22 janeiro 2010

Cheiro do Mofo

Toda forma de poder (e a perspectiva de prorrogar o próprio exercício do poder) transforma a pessoa. Para pior. Os sintomas e conseqüências são sempre os mesmos. Esquece as promessas. Sacrifica a coerência. Ignora as lições da história. E, mais grave, subestima a inteligência e a memória dos outros.
A política, particularmente, e as eleições em geral, sempre provoca a repetição e a renovação de algumas idealizações e esperanças que, infelizmente, não resistem a um exame e confrontação com a realidade.
Por exemplo, na ponta da língua de qualquer candidato está a regra geral da democracia, qual seja: o direito de votar, a liberdade de ir e vir, o direito de opinião, entre outras obviedades.
Mas, infelizmente, costuma esquecer – embora saiba! - que o rol de direitos da cidadania é mais amplo. Não é a toa que as questões de saúde, educação, habitação, trabalho e segurança, principalmente, continuam em níveis lastimáveis.
Claro, importa dizer e reconhecer que o acesso e a viabilização plena destes direitos são e serão uma conquista árdua, demorada e onerosa. Todavia, é inconcebível sua negação permanente às expressivas camadas da população.
Consequentemente, essa permanente marginalização da maioria do povo explica porque uma série de conflitos pessoais e grupais é resolvida fora do espaço público, à margem das ações do estado. E a margem do estado vigora, bem sabemos, o império da violência física e psicológica.
O rol das pendências sociais, somado à repetitiva ineficácia da ação política, evidencia e fortalece um consenso popular sobre a falta de entusiasmo, falta de convicções e a apatia dos candidatos, incapazes de empolgar o eleitorado. São líderes (e candidatos a líderes) muito aquém das necessidades da nação!
Concorre para a desconfiança e apatia o fato de que o setor público já não responde pela sociedade como um todo. Mas este esvaziamento do poder público não significa que suas atribuições tenham-se esgotado, ou que suas responsabilidades sejam menores.
Significa, objetivamente, a necessidade de uma reconceituação de competências, assentadas sobre novos modelos de gestão, eficácia e qualidade. Nada a ver com este estado (união e estados) gigante, ineficiente, expropriador, corrupto e corruptor!
Creio que este é um ponto que a maioria dos políticos e governantes ainda não entendeu. Por isto a manutenção de um comportamento caduco e um discurso antigo. O que explica esse cheiro de mofo eleitoral!
E quando penso nessas questões não resolvidas e na contradição comportamental dos governantes, sempre me vem à mente o prólogo do filme “O Enigma de Kaspar Hauser (1974)”, do cineasta alemão Werner Herzog (1942):
“-Esses gritos medonhos ao nosso redor são o que vocês chamam de silêncio!”

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