23 janeiro 2013

Olavo e Élida

Acometido de um surto saudosista – e impaciente para escrever sobre a mesmice político-econômica, peço licença ao José Augusto Borowski, titular da atraente coluna “Memória” (Gazeta do Sul), para também exercitar uma lembrança pessoal e coletiva. Quase que “a vida toda” morei na rua São José, proximidades da estação rodoviária. Embora próximo do Colégio Estadual Estado de Goiás, histórico e destacado colégio santa-cruzense, meu destino foi o Grupo Escolar Bruno Agnes, onde estudei dos sete aos 11 anos. A Vila Schulz (bairro onde fica o colégio) era uma região povoada por gente muito humilde e trabalhadora. Pacificamente e sem discriminações, conviviam os descendentes negros e uma “alemoada” vinda da colônia (um exemplo da intensificação do êxodo rural? uma questão a esclarecer). O Bruno Agnes era uma escola simples e pequena. Seu pátio era de tamanho médio. Tinha uma modesta área externa de recreação coberta e um campinho de futebol. Sem grama. Tinha seis salas de aula. Sala dos professores e da diretora. Nessa sala também ficavam alguns livros, uma mini-biblioteca. E tinha uma cozinha onde ficavam e trabalhavam as “tias” Zulmira e Valesca. Elas faziam tudo na escola. Durante os dias frios de inverno, preparavam um sopão de legumes. Pela manhã, cada criança trazia de casa alguma coisa que a família pudesse ofertar. Antes de ingressarmos na sala de aula, passávamos na cozinha e deixávamos cenouras, batatas, repolhos e milho na espiga, por exemplo. Quem não tivesse os legumes na horta de casa, trazia achas de lenha para o antigo e ativo fogão. Na hora do recreio, todos em fila, passávamos à porta cozinha para encher nossas canecas, pelas mãos atentas e carinhosas das “tias”. Era uma energética satisfação tomar aquela sopa gostosa e quentinha. Lembro de todos os colegas, das professoras – que ora homenageio na pessoa da então diretora e amiga Fátima Baccar – e das datas festivas em que fazíamos teatrinho e declamávamos poesias nos degraus de acesso à cozinha, no pátio coberto. Tenho em mãos meu livro do primário, o Quarto Livro do Guri. Objetivo e ilustrativo, contém referências regionais e nacionais da história, geografia, literatura, economia, lendas, flora e fauna. Essas minhas lembranças têm como cicerones seus dois principais e infantis personagens e condutores das lições escolares contidas nos “Livros do Guri”: Olavo e Élida!

2 comentários:

Unknown disse...

Astor,
Através da leitura do teu texto, também eu revisitei a minha infância, passada lá em Canoas (RS), Grupo Escolar Coronel Vicente Freire, Vila Igara.
Cheguei até aqui, porque procurava "Olavo e Élida"!Eu também levava algumas coisas para a "hora da merenda", quando tinha lá em casa!Quando batia a "sineta", saíamos correndo para a porta da cozinha com a nossa canequinha!Comíamos rápido para podermos jogar futebol, caçador, ovo podre, pular corda, bolinhas de gude e trocar "carteirinhas"! Tempo bom, de boa educação, amizades sinceras, alimentos saudáveis e respeito pelos mais velhos.Era ditadura, todas as manhãs hasteamento da bandeira e Hino Nacional, era a hora Cívica!Era ditadura sim, mas nunca tivemos tanto trabalho e alimento barato!Na minha família não haviam bandidos, foras-da-lei ou revolucionários, tudo se passava bem!As crianças estavam nas escolas e não abandonadas aos milhares pelas praças do país.Avançávamos passo-a-passo naq evolução da nossa educação de mãos dadas, diariamente, com Olavo e Élida!Sou também um saudoso, mas recordar é viver!!

Ramy Dhur disse...

Também lembro desse Livrinho, saudade. Estou procurando nos antigos colégios que sobraram.