos excessos de proteção e de nossas negligências e imprudências.
É o mesmo caso do pai que tem uma arma em casa, mas não a guarda com a devida cautela e zelo. Quantas tragédias não conhecemos consequência da inabilidade e curiosidade infanto-juvenil.
E com os cães de guarda não é diferente. Ora são os canis impróprios, ora as cercas frágeis e as guias inadequadas.
Mas a maior imprudência, a maior negligência, é a cega confiança que o dono nutre por seu cão, inadequada e soberbamente. Por excesso de afeição e ignorância, muitos donos esquecem que seus “bichinhos” são animais irracionais.
Apesar de todos os estudos, pesquisas e adestramentos, não compreendemos e dominamos plenamente suas reações e seus limites.
O que nos leva a imaginar que o mais singelo bichinho pode ser controlável? E que “linguagem” animal é esta que os donos supõem dominar a ponto de cogitar/controlar/dialogar com seus bichos e suas reações ancestrais e atávicas?
Quanto às feras em destaque, a exemplo de pitbulls, rottweilers e dobermanns, em especial, com um histórico genético complexo e antecedentes de violência, a imprudência e a negligência dos donos dá margem à cogitação de ocorrência de dolo eventual. Caso de polícia e justiça!
Quantas pessoas mais deverão morrer, a exemplo de dezenas de velhos e crianças trucidadas, e outros tantos que restam mutilados e com prejuízos funcionais e estéticos irreversíveis?
Em respeito e diante da imensa dor de Liane, não vou simplificar e discorrer sobre condomínios, parques e ruas que estão tomados de animais e sua urina e fezes.
Seja por razões de higiene pública, seja por razões de segurança das pessoas, não deveria ser assim tão simples e inconseqüente a divisão dos espaços públicos com os animais.
Afinal, na rua, no parque ou na praça, diante da aproximação de um cão, independentemente do seu tamanho, por que deveríamos adivinhar se é manso ou não? Explique isto para uma criança!?

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