05 abril 2009

Crises:mortes e renascimentos

As crises sócio-econômicas têm uma faceta interessante e surpreendente. No auge de sua ocorrência e análise, costumam provocar “a morte e o enterro” de pessoas, conceitos e convicções, de teorias políticas, econômicas e sociais.
Mas chama atenção também o fato de que as mesmas crises podem fazer renascer teorias, conceitos e pessoas.
Um camarada que “renasceu” foi o multidisciplinar alemão Karl Marx (1818-1883). Suas teorias haviam “balançado e caído” junto com o Muro de Berlim em 1989.
A rigor, a marginalização de suas idéias já havia ocorrido muitos anos antes, por culpa de quem as mal interpretara e aplicara ideologicamente. Principalmente, os soviéticos marxistas-leninistas no denominado socialismo real (1917-1991).
O “renascimento” de Marx e o interesse por suas obras econômicas principais (O Capital e Grundrisse), em meio à crise atual, se devem a algumas constatações que ele havia feito e que ajudam a explicar as contradições do capitalismo.
Examinando a sociedade burguesa da época e a natureza do desenvolvimento do capitalismo, Marx previra que o surgimento de uma economia globalizada era inerente ao modo capitalista de produção.
Mas também previra que este mesmo processo geraria não somente o crescimento e a prosperidade, mas também conflitos, crises econômicas e injustiça social.
Em face da hegemônica liderança do liberalismo nos últimos anos em quase todo o planeta, e o fato de que a atual crise financeira pode virar uma grande depressão mundial, marxistas e estatizantes em geral declaram, agora, a morte do liberalismo e (re)ascensão do Estado.
Desmoralizados, tradicionais governos liberais, a exemplo dos EUA, Inglaterra e Japão, não resistem às pressões políticas e intervêm no abalado e nervoso mercado, ministrando generosas e fartas doses de tranquilizantes, manipulados à base de dinheiro público.
A esquerda, ou isso que aí está que se autodenomina de esquerda, festeja a crise como um ritual de sepultamento do chamado e rotulado neoliberalismo.
Também estariam sendo enterrados o ufanismo, a arrogância intelectual e cultural do primeiro mundo ocidental, sua pretensão e a mania em dar conselhos aos pobres, remediados e periféricos países terceiro-mundistas.
Sepultadas também estariam as recomendações do FMI e do Banco Mundial, na companhia de seus “chefs de cuisine” com suas receitas de transparência, não corrupção, ética e boa governança.
Ou ainda, dito doutra forma, em presidenciais, inoportunas e lulísticas palavras: os responsáveis pela crise mundial têm cabelos loiros e olhos azuis!
Bem, entre feridos, mortos e vivos, enterradas e desenterradas pessoas, convicções e teorias, tomara que a crise sirva de lição para todos os povos.

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