24 abril 2007

Yeda e o Homem Invisível

A governadora do estado pediu ao novo secretário de segurança pública que se mantenha “invisível”, na medida das possibilidades. Trata-se de um pedido de realização impossível.

Antecipo que não examinarei a questão do ponto de vista da fraqueza humana, relacionado a um dos sete pecados capitais, qual seja, a vaidade. Ainda que na política um pecado aceitável, eis que inerente ao meio e à “sobrevivência” do sujeito.

Mas o pedido refere-se a uma (in)visibilidade total ou parcial, relativa ou absoluta? Cabe esclarecer estas diferenças.

A “invisibilidade” pretendida deverá ocorrer relativamente aos níveis de visibilidade da própria governadora? Ou será relativamente aos demais secretários? Afinal, todos investidos e revestidos de profundas e iguais responsabilidades de gestão.

Mas o quê, realmente, determina o grau de visibilidade de uma autoridade pública? A personalidade da própria ou os fatos que lhe dizem respeito? Ou, ainda, as circunstâncias eventuais, positivas e negativas, que caracterizam a inconstância da prestação de nosso serviço público?

No caso em questão, me aparece óbvio que são os fatos e as atribuições da Secretaria da Justiça e da Segurança que determinam sua visibilidade.

O povo elegeu a segurança pública como seu maior drama e tem expectativa de soluções governamentais. Consequentemente, se compreende porque seus responsáveis diretos sejam objetos da mídia.

Como já estamos no fundo do poço mesmo, significa agregar que qualquer ato positivo se reveste de simpatia popular.

Bem, e quanto às demais secretarias, qual poderia mostrar-se capaz de disputar os holofotes da imprensa? Saúde? Provavelmente. Nem preciso justificar. Uma tragédia governamental. Educação? Pouco provável. Já não comove ninguém, contaminada pela desesperança.

Aliás, em relação a estas três tarefas públicas, diga-se, de passagem, a população reage diferentemente. E os governantes (e os políticos, em geral) na mesma proporção.

O desastre educacional não gera conseqüências políticas relativamente aos seus (ir) responsáveis porque o prejuízo não tem dimensão instantânea. Quantificável em número e (falta de) qualidade apenas gerações seguintes.

A saúde apenas comove aquele que diretamente envolvido, ou como profissional, ou como cidadão objeto de uma doença que exija a prestação de serviços públicos. Trata-se de uma indignação localizada e personalizada. Esvai-se com o tempo. Por isto não muda nada.

Já a demanda por segurança é diferente. Virou uma síndrome, uma epidemia, um contágio universal. Ainda que não diretamente atingido, o cidadão se sente potencialmente alvo fácil e imediato.

Antes de demitir algum próximo secretário, a governadora precisa compreender que são as particularidades das crises setoriais e as expectativas populares que determinam a intensidade dos holofotes.

Mas, e os holofotes na Governadora como ficam? Infelizmente, tocante aos papéis e responsabilidades da governadora é de se supor - a realidade indica - que poucas notícias positivas serão possíveis.

Notadamente relacionada às finanças e a incapacidade estatal de dar conta das demandas públicas, atuais, reprimidas e supervenientes, a crise (estrutural) perpassa a capacidade gerencial da governadora. Terreno árido e sem luzes!

Nenhum comentário: