15 julho 2015

O Monstro Que Nos Devora


Na parábola sobre quem vencerá o conflito entre o “Lobo Bom e o Lobo Mau”, conta a lenda do povo indígena Cherokee:
- “Qual o lobo vence?”
- “Aquele que você alimenta!”, respondeu o velho indio.

Reclamamos do exagero tributário-arrecadatório, principalmente pelo fato de que não há retorno proporcional em serviços públicos de qualidade. Também reclamamos do centralismo e intervencionismo estatal em todos os níveis das relações sociais.
Os tabelionatos e cartórios judiciais, por exemplo, bem representam e simbolizam o absurdo a que chegamos e toleramos. Ninguém faz um gesto, nem dá um passo, sem um “carimbo de reconhecimento por autenticidade ou semelhança” que o habilite. Mediante taxas.
Vinte e quatro horas por dia, desde o nascer até o morrer, o brasileiro precisa provar que ele é “ele mesmo e que é honesto”. Em duas vias!
Outro fato: embora os belos discursos de empreendedorismo e livre mercado, empresários e entidades classistas estão sempre pretendendo uma anistia ou isenção fiscal. Ou um socorro financeiro para não “quebrar”. Como se o sistema não fosse capitalista e “quebrar” fazer parte do risco e negócio.
Quem também não fica fora da “festa” de apropriação dos recursos públicos são os produtores e artistas em geral. Não que as artes e a cultura não mereçam ajuda, mas desde que o respectivo apoio público se refletisse na redução dos preços dos ingressos. Afinal, assim como os impostos, também os ingressos são exorbitantes.
E o que dizer dos clubes de futebol, a paixão nacional? Apesar de afundados em dívidas milionárias, estádios financiados e superfaturados, sonegações e fraudadas transferências de atletas, continuam recebendo imensos patrocínios de empresas, loterias e bancos públicos.
E da política partidária (e seu interminável balcão de negócios) nem precisamos falar.
Resumo da ópera-bufa: invés questionarmos a natureza, dimensão e função do estado brasileiro, o que fizemos diante de dificuldade institucional, social, econômica ou financeira?
Marcamos hora com parlamentares, prefeito, governador, ministro e até com o presidente da república, para pedir ajuda, isenções, incentivos, e tudo mais quanto, finalmente, caracterizará e confirmará nossa submissão ao Estado.
É uma contradição (quase) insuperável. Um círculo vicioso. Reclamamos e reclamamos, mas corremos para enaltecer “o poder e beber na fonte dos recursos públicos”.
Ou seja, diariamente nós “alimentamos” o monstro que nos devora!

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