12 maio 2009

DALITS

A novela global “Caminho das Índias” tem proporcionado à maioria de nosso inculto e mal-informado povo o conhecimento da realidade social da Índia, o gigante país asiático.
Muitos indianos radicados no Brasil têm reclamado e dito que o retratado pela novela não corresponde à realidade atual.
É verdade que desde Ghandi há um imenso esforço legal e constitucional para a superação dessas diferenças. Mas os costumes resistem influenciados pela conservadoríssima religião hindu.
Observando os intocáveis dalits, com suas vidas em paralelo aos demais cidadãos, considerados e tratados como não parte do sistema social, pensei em milhões de brasileiros. As castas também existem por aqui?
As crescentes e permanentes dificuldades que nosso povo tem enfrentado, haja vista o evidente e continuado empobrecimento geral, têm gerado e lançado às ruas um exército de miseráveis.
São viradores de lixo, catadores de papel, guardadores de carro e moradores de rua (sem-teto). Uma multidão de sem-nada!
Tirante a estética da pobreza, que enriquece poucos e que a mídia explora muito bem, notadamente o cinema e a televisão, resta a verdade nua e crua das rotinas de sobrevivência.
São várias, variadas e notórias situações de exclusão absoluta, degradação humana, alcoolismo, drogadição, loucura, perda de identidade, entre outras anomalias comportamentais e existenciais.
Miséria, fome, fracasso, sofrimento, é o que têm em comum estes personagens de nosso cotidiano. Eu disse nosso cotidiano?! Errado!
Eles são invisíveis. Ninguém os vê ninguém os percebe. Apesar de estarem aqui, ali e acolá, é como se não existissem. Pois esta é uma resolução de nossa sociedade. Ignora-se!
Gestos isolados como a mão que alcança uns trocados, uma roupa usada, um cigarro pela metade, não tornam seus corpos visíveis por inteiro; talvez apenas suas mãos estendidas.
Seus rostos e seus espíritos continuam nas trevas às quais os relegamos. Nem ousamos olhar em seus olhos porque é insuportável!
Olhar fixamente em seus olhos é como uma fotografia que nos acompanhará para sempre. Incomodativa e indeletável!
São homens, mulheres e crianças que caminham à margem de nossos belos e floridos jardins de nossas casas e imponentes condomínios.
São com eles que cruzamos a caminho do trabalho, à saída para as baladas noturnas, à porta e escadarias de nossas soberbas e centenárias igrejas e palácios de governo.
São os nossos dalits!

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