13 junho 2012

O Nome Adequado

A manipulação da verdade e o ilusionismo, ou a própria mentira, nos casos mais graves e extremos, não são uma exclusividade da prática política. São comportamentos e reações tipicamente humanos e podem ter vários e diferentes momentos e razões de ser. De um modo ou de outro, a seu tempo, maneira e circunstância, seu autor provavelmente responderá por seus atos e conseqüências. No campo das relações pessoais e dos pequenos grupos, ato e conseqüência são facilmente localizáveis e, eventualmente, quantificáveis em termos de ônus. Mas quando se trata de questões públicas, que afetam a comunidade como um todo, e cujo ônus, em geral, corre à conta dos cofres e do dinheiro público, isso nem sempre fica claro e responsabilizável. Ou porque a autoria, o ato e sua conseqüência são realmente duvidosos e/ou discutíveis, ou porque não é do interesse de alguns o respectivo questionamento. Politicamente, manipulação da verdade, ilusionismo e mentira também são conhecidos e nomeados como demagogia. Relembrando, com ajuda do Wikipédia: “demagogia é estratégia de obter poder político, (...), por meio de retórica e propaganda, e frequentemente usando temas populistas, (...), propostas e declarações que não podem ser postas em prática, feitas apenas com o intuito de obter benefício eleitoreiro ou de popularidade para quem as promete.” Com o meu pedido antecipado de indulgência aos que acham que sempre exagero nas críticas aos governantes, a exemplo de dois artigos anteriores e recentes – na questão da redução dos juros e na classificação da classe média, hoje trago mais dois exemplos de – no meu entender - ilusionismo e meias verdades. O governo estadual enviou para a Assembléia Legislativa projetos de lei com previsão de aumentos salariais para policiais civis e praças da Brigada Militar(PLs 140, 141, 142 e 143/2012). Não há divergências quanto à necessidade de bem remunerar essas categorias. A questão polêmica é que o governador promete expressivos aumentos não apenas até o final de sua gestão, 2014. Mas muito além, até o final de 2018. Ou seja, promete aumentos de 100, 200 e até 250%, para além de seu mandato e à conta do próximo governador. A realidade econômico-financeira do Estado é caótica, difícil e confusa ontem, hoje e continuará sendo amanhã, e o governo faz promessas para além de seu mandato. Que nome se pode dar a essa prática política? Outro exemplo. Na recém aprovada Lei Geral da Copa do Mundo, o governo federal obriga a FIFA a vender ingressos com desconto de 50% por cento para brasileiros “participantes de programa federal de transferência de renda”. O governo está falando de beneficiários do Programa Bolsa-Família. Mas há algo errado aqui. Não são famílias pobres e com alto grau de carência e dificuldades pessoais? E Bolsa-Família não é uma ajuda com dinheiro de todos os contribuintes? Oferecer desconto e estimular a compra de ingressos de futebol internacional - dinheiro que irá aos cofres da FIFA - não é uma forma de deseducação dessas famílias? Quando um governo defende esse tipo de idéia e prática, tipo pão e circo para o povo, como é nome disso?

Nenhum comentário: