04 maio 2009

A Turma do "Deixa-Disso"

Todos os dias somos confrontados com casos de corrupção, fraudes, apropriação indébita, usurpação de funções, enfim, escândalos de todas as naturezas e origens.
No centro de todos os casos algumas constatações e óbvias coincidências: excesso de estado, ausência de controles, não transparência e impunidade.
São variáveis que convergem para um mesmo fim: é um bom negócio e de baixo risco “assaltar” os cofres públicos e privados!
Apesar de todas as vozes de revolta e indignação, se trata de um assunto/debate que inevitavelmente nos leva a outras desagradáveis constatações e conclusões.
Entre tais observações concorrem inúmeras notícias e episódios diários que relacionam a conduta do brasileiro ao famoso estigma de “querer levar vantagem em tudo”.
Menor valor e/ou conseqüência social não são razões para inibir a tentação e o oportunismo. Apenas confirmam uma índole suspeita. Uma incompatibilidade e não vocação comunitária. Uma carência de perspectiva ética balizadora.
E exemplos não faltam. Fraudes relacionadas à distribuição e utilização do Programa Bolsa Família, às pensões do INSS, às licenças médicas fraudadas, entre outros.
A maioria destas fraudes é praticada por autoridades, representantes político-partidários e funcionários públicos, quase sempre em conluio com pessoas do povo e da própria comunidade.
E por mais que algumas pessoas “coloquem a boca no trombone”, são pecados social e localmente assimiláveis. Graças a “Turma do Deixa-Disso”.
A regra-geral da “Turma do Deixa-Disso” é uma conduta muito adotada pelos especialistas em sobrevivência política e social em pequenas e médias cidades.
Qual seja: nunca critique, sempre elogie; nunca seja contra, seja sempre a favor; nunca afirme com convicção, apenas cogite. Acusar, cobrar, condenar? Jamais!
Afinal, não passam rápido ao “esquecimento” escandalosas viagens e diárias de vereador, contas e prestações de contas mal esclarecidas de festas da alegria, e, mais recentemente, generosa e bem-paga compra de terras em período pós-eleitoral?
A ironia no descobrir e desvendar dos pequenos e grandes “negócios de ocasião” é que quase sempre é por causa de alguém que não foi contemplado ou lembrado na hora da repartição do butim.
Alguém lembrou: e a honra, a dignidade, a verdade e a justiça?
Mas quem, hoje, dá “bola” para estes ditos, apregoados e teóricos valores pessoais, sociais e institucionais?
Afinal de contas, no frigir dos ovos existenciais todos somos dotados de boa índole e das melhores intenções. Ah, e desvios de conduta são inerentes à condição humana!
Mas resta uma perturbadora indagação: será que é possível que tenhamos e suportemos vários níveis de tolerância ética? Diferentes níveis de concessões políticas e sociais? Alternativos níveis de delinqüência e corrupção toleráveis? E que todas estas concessões não têm nada a ver conosco e com a atual situação da nação?

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