12 março 2010

Verdade e Política(e as fotomontagens)

Entre os vários substantivos que viabilizam a democracia, e outros tantos adjetivos que a caracterizam, uma palavra merece mais atenção e mais zelo de todos nós. Refiro-me a verdade.
A busca da verdade faz parte da essência humana. Em todas as áreas da vida. Mas quando a verdade é fabricada, deixa de ser verdade. Torna-se matéria prima da mentira.
O direito à verdade dos fatos sociais deve ser uma garantia democrática. Mais que uma garantia, deve ser uma virtude pública.
Histórica e secularmente, o exercício do poder tem-se utilizado da mentira e da verdade pré-fabricada. Quando a verdade é manipulada, a mentira surge e aumenta seu poder de simulação e esconderijo de outras verdades.
Nunca é demais, nem tardio, relembrarmos que o regime democrático está concentrado na sociedade e em cada cidadão. E o seu exercício através dos eleitos.
Infelizmente, nosso sistema político representativo se afastou da sociedade. E a nossa participação tem-se limitado ao comparecimento às urnas e a volta para casa. Mansamente.
Dirão que não. Que estou exagerando. Afinal, nunca houve tanta liberdade de ação e opinião. Sim, e daí? Para que serve tudo isso se o que estamos vivenciando é a inversão de valores?
Estamos ou não estamos à margem da atuação das esferas políticas, à mercê dos que estão no exercício das formas de poder? Somos meros expectadores. Não somos participantes. E por que não participamos, por que somos expectadores?
Porque nossa democracia deixou de produzir a verdade e a autenticidade, deixou de cultuar os melhores e essenciais valores.
A verdade e a autenticidade são essenciais na sociedade como fatores de produção de questionamentos e transformações sociais. Geram descobertas, participação e fiscalização. E refutam, com vigor, as imposturas e as imposições.
E o que é o voto, ou deveria ser o voto? Não é, a rigor, o depósito de nossas convicções, de nossas crenças e de nossas verdades nas mãos e consciência dos representantes? Ou dos parlamentares e governantes, como acontece na política?
E o que sucede se isso é frustrado, rotineiramente frustrante e decepcionante? Na medida em que se sobrepõem os interesses individuais, e se desconstrói a verdade, a política perde seu sentido.
Mas o mais significativo e odioso, sim, odioso, é que na medida em que a política perde seu sentido, mas preserva sua institucionalidade, sua exigência social, as meias e falsas verdades, as verdades ocultas e a permanente manipulação “aprisionam” a população.
Isso que chamamos de política, mas que não é a verdadeira política, acaba funcionando como um controle das possibilidades de ação e reação popular.
As falsas, meias e ocultas verdades modificam os fatos e conseqüentemente a própria história. O passado já não podemos mudar. E o futuro resta manipulado.
De um modo ou de outro, a sociedade percebe isso. Sente a manipulação. Sente, vê, mas não reage.
Ao final, a generalizada e hegemônica memória curta popular esquece sua revolta, renova mandatos, repete formulismos e mágicas crenças.
Mas ensina o filosofo de plantão que a mentira e a manipulação são da natureza humana. Estão ao nosso alcance. Assim como a verdade e a liberdade.
Se estão ao nosso alcance tanto a verdade como a liberdade, porque continuamos mentindo para nós mesmos?
Em fevereiro de 2009, no Encontro Nacional dos Prefeitos, em Brasília, cerca de 300 prefeitos abriram seu sorriso e tiraram uma foto ao lado do presidente Lula e da ministra Dilma Rousseff.
Mas o que poderia ter sido um privilégio, um motivo de orgulho pessoal, se tratou, simplesmente de mais um episódio no já famoso “jeitinho brasileiro”. Ao preço de R$30,00 tratava-se de uma fotomontagem instantânea.
Assim, combinados a realidade política e o comportamento humano, o recente fato em torno de uma fotomontagem patrocinada por um veterano vereador de Santa Cruz do Sul não deveria se constituir em tamanha surpresa.

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