11 dezembro 2013

Tenebrosas Transações

Quais são os limites sociais e políticos suportáveis de uma nação? O que machuca mais um povo: a espoliação tributária? A corrupção? As injustiças sociais? Os níveis de criminalidade? Ou o deboche das autoridades?

Essas hipóteses não são privilégio da época presente, nem marca exclusiva desse governo. É sina brasileira, quase uma maldição. Somadas ou alternadas, se repetem em diferentes ciclos, independentes de governos, representantes e partidos.

Claro que o povo contribui para esses fatos ao reconduzir eleitoralmente determinadas figuras aos níveis governamentais ou representativos. Historicamente, episódios não nos faltam. Nem nomes. Mas, concentremo-nos no deboche das autoridades

A própria justiça, que deveria ser exemplar, contribui com atos e fatos que extrapolam o deboche e humilham a nação. Mordomias, nepotismo, abusos de poder, aposentadorias precoces e compulsórias (para agentes em delito), entre outros casos.

O poder executivo, embora o mais vigiado de todos, e, portanto, mais flagrado em delitos, afinal, é o detentor e guardião (?) do maior volume de recursos público-financeiros, não cansa de contribuir com maus exemplos que desmoralizam e desanimam o cidadão e contribuinte bem informado.

No rol de escândalos nacionais, contribui na proporção dos níveis de intervenção estatal na economia e na vida das pessoas. Ignora que quanto maior a intervenção, maior a corrupção e o desperdício. A pretexto de um ufanismo e nacionalismo de museu somos seus reféns históricos.

O deboche tem variantes. Exemplo mais recente, a tal oferta de emprego ao agora apenado José Dirceu, ex-ministro e deputado e poderoso lobista, a base de R$20 mil mensais, em empresa relacionada à paraísos fiscais e à atos de “lavagem” de dinheiro, é ou não é um deboche?

Pior: queriam fazer crer que os anunciados R$20 mil realmente sairiam dos cofres do hotel? E agora querem fazer crer que o selecionado gerente não sabia de nada?

Felizmente, a imprensa não precisou mais do que uma semana para desfazer o castelo de cartas e elucidar os truques baratos dos mágicos de ocasião. Assim como já fizera com outros e anteriores governos e personalidades.

Atos que se configuram como deboches são bem piores que a espoliação tributária, a corrupção, as injustiças e a criminalidade. O deboche de governantes e demais representantes do povo “quebra a espinha dorsal” da nação e esvazia, paulatinamente, a esperança coletiva.

Chico Buarque já cantava (e denunciava) em “Vai Passar” (1984), mas hoje, infelizmente, não canta mais, nem sei por quê (ou sei?). Dizia: “Num tempo, página infeliz da nossa história, passagem desbotada na memória das nossas novas gerações, dormia a nossa pátria mãe tão distraída sem perceber que era subtraída em tenebrosas transações”


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