14 novembro 2009

Mulheres em Transe

Já perceberam acerca da quantidade de livros que tratam de assuntos relacionados à mulher, à sua saúde e estética, ao desejo da maternidade, ao casamento, aos estudos e, principalmente, tocante o sucesso na profissão?
E não são só os livros, mas inúmeras peças de teatro, revistas, “sites e blogs”. E nem me refiro às obras de auto-ajuda. Em geral, chamam atenção pela variedade, instigação e inquietação.
Relativamente às mulheres brasileiras, uma das explicações para esse tsunami comportamental, e já há pesquisas a respeito, informa que as mulheres querem conciliar o trabalho com a posição de mãe e esposa. E ainda se manter bela e atraente!
Claro que já um contingente muito expressivo de mulheres brasileiras que não quer casar, nem quer ter filhos, privilegiando as relações de trabalho e amizade, e limitando os compromissos amorosos às relações sem compromisso formal, tipo “cada um na sua casa!”
Porém, em sua maioria as mulheres brasileiras ainda caminham no sentido inverso de outros países. As européias (metade das alemãs, por exemplo) não querem saber de maridos e filhos. Valorizam a independência, o trabalho, a liberdade e a autonomia. Casar ou não, ter filhos ou não, não chega a lhes perturbar.
Voltando ao Brasil. Os homens já não querem pagar as contas sozinhos. De modo que, mesmo se a mulher quisesse, já não pode ficar em casa apenas cuidando dos filhos. Aliás, nem suas amigas aprovam a dedicação familiar exclusiva.
Mas há também preocupações profissionais. No ambiente de trabalho, brasileiras ainda lidam com remunerações menores relativamente aos homens em cargos equivalentes. O que representa menos prestígio e poder.
Não é a toa que a dificuldade de conciliar todos esses desejos e interesses têm deixado as mulheres brasileiras estressadas e preocupadas.
E nesse conjunto de desejos e frustrações há dois temas recorrentes nos diálogos femininos: a “falta” de homens e a questão da decadência física e estética.
É comum ouvirmos as seguintes frases: "Falta homem no mercado. Os homens querem uma mulher muito mais jovem. Quando um homem se separa, imediatamente ele encontra uma parceira”.
O mais impressionante nesses relatos é que também são expressos por mulheres bem sucedidas. Que têm dinheiro, têm independência, têm saúde e estão bem fisicamente. Por quê?
Afinal, sabemos que “ninguém pode ter tudo”. Mas elas “querem tudo” ao mesmo tempo. É nitidamente um grave problema cultural brasileiro. Minha amiga aqui ao lado me corrige e vai mais longe:
“Se elas não tiverem um homem, não se sentirem jovens, sexy, magras (e não tenham tido um filho), há problemas. Elas não reconhecem seu próprio valor. E, basicamente, tudo gira em torno do corpo e da aparência. Haja cirurgia plástica e botox.”
Resumindo, sem dúvida, é um problema cultural. A culpa será dos homens? Ou das mulheres? Ou de ambos?
Mas como mudar uma cultura, um comportamento, que valoriza a mulher jovem, bonita e sexy (e com marido!), e que transforma, consequentemente, por exemplo, o processo de envelhecimento numa praga, numa “doença”?
Afinal, o que pode haver de mais digno e relevante do que o afeto, a saúde e a competência? Pode a beleza e a juventude (passageira) superar a maturidade das idéias, da personalidade e do charme?

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