21 fevereiro 2008

Réquiem para Fidel


Uma das passagens mais comovedoras da história mundial recente foi a derrubada da ditadura cubana de Fulgêncio Batista, em 1959, perpetrada por um grupo de jovens idealistas, liderados por Fidel Castro.

Fraudadas as expectativas de justiça e igualdade pelos tiranos comunistas europeus, o sonho do socialismo se renovava, agora na pequena ilha, até então lugar de veraneio e exploração comercial norte-americana.

Rapidamente, Fidel e Guevara se transformaram em ícones mundiais da juventude e das elites intelectuais, ainda traumatizadas pelos efeitos das guerras recentes e a frustração soviética.

Correu o tempo, quase 50 anos, e o mundo experimentou diversas mudanças sociais, políticas, econômicas e culturais.

Entre estas mudanças, as mais significativas foram a desconstituição da União Soviética e a queda do Muro de Berlim. Sepultamento, definitivo, da idéia do partido único e do dirigismo estatal!

Mas o tempo parara em Cuba. Perpetrara-se uma ditadura personalista e reacionária, a exemplo dos decadentes e decaídos modelos europeus, embora mantido o discurso da pretensão socializante.

Descontado o regime e o estilo jurássico, ainda assim persistia, como persiste em alguns meios políticos e intelectuais, uma tolerância com Fidel.

No entanto, a realidade é que faz muito tempo, mais de 20 anos, que as ilusões perderam-se em meio às atrocidades e abusos cometidos em nome do regime político.

Não faz muito tempo, haja vista a notícia do fuzilamento de três dissidentes/fugitivos do regime, Cuba e Fidel voltaram às manchetes, perdendo seus últimos simpatizantes.

E, recentemente, a pá de cal. Diante da notícia da grave enfermidade de Fidel, noticiou-se a transferência do poder ao seu irmão Raul Castro, seu sucessor natural. Quer dizer, monárquico, dinástico.

Pobre povo cubano. Materialmente falta-lhe tudo, mas falta-lhe, ultimamente, a indignação e a rebeldia.

Mas ainda assim não faltam a Fidel a tietagem e homenagens prestadas por seus súditos, que insistem em permanecer algemados ao passado, encurralados por seus sonhos e idealizações juvenis, tiranizados por uma ilusão discursiva e uma prática cínica e cruel.

Os discursos acerca da paz, da liberdade e da prosperidade, ideais humanos e universais, sempre patrocinaram e gestaram tiranos.

Como bem ensina o poeta alemão Friedrich Hoelderlin (1770-1843), profeticamente: “o que sempre fez do Estado um verdadeiro inferno na terra foram precisamente as tentativas de transformá-lo num paraíso”.

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