30 novembro 2010

Pílula anticoncepcional: a revolução

Grandes e diferentes invenções humanas têm também grandes e diferentes repercussões na vida dos povos e das pessoas. Normalmente, a dimensão e a importância de cada invenção mantêm uma relatividade quanto à sua época. Mas algumas invenções permanecem extremamente atuais e úteis.
Um ótimo exemplo de utilidade e atualidade é a pílula anticoncepcional. Surgida em 1960 nos Estados Unidos, a pílula anticoncepcional completa cinqüenta anos de serviços prestados à humanidade e, particularmente, às mulheres. Mudou o mundo e a realidade feminina para melhor. Mudou o comportamento das mulheres e dos homens.
De imediato, a pílula permitiu às mulheres a opção de decidir sobre quando e quantos filhos gostariam de ter. Esse detalhe - sem ignorar outras inovações tecnológicas importantes que favoreceram o dia-a-dia das mulheres - precipitou uma grande transformação da/na sociedade.
Mas a grande conquista vai além da questão da maternidade. Alcança e envolve a questão da sexualidade. A pílula anticoncepcional foi o alicerce da emancipação da mulher, cuja sexualidade estava confinada a tabus e preconceitos sociais, até então.
À mesma época, outro fato muito importante que contribuiu expressivamente para a emancipação feminina foi a 2ª Guerra Mundial. Refiro-me as oportunidades de trabalho que surgiram, haja vista que os homens estavam no front ou indiretamente envolvidos no ambiente mundial da grande guerra.
Com renda financeira própria e trabalhando em novas tarefas e profissões, postos de trabalho aos quais ate então não tivera acesso, a mulher, desde então, não deixou mais de trabalhar. Pelo contrário, ampliou sua participação no mercado de trabalho.
Tradicionais profissões e cursos universitários, antes dominados por homens, hoje são divididos meio a meio, a exemplo da medicina, direito, jornalismo, engenharia e arquitetura, entre outros não menos importantes.
O fato de trabalhar fora ampliou suas relações sociais e o modo de relacionamento entre homens e mulheres. A pílula anticoncepcional e a independência econômico-financeiro da mulher tornaram a sociedade mais justa e igualitária.
Claro que a todas as conquistas correspondem novos desafios e novas perguntas. Um bom exemplo é o conflito feminino entre decidir qual o melhor momento de atender o desejo da maternidade e o momento de priorizar a carreira profissional. Conseqüentemente, muitas mulheres não têm filhos. Optaram em não os ter.
Mesmo considerando o controle da oportunidade da maternidade e a emancipação financeira como valores em si, creio que a maior conseqüência positiva, a maior conquista feminina, foi o questionamento e a superação do modelo patriarcal de sociedade.
O direito a ter direitos. A filósofa alemã Hanna Arendt (1906-1975) já dizia que a conquista dos direitos exige um sujeito que tenha ação na esfera política. E desde então, “as coisas” se sucederam em rapidez e sucesso. Temas e tabus intocáveis caíram. Família, sexualidade, direitos trabalhistas, divisão doméstica do trabalho, responsabilidade e o cuidado com as crianças, etc...
Alguém tem dúvida que tudo “começou” com a pílula anticoncepcional?

Nenhum comentário: