20 fevereiro 2009

Opinião e Julgamento Sumário

Parafraseando no nosso quase unânime e verborrágico presidente, que cunhou a pérola semântica e demagógica “do nunca antes!”, quero dizer, também, que nunca antes houve tanta opinião e julgamento sumário.
E nem me refiro às corriqueiras conversas de esquina, dos fofoqueiros de plantão ou de vizinhas ao pé da cerca, de cuia e vassoura na mão.
A maioria das notícias é apresentada como opinião. Sem provas formais, indícios e suspeitas se tornam evidências incontestáveis e os suspeitos julgados, culpados e condenados. Ou absolvidos. Tudo em 30 segundos!
Não são apenas os renovados escândalos políticos e econômicos, de representantes e autoridades constituídas, instituídas e “prostituídas”.
Mas também no âmbito social, no mundo das pessoas sem poder e sem representação, ocorrem as precipitações de condenação e absolvição.
Dizem que se trata de um fenômeno mundial, fruto da aldeia global e multimídia. Aliás, hoje em dia tudo é pós-moderno, apesar do viés medieval!
Veja fato recente como a brasileira “mutilada” na Suíça. Tudo indica que haverá reversão total das versões pré-enunciadas e anunciadas. Até o experiente Itamaraty “embarcou”!
Tardiamente, os pais afirmaram que a filha sofre de uma doença (Lúpus) que causa alucinações. Bem antes, entretanto, colegas de trabalho da brasileira já haviam dito que a ultrassonografia que ela enviara sobre sua gravidez se tratava de uma imagem copiada da internet.
O fato é que entre a notícia inicial e as informações mais recentes ocorreram muitas acusações, condenações e absolvições prévias, de pessoas comuns, de altas autoridades, partido político suíço e nacionalidades.
Outro exemplo: e aqui entre nós, o que pensar e dizer sobre o suicídio do jovem assessor do governo gaucho, em Brasília. Andava triste e deprimido, dizem seus amigos e familiares, visto que não mais suportava a imputação criminosa que lhe fora feita na CPI do DETRAN, ainda que sem provas, nem processo, nem condenação judicial.
Descontadas e perdoadas as precipitações comuns a todos nós, a verdade é que vivemos uma profunda crise ética acerca da manipulação das palavras e a (des)construção da verdade.
O sacrifício da verdade tem fraudado nossas boas e necessárias expectativas comunitárias. Afinal, qual a motivação de participação e credibilidade se não é dita e pretendida a verdade? Ou, então, se é fomentado o preconceito?
O pior fruto da ausência da verdade, ou da existência da mentira, é a conseqüente hierarquia e supremacia da intolerância.
E não é por falta de recomendações e lições. Exemplarmente, em 26 de agosto de 1789, os franceses já escreviam na sua Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão que toda pessoa é considerada inocente até prova em contrário, e que ninguém poderá ser condenado por suas idéias, mas somente por seus atos.
Também o filósofo alemão Hegel (1770-1831) já dissera que a transformação sumária do suspeito em culpado e sua condenação à morte sem direito de defesa, é uma morte efetuada sob a forma do espetáculo público.

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