04 abril 2012

Chute no traseiro

Histórica e repetidamente, nossas autoridades políticas abusam e exageram na utilização de adjetivos para descrever os atos e feitos de suas gestões. Em todos os níveis da administração pública. Regra geral, o ufanismo predomina combinado com uma perda de memória seletiva e de um senso crítico.
Agora, por exemplo, diante da crise financeira européia – assim como já acontecera em 2008 na crise norte-americana, enchem-se de brios e cantam loas à nossa situação econômico-fiscal. Até aconselhamentos planetários pretendem dar. Entretanto, um conjunto de discursos e “vamo-que-vamo” que não resistem à realidade.
Vejamos: o relatório do Desenvolvimento Humano (2011), divulgado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), classifica o Brasil na 84ª posição entre 187 países. Os melhores IDH’s são da Noruega e da Austrália.
Dentre os países da América Latina, estamos na 20ª posição, atrás de Chile (o melhor sul-americano) e Argentina (o segundo). Também estão à nossa frente: Barbados, Uruguai, Cuba, Bahamas, México, Panamá, entre outros.
Para apuração dessas classificações são analisados vários aspectos e indicadores, dentre os quais os mais importantes são a expectativa de vida, anos médios de escolaridade, anos esperados de escolaridade e renda nacional bruta.
Resumindo: a gigantesca desigualdade social ainda é nosso grande problema e freio ao desenvolvimento. Há melhorias? Claro que há melhorias, ainda que lentas e localizadas. Afinal, bem ou mal, rápido ou devagar, tudo muda e tudo melhora com o tempo.
No conjunto da falação e ufanismo oficial há um aspecto pouco discutido e profundamente questionável. Ocorre que o crescimento econômico em si não é sinônimo de superação da desigualdade social.
Em nenhum momento, a qualidade de vida dos brasileiros subiu na proporção dos negócios nacionais e dos orçamentos públicos. Significa que há algo errado no planejamento e na administração pública. Há décadas.
Transformar a qualidade de vida das pessoas mais necessitadas depende de um conjunto de fatores sociais e econômicos. No núcleo de nosso atraso está a concentração da pobreza e a baixa escolaridade.
Nosso país (e os brasileiros!) é um paradoxo que as pessoas de outras nações não compreendem. Como pode uma nação continental, com vastas áreas produtivas de terras e oportunidades de criação e inovação ilimitadas, não superar suas contradições sociais e econômicas?!
Voltando a crise da Europa e dos Estados Unidos: graças ao seu nível de educação e igualdade social, essas nações darão a volta por cima em poucos anos, enquanto nós, nesse meio tempo, continuaremos discutindo as obras da Copa do Mundo e das Olimpíadas, centralismo tributário, a obscena taxa de juros, o déficit público e a corrupção.
Sobra lero-lero, faz-de-conta e demagogia. Falta-nos ação, objetivos e determinação. Creio que realmente precisamos de um chute no traseiro!

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