29 janeiro 2008

Globaliz(ação!)

Se há uma expressão dotada de uma abrangência e repercussão de quase impossibilidade de conceituação, por excesso de opções e variações, esta palavra e fenômeno chama-se “globalização”.

Otávio Ianni, em seu livro “Teorias da Globalização” (1995), elenca alguns sintéticos conceitos: “(...) aldeia global, fábrica global, terrapátria, nave espacial, nova babel (...) primeira revolução mundial (Alexandre King), terceira onda (Alvin Tofler), sociedade informática (Adam Smith), aldeia global (McLuhan)(...) passagem da economia de high volume para outra de high value (Robert Reich)”.

Antonio Correa de Lacerda (O Impacto da Globalização na Economia Brasileira-1998) amplia: “(..) economia-mundo, sistema-mundo, shopping-center global, disneylândia global, moeda global, cidade global, capitalismo global, mundo sem fronteiras, tecnocosmo, planeta terra, desterritorialização, miniaturização, hegemonia global, fim da geografia, fim da história (...)”.

Dito de outro modo, podemos agregar que no plano econômico a globalização repete as práticas comerciais e produtivas expansionistas, mas com agregação e universalização sofisticada do lucro, na forma e nos efeitos.

No plano cultural a globalização gera e revela um processo de homogeneização de atitudes e comportamentos, “atropelando” a diversidade e o pluralismo cultural dos povos.

Mas o ponto mais perturbador é no plano político, onde resulta uma precarização e redução dos papéis clássicos de representação política institucional.

Também é interessante observar que a incidência e a ocorrência desses três aspectos não obedece a nenhuma ordem ou seqüência espacial ou temporal.

Mas, paradoxalmente, ocorre uma interpenetração do global e do local. O jurista português Boaventura de Souza Santos sugere a ocorrência de “um localismo globalizado e um globalismo localizado”.

O localismo globalizado seria a globalização de um fato local, a exemplo de atividades de empresas multinacionais, a música popular e o fast food americano, entre outros.

O globalismo localizado se daria na ocorrência e no impacto de práticas transnacionais sobre condições locais. Bons exemplos seriam a conversão da agricultura sustentável para agricultura de exportação, associações de livre-comércio e o uso de sítios históricos e ecológicos. Igualmente entre outros exemplos.

Regra geral, a conseqüente e inevitável abertura e a liberalização econômica dos ditos países em desenvolvimento expuseram dramaticamente suas graves distorções internas e sua fragilidade sócio-econômica.

No entender de alguns estudiosos, o processo é danoso para os países periféricos, tradicionalmente endividados, deficitários, escancarados à competição, provocando a desnacionalização da economia, quebradeira e venda de empresas, flexibilização e precarização das relações trabalhistas. Neste sentido, desvestindo a utopia globalizante, Rubens Ricupero (Jornal Folha de São Paulo – 23/10/2001) dizia: “ainda há quem pense que globalização e liberalização sejam sinônimos, quando a verdade é que a primeira só se serve da segunda seletivamente, excluindo-a sempre que convenha a seus interesses (...)”.

Em síntese, se conceituar ainda é difícil, depois de todos estes anos, o que dizer então dos polêmicos aspectos políticos e econômicos?

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