21 agosto 2009

A Força do Ralo Ideológico

A frustração das expectativas políticas, a histórica e repetida evaporação das esperanças depositadas nas urnas, parecem ser uma praga brasileira.
Regra geral, uma vez no poder, os partidos e seus representantes se acomodam de tal modo que esquecem o conjunto das promessas e das responsabilidades públicas.
A decisão de arquivamento das denúncias contra o senador José Sarney, com o apoio do Partido dos Trabalhadores, é apenas mais uma página negra no histórico da política nacional.
No caso do PT, dada a natureza da ocupação (e locupletação) do governo, das ações e das opções de estilo no exercício de poder, os prognósticos e o desfecho eram previsíveis.
Não custa relembrar a radical alteração de rotinas e procedimentos partidários. Desde a ascensão ao poder, controvérsias internas são solucionadas pela via administrativa e não mais pelo debate democrático.
A opinião partidária foi relegada a segundo plano. É o governo que está pautando administrativamente o partido. A verticalidade burocrática venceu a democracia e o consenso até então horizontalmente formados.
Mas o mais surpreendente é a aceitação e o silêncio sepulcral de suas bases, submetidas à ditadura do alto clero governamental e partidário.
Ironicamente, é o Poder Executivo que está organizando a posição do partido e não o inverso. Não é a toa que o Governo está cercado de grupos de trabalhos, conselhos, comissões, numa tentativa centralizadora de “organizar” a posição da sociedade (sic).
Outro aspecto relevante, desde a primeira hora, diz respeito à adoção de uma agenda política de centro e continuísta.
Bem, façamos algumas concessões devido às dificuldades de concretizar e manter um governo. Mas, mesmo assim, ninguém imaginaria tanta rapidez e subordinação na adoção de práticas reformistas de outros governos, tidos conservadores e responsáveis pela midiática “herança maldita”.
Assim, objetiva e ideologicamente, e do ponto de vista eleitoral, o desastre ético do PT provoca a abertura de um importante espaço político à esquerda.
É cada vez mais evidente e expressiva a perda do apoio de segmentos formadores de opinião, lideranças acadêmicas e sindicais.
Dia após dia, e em efeito dominó, se consolida a convicção de que o espírito de mudança esvaneceu nas mãos de Lula e do PT.
Mas a luta continua. Não custa lembrar uma frase do teólogo e humanista holandês Erasmo de Roterdã (1466-1536):
”O ideal que não triunfa na realidade, permanece nela como uma força dinâmica. São precisamente os ideais não cumpridos os que se revelam invencíveis.
Que uma idéia não se faça realidade, não quer dizer que esteja vencida ou seja falsa. Uma necessidade, ainda que demore, não é menos necessária, ao contrário: só os ideais que não se consumaram ou não estejam comprometidos porque não se realizaram, seguem tendo efeito em cada nova geração como um elemento de impulso moral. Só os não cumpridos retornam eternamente".

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