14 março 2012

Governo de Colisão

Sucedem-se as demissões de ministros e altos assessores no governo federal. Essa semana também “caíram” os líderes do governo na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Se não “caem” por escândalos, “caem” por incompetência e inabilidade política.
A rigor, não há nada de novo. É tudo um retrato de um modelo de governo - de bases absolutamente fisiológicas - nominado de presidencialismo de coalizão. Embora mais pareça um governo de colisão!
E nem podemos culpar totalmente Dilma e/ou Lula, eis que o precursor foi Fernando Henrique Cardoso. Mas tanto Lula quanto Dilma leram e aplicaram com exagero o “manual do usuário”.
E não é um manual político-ideológico, daqueles cheios de planos estratégicos para o futuro da nação. É um simples manual de manutenção do poder e diminuição dos obstáculos à vontade do governo.
Em troca de cargos, vantagens e liberação de verbas orçamentárias, entre outros mecanismos, a romaria de parlamentares e partidos dá sustentação ao governo e aprova tudo sem discutir o mérito e a oportunidade. Salvo raras exceções. Para fazer de conta.
Afinidades políticas e ideológicas nem são consideradas. E como é uma “festa” da qual todos querem participar (Já temos 30 partidos registrados. Dá-lhe, Brasil!), aumenta cada vez mais o índice de apoio ao governo. FHC começou com uns 60 por cento. Lula também. E Dilma já alcança 80 por cento de apoio na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Como o apoio é baseado em constante troca de favores resulta uma ilusão, uma farsa democrática. Trata-se de uma democracia de baixa qualidade, dizem os estudiosos. E, infeliz e obviamente, há uma conseqüência cruel e deseducadora. Não é possível ser oposição, não há “oxigênio político-ideológico” e não há margem de ação.
Todas as votações importantes são submetidas à chantagem e ao fisiologismo, objeto de negociações e “preços” absurdos. Ministérios e secretarias são balcões permanentes de negócios e negociatas.
De pagamento em pagamento, de não cumprimento em não cumprimento de acordos, de blefe em blefe de parte a parte, governo e sua base de apoio conduzem tudo aos trancos e barrancos.
Mesmo quando humilhados pelo governo, esses partidos e seus membros fazem de conta que não houve nada e prosseguem sua jornada “noite adentro”.
Uma síntese extraordinária desse esquemão foi a recente criação do PSD, liderada pelo prefeito paulistano Gilberto Kassab. Já nos primeiros momentos, declarou que o partido não era de direita, nem de esquerda e nem de centro!
Não é a toa que conseguiu a filiação de um em cada cinco parlamentares de oposição. Ou daquilo que restava como oposição. Era uma maneira discreta dos interessados se aproximarem do governo e seus negócios. Discreta apenas no seu pensar. Como se fôssemos todos cegos. Ou somos?

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