30 julho 2007

A Crise e a (des)Função do Trabalho

(para uma reflexão crítica das redes de proteção social)

Histórica, psicológica e socialmente, o trabalho é reconhecido como um elemento fundamental no processo de afirmação do ser humano.

Sua relação com a vida e a sobrevivência vai muito além da questão da produção de bens e renda. A ocupação produtiva do indivíduo está diretamente relacionada à idéia de dar um sentido à própria existência.

Neste aspecto, vivemos uma época de profunda contradição e depressão existencial, haja vista as alterações dos processos produtivos, das relações de comércio interno e externo, com graves e negativas repercussões no quadro das atividades laborais e de emprego.

Em contrapartida, crescem as redes de proteção social, estatais e comunitárias. Governos e entidades assistenciais criam e apresentam os diversos programas de ajuda.

As palavras-chave são bolsa, vale, programa, etc..., a exemplo da bolsa-alimentação, o vale-transporte, o vale-gás, a bolsa-escola, programa de renda mínima, merenda e transporte escolar, salário-família, entre outros, em todas as esferas da organização social e estatal.

São formas indiretas de proteção e aumento da renda familiar. Milhares de famílias passam a viver e depender das redes de proteção social.

O que para uns pode parecer como uma espécie de socialização forçada de benefícios, distribuição de renda na ótica dos otimistas governamentais, no pensar de outros parece um inquietante processo de “educação" para o ócio, ou deseducação para o trabalho.

Ressalvado tratar-se de um ócio forçado (questão para outra discussão!), todos estes benefícios permitem às pessoas (sobre) viverem. Sem qualidade de vida. Precária e resignadamente. E pior, por extensão, sem ver no trabalho uma necessidade.

As vítimas desse processo de exclusão e inutilização humana são, obviamente, os menos formal e profissionalmente educados e preparados para o trabalho.

Este despreparo é gravíssimo por que impede/incapacita a mobilização destas parcelas da população para uma reação ativa e positiva.

Desesperançosamente, estas populações não têm utilidade para o sistema capitalista, nem para os defensores de outras vias ideológicas.

Para uns não servem por que fora e inaptos no processo de criação de riquezas, e para outros por que incapazes de autocrítica e construção de um projeto social reformador ou revolucionário.

Mais grave: em verdade, servem como massas de manobra político-eleitoral, descompromissadas com quaisquer objetivos de um ou outro sistema político-econômico.

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