16 agosto 2012

Danem-se os fatos!

Ainda sobre o julgamento do “mensalão” no Supremo Tribunal Federal. O ministro Dias Toffoli não se deu por impedido na sessão inaugural. Aquele teria sido o momento e o gesto adequado. Tinha o dever ético do autoimpedimento. Mas não o fez. Afinal, fora advogado do PT, assessor jurídico de José Dirceu na Casa Civil (além de seu advogado pessoal) e Advogado-Geral da União. Chamou atenção também o fato do procurador-geral não haver solicitado o impedimento de Dias Toffoli. Talvez para evitar atritos adicionais que possam retardar a continuidade das sessões. Mas é o que deveria ter feito. Tinha o direito e o dever. Mas não o fez. Aliás, retardamento que ocorreu no mesmo e primeiro dia. Provocado pelo longo e surpreendente voto do ministro Levandowski. Surpreendente nem tanto pela qualidade, mas, pasmem, por suas 56 páginas previamente preparadas. Defendeu e votou a favor da mencionada questão de ordem de Thomaz Bastos. Ficou parecendo jogada ensaiada de ambos. Pode? Tocante as defesas até agora apresentadas pelos advogados, há evidentes unanimidades argumentativas. Em resumo, “todos acusados são inocentes, e se mal e errado algo fizeram, foi apenas a não contabilização (sic) de recursos financeiros de campanha eleitoral”. Tudo se resumiria ao famoso “caixa dois”, pecado e prática que todos cometem de sul a norte, de leste a oeste do Brasil varonil, partidos políticos e empresas, políticos e empresários. Falaram assim os advogados dos réus do "mensalão", cínica e debochadamente, perante o tribunal maior. Refrão da ladainha: não existe pecado ao sul do Equador! A novidade foi o argumento do defensor de Roberto Jefferson, o ex-juiz gaúcho e agora advogado Luiz Francisco Barbosa, que reclamou sobre a não presença do ex-presidente Lula no banco dos réus. “Se três ex-ministros estão no banco dos réus, porque seu então chefe não está?”, perguntou. A retórica predominante quer fazer crer que tudo se resume e limitará a exame pessoal e parcial de perspectivas e pontos de vista. Simples assim como (pre)julgamos os outros em nossas conversinhas pessoais, no dia-a-dia. Então, prevalecerá um argumento do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), quando disse que “os fatos não existem, mas, sim, a interpretação dos fatos”. Ou então, como diria o escritor, dramaturgo e jornalista Nelson Rodrigues (1912-1980), como reza a lenda: “Se os fatos são contra mim, pior para os fatos!”.

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