20 junho 2012

O Direito de Morrer

Um dos aspectos mais marcantes que estamos tendo a oportunidade de presenciar e (con)viver, atualmente, diz respeito à longevidade humana. É impressionante o número de idosos. Vida longa, graças aos novos conceitos sobre qualidade de vida, evolução da medicina e consumo regrado de alimentos e bebidas. Mas alcançar expressiva idade e com plena saúde é privilégio de poucos. A idade avançada ainda é sinônimo de problemas físicos e mentais, e, consequentemente, de dificuldades na convivência familiar e social. Nesse ambiente, também são comuns os casos de portadores de doenças incuráveis e progressivas, alguns com prognóstico de morte próxima. Desse quadro problemático deriva uma nova, inevitável e urgente questão pública, legal e sociológica: o direito de morrer. Um questionamento legítimo, decorrente e baseado em histórias pessoais e reais e que têm em comum muito sofrimento à própria pessoa, seus familiares e cuidadores. Com certeza, não se trata de egoísmo daqueles submetidos diariamente à tortura e ao sofrimento físico e espiritual em amparar vidas e corpos incapazes de ação, emoção e/ou memória. A extinção da vida envolve vários e diferentes processos. Os mais conhecidos são a ortotanásia, a eutanásia e o suicídio assistido. Conhecedores das respectivas técnicas e habilitados em relação à sua execução, no entanto, os médicos e seus conselhos profissionais enfrentam as restrições e previsões punitivas da legislação penal, além do inevitável debate ético. Em outro nível e extremidade, religiões e seus seguidores argumentam contrariamente à utilização desses métodos embasados em suas crenças espirituais. Exagerada e estupidamente, algumas religiões defendem a provação e o sofrimento, como se isso significasse nobreza e destino celestial. Mas qual pode ser o limite da nossa intervenção na vida alheia? Se é certo tutelar a vida intra-uterina, a vida de bebês e crianças, não é um exagero do estado querer tutelar também o direito de morrer de um adulto? É ético submeter alguém ao sofrimento e à vida artificial, contrariando, por vezes, a própria vontade do doente? Não seria a morte muito mais digna e humana? E não são diferentes de pessoa para pessoa os conceitos e sentimentos sobre o que significa “vida”? Ao negarmos às pessoas o direito à morte, é como se o corpo delas nos pertencesse, como se nos apropriássemos do seu destino. Nós, por nossas interferências e decisões, e o estado, pelas leis restritivas e impeditivas. Tanto em um caso quanto no outro, é um absurdo. Um abuso. Para encerrar o artigo. Pesquisas periódicas revelam que a maioria dos brasileiros é contrária à eutanásia. Em média, 60%. Já no Canadá, 76% da opinião pública é a favor. Na Austrália, 81%. E nos Estados Unidos, 57%. Outra pesquisa. Realizada em 1997 por universidades em hospitais dos Estados Unidos, constatou que: 40% das pessoas doentes morrem sentindo dores insuportáveis; 80% enfrentam fadiga extrema; e 63% passam por grande sofrimento físico e psíquico pouco antes de morrer.

Nenhum comentário: