18 janeiro 2012

Bestas Humanas

Repercutiu mundialmente o vídeo que mostra soldados norte-americanos urinando (divertidamente) sobre cadáveres de milicianos afegãos, possivelmente talibãs – adeptos do movimento nacionalista islâmico, de grande influência no Paquistão e no Afeganistão.
Não é e nem foi um caso isolado de abuso. Ainda no Afeganistão, houve uma invasão a um casamento e que resultou na morte de 37 pessoas (inclusive mulheres e crianças!).
Antes, no Iraque, em 2005, na cidadezinha de Haditha, 24 civis foram assassinados pelos soldados americanos (inclusive mulheres e crianças, repito!). Em represália a um atentado, alegaram em sua defesa.
Em 2006, depois de terem assassinado os pais e a irmã caçula - e antes de um deles matá-la com um tiro na cabeça, soldados americanos estupraram uma menina iraquiana de 14 anos.
Depois de estuprar, matar e incinerar o corpo da garota, os soldados retornaram ao seu acampamento e prepararam um frango frito para o jantar. Como se nada houvera.
Também não podemos esquecer-nos de Abu Ghraib. Aquele episódio que revelou – através de fotos – o horror dentro do presídio controlado por americanos. Humilhações e torturas de presos iraquianos, quase sempre desnudos. E nem esquecer de Guantánamo.
São episódios e abusos que chegaram ao nosso conhecimento, eventualmente fotografados, filmados ou gravados. A absoluta maioria não é documentada e some aos “olhos da humanidade”. Mas com certeza, não desaparecem dos olhos e da memória das vítimas e seus algozes. Fardados ou não.
Na verdade, não podemos esquecer-nos de guerra nenhuma. Em qualquer época, seja em qualquer lugar do mundo, sejam quem forem os personagens e suas nacionalidades.
Afinal, não há nada de novo no front. As guerras bestializam os homens. O medo de morrer e a distância de casa e da família fragilizam o ser humano. Abusos, torturas e homicídios são apenas reflexos inevitáveis e inerentes ao ambiente bélico.
Ou alguém supõe que um soldado apavorado e temeroso da própria morte lembraria os termos da Terceira Convenção de Genebra (1929), que a exemplo de outras define direitos e deveres durante as guerras.
Diz a convenção: “é reconhecido como prisioneiro de guerra todo combatente capturado, podendo este ser um soldado de um exército, um membro de uma milícia ou até mesmo um civil. Tem direito a tratamento humano sem ser submetido à tortura e quaisquer atos de pressão física ou psicológica. Tem direito a higiene e alimentação. E fica mantido o respeito a sua religião”.
Dizem que toda guerra tem um vencedor. Não é verdade. Não há vencedores. Apenas perdedores. E entre comunidades, povos, nações ou indivíduos, o maior perdedor é a humanidade, o maior perdedor é a idéia que temos e alimentamos poeticamente sobre o que vem a ser humanidade.
A despersonalização do sujeito e sua destruição ética e moral é tamanha que fica difícil imaginar que tais homens também têm pais, mulheres e filhos, para cujos braços e abraços voltarão ao término do conflito como se nada houvera. Será?

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