12 junho 2007

Os Homens-Invisíveis

As crescentes dificuldades que nosso povo tem enfrentado, haja vista o evidente empobrecimento geral, têm gerado e lançado às ruas um exército de viradores de lixo, catadores de papel, guardadores de carro, moradores de rua (sem-teto), enfim, uma multidão de sem-nada!

Tirante a estética da pobreza, que enriquece poucos e que a mídia explora muito bem, notadamente o cinema e a televisão, resta a verdade nua e crua das rotinas de sobrevivência, onde se confundem situações de exclusão absoluta, degradação humana, alcoolismo, loucura, perda de identidade, entre outras situações.

Miséria, fome, fracasso, sofrimento, é o que têm em comum estes personagens de nosso cotidiano. Eu disse nosso cotidiano?! Errado!

Eles são os homens-invisíveis. Ninguém os vê, ninguém os percebe. Apesar de estarem aqui, ali e acolá, é como se não existissem. Pois esta é uma resolução de nossa sociedade. Ignora-se!

Gestos isolados, como a mão que alcança uns trocados, uma roupa usada, um cigarro pela metade, não tornam seus corpos visíveis por inteiro, salvo a mão estendida.

Seus rostos, seus espíritos, suas almas, continuam nas trevas às quais os relegamos. Nem ousamos olhar em seus olhos porque insuportável.

Olhar fixamente em seus olhos é como uma fotografia que nos acompanhará para sempre. Incomodativa e indeletável!

São homens, mulheres e crianças, são os homens- invisíveis que caminham à margem de nossos belos e floridos jardins, com quem cruzamos à caminho do trabalho, à saída para as baladas noturnas, à porta de nossas soberbas e centenárias igrejas e palácios de governo.

São nossos irmãos estes homens-invisíveis!


De frente pro crime

Tá lá o corpo estendido no chão
Em vez de rosto uma foto de um gol
Em vez de reza uma praga de alguém
E um silêncio servindo de amém
Pôxa, cara, tô ligado no seu drama
Com a cara nessa lama teve medo de morrer
de viver, de sofrer, de nem ter o que comer
Ninguém liga pra você
Ninguém liga nem nunca ligou
O bar mais perto depressa lotou
Malandro junto com trabalhador
Um homem subiu na mesa de um bar
E fez discurso pra vereador
É, ninguém liga pra você nem nunca ligou
Hoje sobra tanta indiferença, indignação
Falta luz, falta governo, falta educação
Tanto que com o preconceito em alta
Só não sentem a tua falta, meu irmão!
Veio camelô vender anel, cordão, perfume barato
E baiana pra fazer pastel e um bom churrasco de gato
Quatro horas da manhã baixou o santo na porta-bandeira
E a moçada resolveu parar e então
Tá lá o corpo estendido no chão
Quem sabe agora você pode descansar,
Se livrar da injustiça
Desse medo dos bandidos
Medo da polícia
Maldita cena projetada na janela
TV de todo dia, gente pobre é sempre réu
O que te resta é um pouco dessa lua
Refletida na sarjeta, teu pedaço lá do céu
Sem pressa foi cada um pro seu lado
Pensando numa mulher ou num time
Olhei o corpo no chão e fechei
Minha janela de frente pro crime

(música de João Bosco e Aldir Blanc - 1975)

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