12 fevereiro 2008

O Dinheiro "dos Outros"

A exemplo do mais recente - os cartões de crédito corporativo, os sucessivos escândalos com malversação de dinheiro público tem em comum um fato, uma característica, que merece maiores reflexões e análises.

Objetivamente, refiro-me à indiferença e omissão de pessoas, autoridades e instituições, cuja tarefa precípua seria justamente observar a impropriedade de determinadas operações, despesas e a desproporção de valores.

Sucedem-se as transações expressivas e suspeitas, que tanto indignam a população brasileira, como se não houvesse outro brasileiro na outra extremidade do balcão, do negócio, da operação.

E quando não há uma simples pessoa física na outra parte do negócio, há, com certeza, uma autoridade, uma chefia superior, ou uma instituição, responsáveis pela conferência e vigilância. E o que ocorre?

Ocorre que tudo é ignorado, olimpicamente, por uma razão muito singela: é dinheiro dos outros, público ou privado, é dinheiro dos outros. E o dinheiro dos outros, safadamente, é doce de gastar, dilapidar e usurpar!

A título de exemplo, como explicar e admitir que no famoso caso do “juiz Lalau” e a construção do prédio do judiciário paulista, ninguém mais tenha observado, com olhos de razão e ponderação, a desproporção dos valores constantes nos processos de compra e pagamento de materiais.

Ademais, nos dias atuais, não requer muito estudo, escolaridade, conhecimento, leitura de jornais e classificados, compra em supermercados, para se saber o preço médio e razoável de qualquer coisa.

Do mesmo modo, é de se supor que se um “João qualquer” se apresentar com um cartão de crédito do governo federal, deva merecer mais atenção cívica e ética do respectivo vendedor ou prestador de serviços.

Continuando: então, como explicar a sucessão dos negócios que redundam em escândalos - não no ato da operação como seria de se esperar, apenas muito depois e por motivos alheios às tarefas cívicas e institucionais específicas? Infelizmente, a resposta é porque é “dinheiro dos outros”!

Se já não há mais respeito à propriedade privada e pública, se a locupletação é generalizada, se a manutenção e ampliação de privilégios ofensivos à realidade nacional são argüidos e equiparados constitucional e descaradamente, qual é, ou deveria ser, o núcleo de nossa indignação?

Se o nosso dinheiro, público e privado, fruto de trabalho e recolhimento de impostos, aos olhos e desejos de governantes, autoridades e seus asseclas públicos e privados resume-se ao simples “dinheiro dos outros”, e por isto não merecedor de cuidados e passível de saque e apropriação indébita e imoral, o que nos resta como razão de indignação e reação?

O gigantismo do Estado e o mau caratismo do brasileiro são dois bons assuntos para se debater! Se não pudermos resolver os dois ao mesmo tempo, a superação e a solução de um já ajudaria a diminuir a influência do outro.

E, lógico, diminuir o tamanho do assalto continuado!

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