04 dezembro 2010

Rio 40 Graus

Independentemente de nossa torcida pelo sucesso do empreendimento militar, a complexidade e amplitude do problema do narcotráfico não permitem conclusões e expectativas otimistas.
Ocorre que continuam sem resposta questões muito mais importantes que a perseguição e as prisões propriamente ditas. Questões ainda não respondidas pelas autoridades estaduais e federais.
Como entram no país e sobem o morro toneladas e toneladas de droga? Como entram e chegam às mãos dos bandidos milhares de armas leves e pesadas?
E importa não esquecer que por trás do narcotráfico, por trás do negócio das drogas, sucedem-se as mortes. Muitas mortes. Principalmente, a morte de jovens. Sejam os jovens aqueles recrutados e utilizados pelos traficantes, sejam os jovens viciados.
Parênteses. Somos os campeões mundiais em número de homicídios. Embora tenhamos apenas 3% da população mundial, cometemos 13% dos homicídios.
Quarenta e cinco mil pessoas perdem a vida a cada ano. E entre essas mortes destacam-se as que correm à conta do narcotráfico.
Conseqüência de desintegração familiar, desigualdade de renda e trabalho, desemprego e urbanização desordenada. E o narcotráfico a reboque de todos os quesitos!
A desigualdade social e econômica a gente percebe nas questões relativas à moradia, ao saneamento básico, ao emprego e ao transporte público.
E os números não mentem. Oitenta e três milhões de pessoas não são atendidos com pelo menos um destes serviços públicos: água, esgoto, coleta de lixo e energia elétrica.
Estes números têm conexão com os números relativos aos jovens. Trinta milhões têm entre 15 e 24 anos e vivem no meio urbano. Dezessete milhões não estudam. Metade dos desempregados brasileiros é esses jovens.
Conseqüências? Sensação de impotência, descrença na família e na sociedade. Descrença no esforço coletivo, na comunidade e nas autoridades, desrespeito às normas e às regras de convivência. Grave crise de valores e absoluta falta de perspectivas pessoais.
A solução? Bem, a solução outros países já encontraram faz muito tempo. Educação, educação e educação. Oportunidade de trabalho e infra-estrutura residencial.
Mas tudo isso precisa de muito dinheiro. E onde está o dinheiro? O dinheiro corre pelos ralos do desperdício de governos incompetentes e corruptos.
Tudo isso só terá uma solução, um encaminhamento razoável, no dia que enfrentarmos com seriedade duas questões que andam juntas: o tamanho do estado brasileiro e o problema da corrupção. Desde a pequena negociata até a grande maracutaia.

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