25 abril 2011

Copa do Mundo: uma pergunta essencial

Interessante observar que em várias questões nacionais - que se caracterizam pela imbricação onerosa entre ações privadas e ações públicas - raramente as perguntas importantes e necessárias ocorrem no momento oportuno.
Um bom exemplo é o caso Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil. Alguém lembra se nosso Congresso Nacional foi consultado se deveríamos nos candidatar e sediar esses eventos, bem como acerca da dimensão de um hipotético ônus estatal superveniente?
No entanto, alguns brasileiros representantes de entidades privadas e na companhia de autoridades brasileiras habilitaram a nação para a recepção desses eventos.
Não sei se essas autoridades públicas estavam investidas desse poder deliberativo e conscientes da sua dimensão onerosa.
Obvia e naturalmente, o ufanismo, a euforia e o otimismo exacerbado da ocasião enfocavam apenas questões de repercussão positiva, a exemplo de mobilização turística e uma sucessão de possíveis investimentos privados.
A FIFA, organizadora da Copa do Mundo de Futebol, é uma rica entidade privada que explora um grande e igualmente milionário negócio e cujos atores principais, igualmente milionários, todos conhecemos.
Regra geral, para viabilizar seu negócio na plenitude a mesma FIFA costuma fazer grandes exigências aos seus anfitriões, a exemplo de modernos estádios e obras de infraestrutura.
Essa Copa do Mundo “sairá” no Brasil por vontade, decisão e influência direta do presidente da Confederação Brasileira de Futebol. E cuja razão de ser está diretamente ligada ao desejo desse cidadão em ser o próximo presidente da FIFA.
Na carona dessa jogada entraram uma série de homens públicos. E porque entraram? Porque logo ali adiante – 2014 - haverá eleições. Obras públicas, eleições e futebol sempre deram resultados muito bons para os políticos!
Muita gente vai ganhar dinheiro com o negócio futebol. Mas o dinheiro graúdo será só para gente graúda. E o povo ficará com que? Com algumas obras públicas feitas às pressas, mal-feitas e superfaturadas.
No fim será uma expressiva conta pública a ser paga com dinheiro de todos os contribuintes. Uma opção de poucos à custa dos ônus de muitos e em detrimento de demandas públicas urgentes e necessárias.
Aliás, já há estimativas feitas pelo Tribunal de Contas da União de que mais de 95% dos gastos serão bancados pelos cofres públicos. Mas nao haviam dito que o evento se pagaria privadamente e que não haveria necessidade de dinheiro público?
Todas as obras estão fora do prazo e estourando os organogramas e orçamentos. E o que pretende fazer o governo – e fará: ampliar as isenções fiscais e fixar regras mais flexíveis para a realização das obras. Isso significa mudança nas regras licitatórias, menos fiscalização e liberação abundante de verbas.
Com o histórico nacional de precipitação, corrupção e desperdício cresce a certeza de que o preço que a nação pagará será imenso e incalculável.
Eu volto a perguntar: essas decisões de sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas foram tomadas por quem, em nome de quem e com que poder?

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