01 agosto 2012

Esperteza Julgada

Seja no âmbito dos municípios e estados, ou na própria esfera federal, a cooptação de parlamentares não é uma novidade. Pode ter fins específicos ou gerais do poder executivo. Aprovação de um projeto de lei, por exemplo. Ou, ambiciosamente, um projeto de poder prolongado. Haja vista a expressiva fragmentação da atual representação político-partidária, um projeto de médio-longo prazo demanda a formação de maiorias. Maiorias fisiológicas. Não ideológicas. E sua moeda de troca e compensação pode se dar através de liberação de emendas orçamentárias, aceitação de indicações partidárias e pessoais para cargos públicos, tráfico de influência, entre dezenas de hipóteses possíveis. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso foi acusado de formar uma maioria “comprada” de modo a obter a aprovação do direito à reeleição. Claro que o aprovado direito à reeleição também foi para prefeitos e governadores. Que podem, em tese, ter colaborado nos mesmos moldes para a formação da dita “maioria cooptada”. Também não esqueçamos o “mensalinho mineiro”. Mas o “mensalão petista” foi algo mais audacioso, mais estratégico. E, ao mesmo tempo, estúpido. A esperteza está sempre mais próxima da estupidez e da arrogância do que da genialidade. Típico caso em que os meios deveriam justificar os fins. Deu no que deu. Através de manipulação de gastos em publicidade governamental, licitações e contas bancárias fraudadas e drenagem de dinheiro público, trata-se um autêntico crime contra o sistema republicano, democrático e representativo. Em agosto de 2005, em rede nacional de TV, Lula disse que o seu governo e o PT tinham de "pedir desculpas”. E que se sentia "traído por práticas inaceitáveis, das quais não teve conhecimento”. Hoje, porém, Lula anda por aí dizendo que o "mensalão é uma farsa. E que nunca existiu”. Se for verdade que não existiu e que é tudo uma farsa, o que foi aquilo tudo que vimos na televisão, dia após dia, gravações após gravações, saques após saques bancários e milionários? E os relatórios da Policia Federal e do Ministério Público o que são? 50 mil páginas, tudo invenção, tudo criatividade? Nesse caso, se invenção e farsa, com tantos delegados de polícia e promotores públicos criativos e contadores de estórias e intrigas, como é que a gente ainda não ganhou o prêmio Nobel de Literatura?

Nenhum comentário: