04 janeiro 2011

Mundo Cão (sobre cães, higiene pública, donos e solidão)

Vivemos uma época de profunda impaciência, incompreensão e solidão humana, tempo e lugar em que, conseqüentemente, para muitas pessoas os animais são destinatários quase preferenciais de devoção e afeto. Até aí, nada demais. Afinal, quem não gosta de bichinhos?
Entretanto, percebe-se um quadro de notáveis exageros. E não apenas porque gastam fortunas na manutenção, enfeite e priorização de seus bichinhos - vejam só o crescimento do setor de pet-shop. De todo modo, e ainda assim, continua sendo uma respeitável questão e preferência pessoal. Cada um gasta seu dinheiro como quiser.
O mais grave, entretanto, é o desrespeito às demais pessoas. Crianças, principalmente. Não por acaso os condomínios, os parques e as ruas estão tomados de animais e sua urina e fezes.
E nem falei das feras e dos riscos inerentes à sua circulação em lugares públicos. Aliás, quanto às feras em destaque – a exemplo de pitbulls, rottweilers e dobermanns, há uma questão elementar, rudimentar, que alguns donos não compreendem, qual seja: são animais, irracionais, não dominamos, nem compreendemos suas reações e seus limites!
O que pode levar alguém a imaginar que o mais singelo bichinho pode ser controlável? Que linguagem animal é esta que os donos supõem dominar a ponto de cogitar/controlar/dialogar com seus bichos e suas reações ancestrais e atávicas?
Tudo muito óbvio, certo? Errado. Seja por razões de higiene pública, seja por razões de segurança das pessoas, qualquer óbvia reflexão e ação que deveriam suceder-se são impossíveis. Ai de quem fizer uma crítica.
A resposta mais comum que ocorre aos donos é que “quem não ama os bichos, não ama as pessoas!”. Ainda que uma coisa não tenha nada a ver com a outra.
Neste sentido, é lastimável o que está ocorrendo nas ruas e nos principais parques da cidade, a exemplo da Redenção, do “Parcão” e da Praça da Encol. E só como exemplo. Porque o problema é generalizado.
Literalmente, tratam-se, agora, de espaços públicos para reunião de cães e seus donos. Conseqüentemente, os demais usuários devem adivinhar se o cão é manso ou não – explique isto para uma criança! Pular e/ou desviar da guia esticada– sim, por que tem donos que não recolhem a guia à passagem das pessoas! Olimpicamente, desviar e/ou pular sobre as fezes.
Bucolicamente sentar na grama de um parque sem um detalhado exame, nem pensar. Usar o bebedouro de água, nem por ordem médica!
Talvez fosse o caso de reclamar ao poder público. Poderes Públicos! Embora a sugestiva sonoridade, que sugere autoridade, é um eufemismo.
Com certeza, são “os tempos”. Essa estranha modernidade. Afinal, cães já comem melhor que muitos brasileiros, têm assistência médica, já se vestem melhor e, ultimamente, tem até personal trainer. E parques!

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